Um filme que começa em Bertolt Brecht e na crise de 1929 e acaba em todos nós e nos dias de hoje, de austeridade e de Europa em mudança. Depois de “Baal” e “A Ronda da Noite”, João Sousa Cardoso escolheu “A Santa Joana dos Matadouros” para mais uma “experiência cinematográfica” com mesma equipa criativa, conta, em entrevista ao P3.

É um filme sobre “o desemprego, a emigração, a precariedade generalizada”, gravado numa “ruína industrial”, onde se fala do “inóspito” mundo do trabalho. E, “fiel aos princípios mais desconfortáveis que Brecht propunha para a criação teatral”, concretizado por atores profissionais, amadores, artistas, pessoas comuns, “gente da cultura erudita e pessoas que todos os dias lutam pela sobrevivência” – a produção foi ao Instituto de Emprego e Formação Profissional recrutar pessoas para integrarem o elenco.

Na primeira semana de outubro, os portões abriram-se e o público foi convidado a espreitar a rodagem; agora, o filme encontra-se em pós-produção, tendo contado, durante todo o processo, com “financiamentos modestos” da Câmara Municipal do Porto e Reitoria da Universidade do Porto e patrocínios em bens. “Toda a equipa está a trabalhar a título voluntário”, sublinha o realizador. Afinal, também é um filme sobre “o trabalho duro, coletivo, sem rede que é fazer-se um filme inteligente, com poucos meios, nos dias de hoje, em Portugal”.