Eva Dominguez, professora na Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, e especialista em jornalismo imersivo, foi a primeira conferencista na tarde do último dia do IV Congresso Internacional de Ciberjornalismo (COBCIBER), que, durante quinta e sexta-feira, decorreu na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Jornalismo imersivo foi o tema da conferência.

A investigadora apresentou conclusões do que desenvolveu durante a sua tese de doutoramento sobre o jornalismo imersivo, que diz ter sido ajudada pela experiência enquanto jornalista e pelo facto de o ter sido em vários suportes, não apenas enquanto ciberjornalista.

Segundo Dominguez, é errada a ideia “de que o ciberjornalismo é apenas a evolução da imprensa”. Pensa, sim, que “a Internet é uma plataforma que permite levar além todos os meios de comunicação jornalística”. “O jornalismo imersivo é mais do que simples interatividade. Tem como objetivo fazer as pessoas sentirem-se parte do acontecimento, vivenciarem-no sem serem meros observadores”, considera.

Tecnologia de realidade virtual e fotos a 360 graus são os principais meios do jornalismo imersivo, acompanhados por um som ambiente que permita a pessoa sentir-se no acontecimento. A “possibilidade de fazer coisas” (agency) e a “sensação de presença” (being there). O newsgaming é uma das grandes expressões do jornalismo imersivo na Internet. Criar uma narrativa semelhante a um videojogo, em que quem joga pode tomar decisões e observar na primeira pessoa a situação de que, noutro caso, só saberia o relato.

Exemplos de jornalismo interativo

Le Mystère de Grimouville
Offshore
Hollow Documentary
Storming Juno

A conferencista aproveitou para mostrar vários destes jogos, como “Journey to the End of Coal“, que reporta a história dos mineiros chineses que sofrem todos os dias nas minas de carvão e que estão nos bastidores do crescimento económico do país.

Eva Dominguez diz que ainda estamos no início deste tipo de jornalismo, mas que com a evolução dos aparelhos de realidade virtual, entre outros acessórios, esta tecnologia se irá “tornar automática”. John Pavlik, o maior nome deste congresso, elogiou o trabalho de Eva Dominguez, dizendo que este o fez “querer parar de ver as notícias e começar a vivê-las”.

Neil Thurman: “Talvez as notícias devessem ser tratadas como um evento em direto”

No último dia do IV COBCIBER, Neil Thurman, professor e investigador da City University of London, no Reino Unido, marcou presença e abordou a temática “live news” e a importância da verificação e da credibilidade neste formato jornalístico.

“Como pode o jornalismo manter a qualidade com tanta informação em tão pouco tempo?”. Esta foi a questão principal na palestra de Neil Thurman, intitulada “Velocidade, fontes e as justificações: riscos e oportunidades na reportagem online em tempo real”, em que destacou a crescente evolução da reportagem “em direto” no meio online e abordou os riscos e oportunidades que tal formato carrega.

“O novo ciclo de notícias parece ser mais rápido”, afirma Neil Thurman. A globalização, os smartphones e as redes sociais têm, hoje, um papel fulcral na divulgação de notícias, que são partilhadas “minuto a minuto”. A audiência “parece aceitar as notícias em direto como um novo formato” e passa cada vez mais tempo a consultá-las neste tipo de registo.

Contudo, tal como o orador explica, “o aumento das notícias em direto também faz aumentar os riscos e oportunidades”, principalmente a credibilidade e a qualidade dos factos que, neste formato jornalístico, vêm de fontes como usuários do Twitter. Foi, assim, destacada a importância da participação do utilizador e consumidor de notícias, apesar de ser “algo difícil para os jornalistas aproveitarem da melhor forma as contribuições dos leitores” com o tempo disponível nas live news.

Neil Thurman afirma, porém, que este tipo de formato ainda está a ser experimentado e adaptado aos jornalismo do presente e que, com as ferramentas certas, pode vir a ser um formato mais recorrente e popular.