O Cine Teatro Garrett, na Póvoa de Varzim, recebe, a partir desta quarta-feira, a 16.ª edição do Correntes d’Escritas. O primeiro dia do evento literário contou com a apresentação da Obra Completa do Padre António Vieira, do Círculo de Leitores. A coletânea, encabeçada por José Eduardo Franco e Pedro Calafate, demorou dois anos a ser finalizada e exigiu um minucioso trabalho de investigação e localização de escritos por todo o mundo.

Os trinta volumes foram tornados possíveis com a participação de 52 especialistas portugueses e brasileiros. Neles estão contempladas cartas, sermões, textos proféticos, escritos políticos, escritos sobre os judeus e os índios e poesia e teatro. Para a realização da Obra, foi feita uma vasta pesquisa em arquivos no Brasil, Espanha, França, Itália, México e Inglaterra.

O Padre António Vieira, símbolo do barroco literário português, foi também defensor da tolerância de diferenças e da busca do conhecimento. Pedro Calafate, historiador e professor catedrático da Universidade de Lisboa, afirma que a Obra, nomeadamente as cartas são a expressão do “caráter labiríntico do mundo do século XVII” e da “ousadia de querer ir mais além, de suplantar a própria História”.

José Eduardo Franco, historiador e diretor do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), explicou a importância da coletânea na literatura portuguesa, pois é “uma obra atualizada, com notas explicativas, que o grande público consegue ler”.

Para a concretização deste projeto, foi essencial a contribuição de João Francisco Marques. O historiador e antigo professor do departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) trouxe à obra o seu conhecimento de cultura e de religião e a vontade de realizar um sonho de há muitos anos.

A obra do Padre António Vieira são parte fundamental da literatura portuguesa e, desde os anos 60, já foram feitas 1000 teses de mestrado e doutoramento sobre os seus textos. Esta coletânea reúne, 400 anos depois do seu nascimento, todo o seu espólio e funciona, segundo João Francisco Marques, como “um guião de explicação”.