“Quando tudo se fecha à tua frente e já não há horizonte” – é assim “o fim das possibilidades“. “Já não sobra nada, só o fim”. Quem o diz é João Baptista – JB para os amigos -, a personagem principal da peça de Jean-Pierre Sarrazac, encenada por Nuno Carinhas e Fernando Mora Ramos e que estreia pela primeira vez no mundo esta sexta-feira, 13 de março, no Teatro Nacional São João (TNSJ).

O Fim das Possibilidades para os mais pequenos

No próximo domingo, 15 de março, enquanto os pais assistem à produção do TNSJ, as crianças são convidadas a participar em atividades lúdicas e pedagógicas em que, partindo do texto em cena, é estimulada a criatividade e explorada a dimensão expressiva. Este espaço de aprendizagem, onde o jogo assume um especial destaque, é orientado por Maria de La Salette Moreira. A inscrição tem o custo de 5 euros por criança (e 2,5 euros pela participação de uma segunda criança).

“O Fim das Possibilidades” é “uma versão ‘libertária’ de o Livro de Job da Bíblia”, nos tempos modernos, e a produção da Casa para 2015. Uma “fábula satânica”, onde Deus e Satã arquitetam uma “solução final” para resolver um “problema sistémico”, nome de guerra para a crise que decretou o fim do futuro.

JB, interpretado por Paulo Calatré, representa o homem comum. Atormentado por Satã (Fernando Mora Ramos), que lhe rouba o emprego e a felicidade, é atirado para as profundezas da terra, para junto de todos os desfavorecidos, onde enfrenta a opressão e a depressão.

Deus (Ivo Alexandre) assiste impávido e sereno ao desafio: foi ele quem fez um pacto com Satã (Fernando Mora Ramos), onde lhe deu permissão para infligir sofrimento a JB, sem o matar. E é aqui que o homem comum dá a volta ao jogo: prega uma partida a Satã e encena o seu próprio suicídio por enforcamento, num “espírito farsesco da Idade Média”, segundo o próprio Sarrazac.

“Uma peça para abrir perspetivas”

Esta peça “é uma alusão aos tempos de crise que estamos a passar, obviamente. É, de alguma maneira, o reverso disso. É o pôr tudo em questão para que possamos discutir e abrir novos caminhos”, afirma Nuno Carinhas, diretor artístico do TNSJ. “Apesar de tudo, há boas notícias” e esta “é uma peça para abrir perspetivas e não o contrário”, para se rebelar “contra o pathos do teatro nacional dramático”. As próprias  personagens “são maiores que as circunstâncias históricas reconhecíveis em que se inscrevem – os nossos dias, as nossas síndromes, os nossos desesperos e ambições”, diz.

Conversas com Sarrazac

Jean-Pierre Sarrazac, dramaturgo e crítico francês, estará no Porto durante a estreia mundial do texto que tem vindo a reescrever desde 2012. Em dois sábados, o Teatro Nacional São João promove as conversas Calma, ainda não é o fim nem o princípio do mundo, dedicadas à obra do dramaturgo e à peça em cena. O primeiro painel, a 21 de março, é moderado por José Luís Ferreira, e integra, além do autor, os encenadores da peça, bem como Pedro Bacelar de Vasconcelos e José Bragança de Miranda. A 11 de abril, Pedro Sobrado modera a conversa com Cândida Pinto, Frei Bento Domingues, João Barrento e, uma vez mais, Fernando Mora Ramos e Nuno Carinhas. Os encontros, de entrada gratuita, decorrem no Salão Nobre do Teatro Nacional São João, a partir das 16h30.

No dia do azar, o elenco desta estreia mundial faz figas por sorte, depois de um processo “sem colisões”, partilhado por dois grandes nomes do Teatro nacional. “Partir esta responsabilidade a meio é, de alguma maneira, uma desmultiplicação frutuosa, no sentido em que duas cabeças pensam melhor do que uma, como já dizia o ditado”, afirma Fernando Mora Ramos, do Teatro da Rainha. “Estamos a abrir possibilidade, nós próprios, de refletirmos sobre uma realidade que eventualmente a um só ficaria mais fechada” e esta “é a peça ideal para fazermos esse tipo de exercício”, sublinha. “Cada cena [e são 18] é uma peça de teatro, neste espetáculo”.

Foi a Fernando quem Sarrazac passou o texto, em primeira mão. “Eu conheço o Jean-Pierre há 30 anos. O primeiro texto que fiz dele foi aqui no Porto, em 1984. Quando me propôs esta peça, foi claro para mim que a tínhamos de fazer”, recorda.

O Fim das Possibilidades é uma coprodução do TNSJ com o Teatro da Rainha e está em cena até 27 de março, quando se comemora o Dia Mundial do Teatro. A peça, legendada em inglês, sobe ao palco do TNSJ às quartas-feiras, às 19h; de quinta a sábado, às 21h; e aos domingos, às 16h. Os bilhetes podem ser adquiridos a partir de 7,5 euros.

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