André Araújo não se lembra de quando começou a gostar de banda desenhada. Desde de que se recorda é apaixonado tanto por “banda desenhada como por desenho”. Começou por ler Pato Donald, o seu favorito em criança. Seguiu-se Astérix e Obélix, Tintin “e também Homem-Aranha”. Mais tarde, descobriu “coisas mais adultas da banda desenhada europeia” e o mangá. Em conversa com o JPN confessou: “Leio de tudo. Desde que seja bom, é-me indiferente”.

André formou-se em Arquitetura na Universidade do Minho. Trabalhou um ano como arquiteto, “mas o emprego acabou” e aproveitou a oportunidade para “investir mais a sério na banda desenhada”. Graças a um contacto que tinha com a Marvel, entrou no mercado da banda desenhada americana, com a série Avengers A.I., na qual colaborou com Sam Humphries.

O que é que o fez abandonar o trabalho que tinha na área da arquitetura para se dedicar à banda desenhada?

Havia pouco emprego, não é? Cheguei a trabalhar um ano como arquiteto ainda, mas o emprego depois acabou e, como não havia grandes hipóteses e eu sempre quis banda desenhada… Comecei a investir mais a sério na BD no fim do curso. Mal acabou o curso, ou melhor, quando estava a acabar, eu comecei a tentar publicar. Até lá ainda não tinha tentado. E, depois, como estava a tentar publicar ao mesmo tempo que trabalhava como arquiteto e à procura de mais emprego, dado que fiquei sem emprego acabei por apostar tudo na banda desenhada. Tinha um contacto com a Marvel já na altura e foi muito por aí. Era uma coisa que sempre quis fazer.

O que é que mais gostou desta experiência de trabalhar para a Marvel e com o Sam Humphries?

Acima de tudo colaborar com o Sam, porque, basicamente, não tínhamos liberdade para fazer tudo o que quiséssemos, visto que as personagens da Marvel têm certas coisas que é preciso manter. Mas houve espaços em que tivemos possibilidade de fazer e isso foi bom para nós.

É uma área com muita liberdade criativa?

Total, sim, dependendo do livro. Mas, neste momento, por exemplo, estou a fazer um livro de autor e a liberdade criativa é total. Não tenho qualquer tipo de restrição.

Man Plus, não é verdade?

Exato.

O que é mais espera conseguir alcançar com este trabalho em particular? É o seu primeiro trabalho próprio enquanto autor a ser publicado.

Sim. O que eu espero, acima de tudo, é identificar-me melhor como autor e dar-me a conhecer melhor como autor, isso é o que eu queria mais fazer. Porque nos livros da Marvel, que eu gosto muito de fazer, apesar de tudo, tenho as restrições do ter que trabalhar com personagens que não fui eu que criei, ter que seguir certas linhas editoriais, por vezes. Aqui posso fazer o que quero.

E que spoilers é que nos pode dar sobre a sua nova história?

É um livro de ficção científica. Pode-se classificar como cyber punk, é uma espécie de um thriller, um livro de ação, mas que também tem base no mestrado que eu fiz enquanto arquiteto, ainda na Universidade do Minho. Porque eu estudei a ideia de arquitetura como instrumento de extensão do corpo humano, a ideia é essa. E é um bocadinho o que nós vemos todos os dias, as pessoas usarem o telemóvel para estarmos ligados a toda a gente, todo esse tipo de pormenores.

Sente que estas suas bases que vieram da arquitetura e este seu fascínio pela relação entre o homem e a máquina estão sempre muito presentes nos trabalhos que faz?

Sim, estão. O curso deu-me muita capacidade de trabalho, deu-me muitas coisas diretamente e indiretamente também, para eu poder fazer o que faço e ter começado logo da maneira que comecei e a trabalhar para a Marvel. E, mesmo a tese de mestrado, neste caso em particular, por ser um trabalho específico, tem especial influência no trabalho que estou a fazer agora, porque foi toda uma pesquisa que ficou feita e, agora, praticamente, apareceu sozinha.

Acerca da Comic Con: acha este evento surpreendente em Portugal, tendo em conta que o país tem um mercado relativamente pequeno quando comparado com o resto do mundo?

Sim, não fazia ideia que ia aparecer. E quando vi fiquei surpreendido, mas de uma forma agradável, por ver que iam fazer aqui um evento muito semelhante ao norte-americano. Ainda por cima eu vim há pouco tempo de Nova Iorque, da “New York Comic Con”, e saber que iam fazer aqui uma coisa parecida, eu que já vi lá como é que é, fiquei muito agradado. Porque acho que não tínhamos nenhum evento aqui assim. Temos alguns de BD importantes, o de Beja, o da Amadora, em Lisboa, entre outros, mas deste género ainda não tínhamos visto nenhum, e com esta dimensão sequer.

E o que é que espera deste evento?

Eu tive a oportunidade de falar com os organizadores do evento, eles convidaram-me, tivemos uma conversa e eles estiveram a explicar-me todo o evento e posso dizer que será muito bom, mesmo. Porque eles estão pôr um nível muito alto, estão a trabalhar muito, estão a trazer muitos convidados importantes, muitos nomes, que nós costumamos ter aqui em Portugal, um ou outro de vez em quando, mas, desta vez, vêm muitos de uma só vez e de várias áreas. Por isso, acho que vai ser um evento com qualidade.