É uma lixeira impecavelmente limpa, mas é uma lixeira. São alimentos, mas não completamente frescos – são maçãs tocadas, ervas ligeiramente passadas, comida que tinha como destino o lixo. É um restaurante, mas não como outro qualquer: é um espaço improvisado numa lixeira onde o momento da refeição é um ato de solidariedade e uma tentativa de consciencialização. A ideia é de Josh Treuhaft, um recém graduado estudante de Design, que criou um projeto que quer alterar a forma como os nova iorquinos encaram a comida e os desperdícios.

Os Salvage Supperclubs recuperam comida de fazendas, mercados de agricultores, restaurantes e mesmo cozinhas caseiras que, sem este fim, iriam para o lixo. Mas são alimentos viáveis que, com alguma imaginação do chefe, podem ser transformados em nutritivas refeições. “As pessoas não gostam de desperdícios. Acham ofensivo”, acredita Treuhaft, que começou por centrar a sua tese de mestrado em Design para a Inovação Social, na SVA, em compostagem e evoluiu depois para esta ligação entre comida e desperdício num projeto a que chamou Eat Everything. “Quando se fala de comida, o rosto das pessoas ilumina-se”, disse em conversa com o “The Wall Street Journal“.

“Aprendi, através de todos os meus protótipos, que é muito mais fácil levar as pessoas a mudar de atitude e de comportamento quando nos concentramos numa experiência positiva em vez de negativa. Concentrar-me em resíduos seria mais difícil porque as pessoas associam-nos a uma coisa ofensiva, pensam que desperdiçar menos é difícil e têm um sentimento de culpa por isso. Mas a comida é algo em que muita gente encontra alegria (seja cozinhando ou apenas comendo). Então comecei a pensar em formas de fazer as pessoas desperdiçar menos concentrando-se na comida em si e não nos resíduos”, explicou ao P3 o designer numa entrevista feita por email.

Na mais recente iniciativa, os participantes pagaram 50 dólares (cerca de 38 euros) por uma refeição de seis pratos – lucro que foi doado para a City Harvest, uma organização que providencia comida para quem mais precisa. O primeiro jantar do projeto aconteceu em março, numa refeição conjunta na instituição onde Josh estava a completar o mestrado, e o segundo no apartamento de um amigo. O processo era simples: com um email, o jovem designer convidava os amigos a levarem ingredientes que estivessem a passar de prazo ou a ficar menos frescos no frigorifico lá de casa – e com isso cozinhavam. A ideia foi evoluindo e, atualmente, são chefes profissionais quem criam as refeições.

Além de ter como objetivo educar os nova-iorquinos sobre o potencial de alimentos menos frescos, Treuhaft quer pôr a sociedade a falar sobre a fome no mundo. Até agora, os Salvage Supperclubs já “serviram 108 pessoas e salvaram 105 quilos de alimentos de irem para o lixo”, conta o jovem designer. Em 2010, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos revelou que 31% do abastecimento alimentar do país foi desperdiçado. No futuro, o projeto Eat Everything quer construir um site e aplicações móveis que permitam às pessoas fazer upload de imagens de comida “velha” e pedir ajuda de especialistas para reutilizar esses alimentos, partilhar receitas e conhecer outras pessoas.