A ideia do Melus começou por ser concebida em frente a um computador há cerca de dois anos. Atualmente, já é um projeto estruturado e sólido com “um conjunto de produtos e serviços acoplados que permitem maximizar a produção pela venda de produtos adaptados às necessidades do produtor. Por exemplo, uma pessoa que quer produzir determinado cogumelo tem aquele substrato disponível e nós, através de diversos testes de laboratório, conseguimos aperfeiçoar o cogumelo ao substrato”, explica Óscar Pinto, um dos criadores do projeto.

Para a otimização das estirpes, este dois microbiólogos não visam para já a manipulação genética, mas antes a utilização de programas de hibridização. “No caso de uma determinada substância que nós sabemos que é mais produzida no micélio – uma espécie de raiz do fungo – do que no corpo de frutificação – que é o cogumelo em si – nós somos capazes de usar essa estirpe para retirar essa substância”, conta.

1. O protótipo

O primeiro protótipo do projeto vai ser apresentado já desta quinta-feira, 20 de novembro, a 23 na Feira Internacional de Lisboa, no âmbito do Portugal Agro. Este primeiro protótipo baseia-se em dois produtos: um fardo com cerca de 20 quilos e um bloco com cinco quilos, servindo cada um para um tipo de cogumelo diferente.

Neste momento, Óscar e Simão estão a trabalhar com dois tipos de cogumelos: o Pleurotus ostreatus e o Shiitake. Este último, além do valor gastronómico, tem importantes aplicações na medicina, nomeadamente na estimulação do sistema imunitário. No entanto, pelo facto de os mercados exigirem maior diversidade, estão “a fazer um esforço em conjunto com potenciais produtores para diversificar a oferta”. “Contamos ter cerca de 14 espécies diferentes”, afirma Óscar.

A “tecnologia” do Melus (ver caixa 1.) aumenta a produtividade em quatro vezes relativamente aos meios tradicionais de produção e diminuem o preço da matéria-prima. “Comprar um tronco inoculado custa à volta de 200 euros a tonelada. Nós estamos a contar que o preço seja mais baixo do que isso cerca de 20% e isso são só vantagens para quem quer produzir”, explica Óscar.

Em termos de cogumelos, é “como se vivêssemos na Idade Média, comparado com o que se faz lá fora”

O reconhecimento gradual das características benéficas destes fungos tem conduzido a um aumento do consumo e, consequentemente, a um aumento da produção. Atualmente, o volume de negócios em torno dos cogumelos gourmet e medicinais representa, por ano, cerca de três mil milhões de euros em todo o mundo.

Em Portugal, a produção de cogumelos movimenta cerca de cinco milhões de euros por ano, sendo o cogumelo “um produto bastante exportável e com grande aceitação, sem problemas de escoamento”, assegura Óscar.

2. Uma produção sustentável

Este projeto traz também benefícios para o ambiente, comparativamente à utilização de troncos. “Para produzir este produto, pode-se usar apenas resíduos de cortes de poda, de desmatamentos ou resíduos de outros subprodutos vindos de outras atividades, o que constitui uma grande vantagem. É que para além de não ser necessário deitar árvores abaixo, existe a chamada reutilização desses produtos”, assegura.

Afinal, “o cogumelo é um produto que tem um potencial enorme” e “Portugal reúne boas condições para a sua produção”: primeiro, “graças ao património genético que existe”; segundo, “por termos um clima não muito agressivo, que faz com que custos importantes relativos à produção sejam menores”, explica.

Contudo, “a exploração do desenvolvimento da genética não existe em Portugal. Portugal, neste caso, é uma espécie de país recetor, em que mandamos vir a semente, produzimos o cogumelo cá e depois exportamos”, relata. E este nicho de mercado, apesar da tradição – fundamentalmente no interior do país – e de importantes recursos ecológicos, possui ainda pouca tecnologia envolvida. “É como se vivêssemos na Idade Média, comparado com o que se faz lá fora, na Holanda e na Bélgica, por exemplo. E nós queremos trazer isso para Portugal”, conclui.

“É preciso deixar as ideias mais loucas tornarem-se em algo concreto”

No entanto, este microbiólogo de 31 anos, no entanto, lamenta o facto de as pessoas não terem um incentivo maior para concretizarem as suas ideias. “É preciso deixar as ideias mais loucas tornarem-se em algo concreto. Muitas vezes, o que é preciso é, depois de apetrechar as pessoas com o conhecimento, deixar a coisa dar fruto”.

Para o futuro, espera passar de uma “sala de laboratório mais ou menos improvisada para uma coisa maior e mais profissional. Seria bom colaborarmos todos, de modo a tornar aquilo que se fala de uma agricultura em Portugal uma realidade e não apenas uma fantasia”, conclui.