Depois de debates e apresentações, acordos e desacordos, no fim não restaram dúvidas: a Ciência quer-se multidisciplinar e este foi um conceito subjacente a todos os oradores que, esta terça-feira, discutiram o futuro da Ciência em Portugal, a partir do auditório do Ipatimup.

A “festa”, como o evento foi apelidado, era de Maria de Sousa, professora catedrática no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), que apresentava a sua mais recente obra, “Meu Dito, Meu Escrito”. Uma obra sobre os “futuros e desafios na Ciência” que foi o mote perfeito para “ouvir os novos com ouvidos cansados” ou até dar vida a “um encontro de velhos e novos sangues para a continuidade da estrutura de um país científico”.

Um país do qual “só nos orgulharemos” se continuar “na marcha da ciência e da investigação” e as “transformar em inovação”, afirmou Artur Santos Silva, atual presidente da Fundação Calouste Gulbekian. Um país que “só terá futuro se aprender com a sua história”. E lembra: “O nosso período de glória foram os descobrimentos. Planificávamos a ciência e a tecnologia e éramos os melhores”.

Hoje não somos os melhores, ainda que haja gente “que produz muito bem”, um “número de investigadores por mil pessoas ativas muito superior à média europeia” e o facto de Portugal ser “um dos países que mais investe em Educação”, esclarece Luís Portela, presidente da Bial.

Há que “aliar a Ciência à Economia” e gerar “riqueza real”

De facto, “têm criado grande riqueza nos institutos. Mas uma riqueza de conhecimento e não uma riqueza real”, afirmou. “Patenteamos 17 vezes menos que a média europeia” e não há “país nenhum capaz de sustentar este investimento em Educação e Ciência se não transformar conhecimento em riqueza real. Quando é que o país vai perceber isso é que é dramático”, sublinha.

A solução? “Aliar a Ciência à Economia”, com a segunda a “ombrear” a primeira. Como? Reforçando “incentivos às atividades de transferência de tecnologia” e levando mais investigadores às empresas, “que introduzam inovação nos produtos”. É que em 2010, “apenas 2,6% dos doutorados estavam empregados em empresas”. Um número elucidativo quando comparado com os 17% na Europa ou os mais de 30% nos Estados Unidos.

Luís Portela, que diz ter “uma grande admiração pela Ciência que se faz em Portugal”, não esquece ainda a necessidade de uma maior seletividade no financiamento das unidades de investigação. “Portugal só tem condições para apoiar os melhores (e não falamos só de notas) e deve haver coragem política para deixar cair os que produzem menos ou com menos qualidade”.

Falou ainda de “créditos fiscais” e incentivos à oferta de capital de risco, da aproximação de universidades e empresas e do apoio à internacionalização. O investimento no Estado, diz, sabe que “não é possível aumentar, mas que também não diminua”. Para o contornar, institutos e cientistas devem começar a “procurar apoios de Bruxelas, porque a Ciência não tem fronteiras” e a tentar “atrair pessoas e empresas ao mecenato”.