Esta semana, os media portugueses viraram as atenções para o caso de Carolina Tendon, uma jovem com 22 anos que morreu subitamente com uma embolia pulmonar. A família está convencida de que a causa da morte foi a pílula que ela usava, graças a um relatório da Unidade de Farmacovigilância do Sul: “A relação causal entre o medicamento suspeito e a reação adversa ao medicamento notificada foi classificada pelo perito clínico como possível, por se tratar de uma reação adversa descrita no resumo das características do medicamento e por ter uma relação temporal bem estabelecida”.

A verdade é que não existem medicamentos isentos de riscos e as mulheres são levadas a tomar uma decisão sobre as vantagens e desvantagens que querem assumir. Assim, a decisão sobre o ou os métodos contraceptivos a adoptar não deve ser tomada sem acompanhamento. É necessário discutir o tema com médicos e estar a par de todas as contra-indicações. Existe mais do que uma alternativa para a contracepção e deve ser escolhido o método adequado. Segundo a Associação Para o Planeamento da Família (APF), “o sucesso em contracepção depende de uma decisão voluntária e esclarecida sobre a segurança, eficácia, custos, efeitos secundários e reversibilidade dos métodos disponíveis”.

A pílula contracetiva é um método que, através da ação hormonal, inibe a ovulação evitando a gravidez. A pílula deve ser prescrita nos casos em que se pretende um método contraceptivo eficaz e se pretenda obter outros efeitos benéficos para a saúde, indicados como vantagens. A mulher deverá ser acompanhada periodicamente por um médico.

Existem as pílulas de tipo combinado (COC) que contêm estrogéneo e progestagéneo. Existem ainda pílulas que contêm só progestagéneo (POC), que devem ser receitadas caso o estrogéneo não seja recomendável. Caso a pílula seja tomada correctamente, o seu nível de eficácia é elevado. Claro que existem vantagens e desvantagens. Existe um elevado grau de segurança na prevenção da gravidez mas não protege conta as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).

Mas existem outras vantagens e contra-indicações. O JPN foi falar com quem toma ou não toma a pílula por opção e ainda com dois profissionais de saúde.

As consequências do futuro

Mariana Sousa, de 20 anos, não toma a pílula por “escolha própria”. No passado foi-lhe recomendada a toma da pílula pelo médico, para regularizar a menstruação e para atenuar a acne. Passados alguns anos mudou a marca da pílula que tomava, porque a anterior tinha sido banida do mercado (Diane 35). Mais tarde, por razões contracetivas, voltou a mudar, mas sentiu sempre desconforto e inchaço. Foi fazendo algumas pausas na toma da pílula e chegou à conclusão que já não precisava de a tomar porque tinha conseguido resolver os problemas relacionados com a menstruação e com o acne. Desde há um ano que não tem tomado a pílula porque assume que “é um químico para o nosso corpo” e que agora “se sente muito bem”.

Relativamente à contracepção, Mariana afirma que “o preservativo é uma escolha acertada, porque além de nos proteger contra as doenças sexualmente transmissíveis, não é necessário estar a ingerir nenhuns químicos e que usado com os devidos cuidados é um método muito bom”.  Mariana sente que “as mulheres hoje em dia já utilizam a pílula como se fosse uma rotina” e que a pílula “torna mais fácil as suas vidas”. A questão é que “julgam que não se tem de preocupar com mais nada”, mas que não é bem assim, porque “elas não se estão a preocupar com as consequências no futuro”. Se refletirem bem, “os contras são muito mais pesados do que os prós”, afirma.

Quando as vantagens “pesam mais”

Já Rita Sousa, de 18 anos, toma a pílula regularmente. Utilizada como método contracetivo e para “atenuar as dores da menstruação”, Rita não considera prudente tomar a pílula sem consultar, previamente, um médico ginecologista, já que os efeitos desta dependem muito “do tipo de pessoa, do metabolismo de cada um”.

Esta disparidade de efeitos pode ser uma das razões na origem da recente polémica associada ao uso da pílula. Rita acha que o caso noticiado “é uma história entre muitas, há muita gente que usa a pílula e não lhes acontece nada”.

É por esta razão que não equaciona parar com a pílula, já que, na sua opinião, os efeitos secundários existem, mas “as vantagens são mais do que as contra-indicações”.

A perspectiva de quem trabalha na saúde

Para a enfermeira Isabel Cunha, a pílula é um “método contraceptivo bastante eficaz” e, por isso, concorda com o seu uso quando a mulher não pretende engravidar. Para as jovens que iniciem a vida sexual, a enfermeira aconselha a toma da pílula, “para que não haja o risco de gravidez indesejada”. Acrescenta ainda que o ideal seria que a escolha do método, “fosse acompanhada por um médico e enfermeiro da área de planeamento familiar”.

Porém, Isabel Cunha admite que se” houver a possibilidade de evitar o consumo da pílula, seria melhor, uma vez que há sempre riscos subjacentes”.

Já a enfermeira Márcia Brandão considera que as complicações de saúde derivadas à toma da pílula acontecem “muitas vezes”. Contudo, admite que a pílula, um contraceptivo oral, é uma das principais “ferramentas que as mulheres têm para o planeamento familiar, se querem ou não ter filhos”.

Segundo Márcia Brandão, a este método estão ligados sérios efeitos secundários. Uma vez que é um contraceptivo oral combinado, ou seja, é constituído por várias hormonas, “não deve ser tomado em várias condições”. Assim, explica que é necessário fazer-se um historial médico, normalmente feito num centro de saúde, onde se deve ver se a mulher tem antecedentes trombóticos ou outros problemas.

Há casos onde estas situações médicas podem ser retrocedidas e não ter consequências, mas podem também surgir consequências graves, como a morte da pessoa. A profissional de saúde diz que nos casos de mulheres com problemas de saúde e, se estas estiverem a usar a pílula, a solução é parar de imediato, ou seja, “fazer a sua descontinuação”. A profissional lembra que fumar também pode fazer aumentar os riscos de saúde na toma da pílula.

Apesar da enfermeira indicar a pílula como contraceptivo, Márcia Brandão explica que para as pacientes que tenham antecedentes médicos a nível cardiovascular e, até para as que não tenham, o método ideal será o DIU. Este método é eficaz na prevenção da gravidez e não é hormonal, não havendo praticamente riscos existentes.

Além da contracepção hormonal

Além da contracepção hormonal existem outros métodos como o DIU (Dispositivo Intra-Uterino) não hormonal,  que é um pequeno dispositivo de plástico revestido com fio de cobre que é inserido no útero. O DIU impede a gravidez através da alteração das condições uterinas e funcionando também como uma barreira aos espermatozóides. A inserção é feita numa consulta médica, podendo permanecer no útero durante vários anos. A principal desvantagem do DIU é não proteger conta as IST (Infeções sexualmente transmissíveis). Pode também aumentar o fluxo menstrual, provocar dor pélvica e provocar corrimento vaginal.

Outro método, dos mais conhecidos, é o preservativo masculino, que previne as IST. A sua eficácia depende da correta utilização. Não tem efeitos secundários graves ou contra-indicações, podendo provocar apenas algumas alergias, devido a ser de latex. Também existe o  preservativo feminino. Em forma de tubo e feito de silicone, deve ser introduzido antes das relações sexuais. Também não tem efeitos secundários, mas é de difícil aquisição. Segundo a APF, está disponível nas suas delegações ou através da Coordenação Nacional para a Infeção VIH/SIDA e organismos do sistema Nacional de Saúde.

Também existe o diafragma, que é um dispositivo de borracha com um aro flexível que se introduz na vagina. Quando corretamente introduzido previne o contacto do esperma com o colo do útero, funcionando como meio eficaz de contracepção. A sua utilização pode ser difícil, mas os efeitos secundários são muito pouco frequentes. Não é indicado para pessoas com alergia à borracha e sensibilidade a espermicidas

Outra alternativa são os espermicidas, que são compostos por substâncias que eliminam a mobilidade dos espermatozóides. Podem apresentar-se sob a forma de creme, gel, espuma ou comprimidos vaginais. A eficácia do espermicida é baixa mas a sua acção pode ser melhorada e potenciada se utilizado com outro método contraceptivo.

Os métodos cirúrgicos ou de esterilização voluntária também são uma opção. Só pode ser feita por maiores de 25 anos e é preciso estar seguro da opção que não se quer mais filhos. A laqueação de trompas ou tubária é a opção para a mulher e a vasectomia para os homens.