Em 1990, nascia um novo periódico entre os meios de comunicação social portugueses, cujos fundadores vinham diretamente de um grupo de jornalistas do semanário Expresso. A necessidade de equiparar o jornalismo de referência do semanário a um formato diário era algo desejado, numa época em que os jornais populares e sensacionalistas dominavam a imprensa. A lufada de ar fresco do Público surgia num “panorama envelhecido, tradicional e chato da imprensa diária portuguesa”, como classifica Joaquim Fidalgo, um dos fundadores do jornal. O jornalista colaborou até 2001 no Público e não duvida que a experiência da equipa fundadora foi uma mais-valia e uma das garantias de que o projeto seria bem-sucedido.

O processo de preparação e consolidação do então novo jornal revelar-se-ia estimulante, mas longo. O timing da Guerra do Golfo apresentou-se como uma oportunidade para o Público provar que conseguiria cobrir um acontecimento desta dimensão. A sorte infeliz da guerra garantiu “o impulso de que o Público precisava”, como explica Joaquim Fidalgo.

Tal como todos os projetos inovadores, existem riscos e percalços aquando do lançamento de uma primeira edição. O jornal que deveria ter saído a 2 de janeiro de 1990 chegou apenas a 5 de março às bancas. Os problemas técnicos e a precaução ditaram este início atribulado, contudo, a vontade de fazer jornalismo prevaleceu.

Joaquim Fidalgo olha para o seu trabalho no Público como uma “aventura”, e quando é altura de dar uma opinião sobre o presente, o jornalista prefere declarar que “os jornais são muito aquilo que as pessoas fazem deles”. “O Público que existe hoje é, em muitos aspetos, muito diferente daquele Público inicial”, remata o jornalista.

A missão de mudar paradigmas

Fernando Veludo, fotojornalista e membro fundador do Público, não deixou de relevar a mudança de paradigmas que o jornal implementou em 1990. A passagem de um “jornalismo institucional” para um jornalismo mais ativo e de terreno foi a grande inovação. Quando se trata da sua área de eleição, Fernando Veludo explica a existência de duas eras no fotojornalismo: “antes Público” e “depois Público”. Um novo olhar definiu o trabalho fotográfico no novo átomo da imprensa portuguesa, sendo que o papel do fotojornalista cresceu e sedimentou-se em Portugal com a ajuda deste jornal.

Hélder Bastos, professor universitário de Ciências da Comunicação na Universidade do Porto, reconhece que, apesar do número baixo de vendas, o jornal continua a marcar a diferença e que o público perderia caso o “Público desaparecesse por alguma razão”. Os jornais concorrentes encararam com alguma surpresa o aparecimento de um novo periódico, que dedicava um enfoque distinto a certos temas, com os quais não conseguiam competir.

“Os tempos de ouro” do jornal desvaneceram. No entanto, a aposta em temas como a Cultura ou a Economia é permanente e as notícias em primeira mão, como a recente peça sobre as dívidas do primeiro-ministro à Segurança Social, mantêm o propósito do jornal criado em 1990 e agora com 25 anos: a prossecução do jornalismo de referência.