É uma oficina porque lá criam-se coisas. E é um café onde se espera que as pessoas sejam um bocadinho criativas. Mas é uma oficina com um café ou um café com uma oficina? A arquiteta Rute Loureiro, 28 anos, inaugurou em outubro a Oficina – Café Criativo, um espaço que combina uma oficina “viva”, com uma loja e uma cafetaria e que possui uma componente artística aliada a uma preocupação social e ambiental.

A Oficina – Café Criativo está localizada em plena rua da Torrinha, na rua das antiguidades e do mobiliário vintage e ocupa um local que foi outrora a sede do Bloco de Esquerda, no Porto. Assim que entramos neste espaço deparamo-nos com a oficina, toda ela envidraçada, para que possamos ver como tudo acontece.

A ideia para o projeto surgiu em Londres, em 2013, quando Rute foi a uma loja de artigos de costura que vendia entre outras coisas cupcakes e café, uma experiência que a marcou e que aliada à sua paixão pela reciclagem de mobiliário, a fez pensar num conceito semelhante para a cidade granítica. “Fui lá porque ia a uma loja de costura e não comprei nada, mas sentei-me a beber um café”, conta Rute Loureiro ao P3.

Tudo começa com a reciclagem de mobiliário

A arquiteta compra o mobiliário a instituições de solidariedade e sempre que vai aos armazéns analisa a sua potencialidade, independentemente da sua composição. Pintura, decape, aplicação de têxteis, decoupage, envernizamento e enceramento, são as técnicas mais utilizadas pela arquiteta, que trabalha com aquilo que o mobiliário tiver. As tintas usadas são à base de água e com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis. “Tenho uma preocupação ambiental, evito utilizar coisas que contenham diluentes, por norma é tudo à base de água”, refere Rute, que já lançou duas linhas de mobiliário reciclado, a “Preto e Branco” e a “Oficina” – os preços variam entre os 30 e os 300 euros.

Tudo começa com a reciclagem e com a personalização de mobiliário. Cada pessoa pode levar o seu móvel e pedir para que o personalizem como quer ou então pode ser ela mesma a personalizar o seu móvel. “Estes móveis têm muito valor pois são únicos e são feitos para um determinado espaço e com um determinado propósito”, sublinha a arquiteta. Estima-se que os workshops de reciclagem de mobiliário comecem em novembro (vão custar entre 30 e 80 euros, dependendo da duração).

O objetivo é, de acordo com Rute, inspirar as pessoas ao proporcionar-lhes uma experiência única, através da qual possam fazer parte de um processo criativo enquanto tomam um café. O espaço funciona de segunda a quinta, das 11h às 21h30, e de sexta a sábado, das 11h às 00h.

A criatividade como fio condutor

No percurso até à cafetaria passamos pelas zonas de exposição de fotografias, onde estão expostas as imagens dos arquitetos João Pedro Esteves e Ricardo Forna, pela loja onde estão à venda peças de mobiliário ali recicladas, peças de joalharia contemporânea da Wek feita pela Telma Oliveira com fio atadeiro e produtos tradicionais portugueses com um toque de design.

A cafetaria é composta por mobiliário personalizado e reciclado pela arquiteta e conta com menus que integram os produtos que estão à venda na loja, como, por exemplo, as conservas que estão integradas nos menus dos petiscos, os patés, as batatas fritas e degustações de azeite e de enchidos. Tem ainda tomadas disponibilizadas e Internet gratuita.

O espaço exterior, para além de ser dedicado aos que fumam e aos que querem passar tempo ao ar livre, estima-se que um dia será utilizado, tal como todo o espaço, para a realização de eventos, festas de aniversário e workshops.

A criatividade é o fio condutor deste espaço minimalista, que se destaca através de um ar industrial, as condutas de ar que já estavam presentes no espaço, os fios de eletricidade, as lâmpadas e o tubo de incêndio, por exemplo, foram assumidos pela arquiteta, porque numa oficina nem tudo é perfeito.

A Oficina – Café Criativo pretende dar valor ao que aparentemente já não o tem e estimular através de cores e formas a mente dos que a visitam.