Carla Oliveira não exige muito: “Só quero fazer Ciência de excelência e ter condições para o fazer”, afirma. Condições tão básicas como “um salário garantido”, que lhe permita estar no laboratório concentrada no que está a fazer e não a pensar como vai pagar as contas daí a algum tempo. Sugere a atribuição de “bolsas de médio prazo” para evitar o limbo e a precariedade em que as bolsas atuais colocam os investigadores.

Vital é também “chegar à comunidade e mostrar que” os investigadores são “precisos”, afirma. Afinal, diz, “os portugueses são excelentes cientistas e vencem se lhes derem a oportunidade”.

“Os portugueses são excelentes cientistas”

Com experiência académica e profissional em quatro países, sabe do que fala e acredita que os investigadores portugueses “só voltam se não aguentarem as saudades”, tais “as condições” que lhes oferecem lá fora. Mas tem pena. Afinal, Portugal investiu nela e “continua a investir nas pessoas”.

Miguel Soares, do Instituto Gulbenkian de Ciência, subscreve Carla: “Portugal produz conhecimento de excelência”. Mas também tem “grandes problemas”. Um deles, o financiamento. Não há dinheiro “para expandir ou manter esta comunidade científica” e “ou há uma decisão política para mudar isso ou é impossível continuar”, afirma.

Para Carla, os institutos deviam ter mais “poder executivo” e devia evitar-se a estagnação. Por isso acredita ser necessário incentivar a mobilidade – não só internacional, mas cá dentro também – para criar desafios e impedir a acomodação. A “avaliação do pessoal” é outra necessidade crucial e “há que valorizar os que contribuem para o esforço coletivo”.

“As pessoas são a alma das instituições”

Um espírito ou “conceito de comunidade” que Carla ambiciona e com que Albino Maia, do Instituto Champalimaud, concorda. “A ciência não pode ser um nome aqui e outro ali”, afirma. O investigador, formado em Medicina, quis fugir “às listas formatadas para se ver um doente” e ambicionou “poder ser imaginativo”. A Ciência deu-lhe isso. Portanto, “a liberdade de se implementar o que se está a pensar”, “sem encomendas”, é uma das coisas que mais valoriza.

“As pessoas são a alma das instituições, não meros recursos”, sublinhou João Relvas, do Instituto de Biologia Molecular e Celular. É nesse sentido e na procura da “multidisciplinariedade” que tem de se caminhar. “A Ciência ganha” com o surgimento de “novos saberes”, garante.

E como “a Ciência deve ser aquilo que os melhores cientistas querem que ela seja”, Bruno Silva, do Instituto de Medicina Molecular (IMM), apresenta a fórmula de sucesso para se sentir realizado na investigação: “Liberdade” – reiterando Albino -, os serviços e o material necessários – porque, citando Maria de Sousa, “não há Saramagos na Ciência”, em que um computador basta para chegar ao Nobel -, estar rodeado de “grupos de investigação de grande qualidade”, e por fim, o financiamento. Pediria à instituição, garantidos, o salário e uma ajuda inicial – a que chama de “bridge money”. O resto, enquanto group leader, quer ver-se desafiado a conseguir.

O debate aconteceu esta terça-feira, 30 de setembro, no evento de lançamento do novo livro de Maria de Sousa, “Meu Dito, Meu Escrito”, no Ipatimup, que aproveitou para colocar alguns dos nomes mais sonantes da Ciência a discutir o futuro e os desafios da área em Portugal.