Nos dias de hoje parece que já tudo existe. São tantos os bens e serviços já disponíveis para o consumidor do dia-a-dia que parece que mais nada poderá ser inventado. Contudo, todos os dias nos deparamos com as mais diversas propostas e novidades surpreendentes. Descobrimos novos produtos e novas necessidades que nunca julgamos ter.

Daí até surgir o interesse pelo empreendedorismo é apenas um pequeno passo. Aquela que pode parecer uma palavra cara e confusa para muitos, tem desempenhado um papel fundamental na construção de novas ideias e desenvolvimento dos jovens universitários. Cada vez mais surgem concursos para criar e moldar novos empreendedores, como as já bem conhecidas startups. E, apesar da conjuntura atual, os projetos que se cimentam só têm vindo a aumentar.

Mas o que faz de alguém um verdadeiro empreendedor? O que faz com quem um jovem se dedique tanto a desenvolver uma ideia ou um projeto? E quais são as principais ferramentas que estão disponíveis na Universidade do Porto (UP) e outras instituições para o ajudar? O JPN foi falar com os mais diversos jovens que vingaram ou se estão a iniciar nesta área para tentar responder a estas questões.

“Criar valor” deve ser uma preocupação de todo o estudante

Desde pequeno, Bernardo Pequito procura “criar valor” no seu dia-a-dia, quer a nível profissional, quer pessoal. Associativista de gema, desenvolveu a partir do ensino básico múltiplas capacidades de gerir várias coisas: “pessoas, finanças, relacionamentos”.  Toda esta motivação, agora transposta para o mundo profissional, redunda na sua participação social constante “através de empresas próprias ou participadas”.

A faculdade proporcionou-lhe um “contacto mais real com este mundo, pelo que se pôde envolver com experiências “decisivas” a este nível e cruciais à sua carreira de estudante. Na opinião de Bernardo, “um estudante não está preparado para a sua carreira sem experimentar um contexto de organização”.

A StartUp BUZZ é, neste sentido, “um motivo de orgulho a cada dia que passa”. Em 2012, participou na criação desta equipa, que “hoje é uma referência de apoio e promoção do empreendedorismo a nível nacional”. Líder da organização durante um ano, sente que aprendeu a lidar com um elemento basilar da área da gestão: “as pessoas”. A longo prazo, o impacto relevou-se evidente: a empresa proporcionou mais de cem estágios em startups, concursos e sessões de apoio à criação de negócios.

Junior Achievement: JA-YE

Trata-se de uma rede de alumni que reúne os mais promissores líderes a nível europeu e associa pessoas de vários países. Ao longo do ano, são vários os eventos dinamizados pela organização, com destaque para a Conferência Internacional  e o Encontro de Coordenadores Nacionais (NCM) que junta os líderes de cada rede alumni de cada país europeu. Portugal vai albergar o próximo NCM já em abril deste ano.

Numa segunda fase, foi a Junior Achievement – Young Enterprise Alumni Europe (JA-YE), organização da qual hoje é vice-presidente, que lhe abriu “portas para o mundo inteiro”. Anualmente, são cerca de dez milhões de estudantes que passam pela experiência. Em comum, guardam a experiência de “um programa de educação de empreendedorismo e literacia financeira”.

Em jeito de balanço, Bernardo vê o seu envolvimento nestas iniciativas como “uma montra para nos mostrarmos antes de terminar os estudos”. Destas experiências resultam “oportunidades de emprego que surgem por ligações criadas nesses trabalhos” e, por isso, deixa-nos com um conselho: “Aproveitem o vosso período de estudos para desenvolver outras competências, conhecer os vossos gostos e mostrar o vosso valor”.

Enquanto estudante da Universidade do Porto, confessa que a instituição tem “feito o esforço significativo de desenvolver o seu pilar de transferência de propriedade intelectual para o mundo empresarial”. Orgulha-se de fazer parte de um estabelecimento de ensino que o fez crescer e que o apoiou incondicionalmente. Os resultados, até à data, não enganam.

O desconhecimento por parte da comunidade académica

“Para mim, empreendedorismo remete para uma atitude inovadora, não apenas a criação de um negócio” – é esta a resposta de Hélder Gonçalves quando lhe perguntamos o que é de facto ser um verdadeiro empreendedor. O atual diretor de projetos na Junior Achievement Alumni Portugal (JAAP), começou desde muito cedo a interessar-se pelos meandros do empreendedorismo e o que o mesmo tinha a oferecer.

O interesse na área cresceu quando o mesmo frequentava o curso de Ciências da Informação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Uma professora sugeriu a Hélder a entrada num programa de empreendedorismo, o Startup Programme, e desde aí nunca mais parou.

Hoje detém um dos mais importantes postos na JAAP e o interesse por este universo só tem vindo a aumentar. “O facto de ter integrado a equipa da JAAP só veio fortalecer o interesse pelo mundo empreendedor. Primeiro, encontrei testemunhos e exemplos inspiradores. Segundo, permitiram-me desenvolver ações que fomentam o espírito inovador de quem participa. E terceiro, a minha opinião contava sempre e as ideias de todos resultavam numa ideia ainda melhor”, conta. Para Hélder Gonçalves, a JAAP transformou-se num dos principais desafios da sua vida, visto ser uma rede de empreendedorismo onde qualquer integrante pode beneficiar de algo.

JAAP

Fundada em Setembro de 2005, Junior Achievement Portugal é uma associação empenhada em levar às escolas programas que desenvolvem nas crianças e jovens o gosto pelo empreendedorismo.É a congénere Portuguesa da Junior Achievement

Ainda estudante, é prático quando afirma que a experiência como coordenador só tem vindo a ajudar a sua vida académica e privada. Fazendo um balanço da experiência em geral, Hélder Gonçalves é pragmático quando afirma que só beneficiou com a sua presença na JAAP. Segundo ele, aprendeu “a solucionar imprevistos” e a “desenvolver o trabalho em equipa”.

Relativamente aos recursos e apoios da Universidade do Porto, Hélder acredita que a UP deve apostas em apoios e incentivos ao empreendedorismo, principalmente na melhora da comunicação entre os apoios já existentes. Afirma de igual modo que deveria haver uma maior divulgação destes projetos e instituições.

Contudo, o universitário afirma que, apesar de passarem um pouco desconhecidos pela comunidade académica, os incentivos existentes são satisfatórios. “Por exemplo, a iniciativa Viver a Inovação e o Empreendedorismo na Universidade do Porto (V.IVE!), com quem já colaborei em parceria com a JAAP, tem uma excelente equipa e tem obtido um crescente sucesso ao longo dos anos. E é inegável o sucesso e a importância atribuíveis à UPTEC, com os vários pólos. Para Hélder Gonçalves, estes dois últimos exemplos demonstram o potencial que a comunidade da Universidade do Porto tem face ao empreendedorismo.

A ponte entre o académico, o profissional e o pessoal

Ricardo Martins Costa descobriu o “bichinho do empreendedorismo” quando entrou na faculdade. Na altura, o tema não era tão explorado como agora, em Portugal, mas viu numa competição de empreendedorismo da Junior Achievement um bom trampolim para este mundo. Hoje, vê os seus efeitos em termos académicos, profissionais e pessoais.

Na faculdade, encetou um intercâmbio de experiências entre aquilo que aprendia na faculdade e a sua adequação a uma “mentalidade startup”. Profissionalmente, abriram-se imensas portas para empresas interessadas no seu perfil, apetrechado com as vivências de cinco anos no mundo do empreendedorismo académico. A nível pessoal, alargou horizontes e conheceu novas realidades e culturas.

No rescaldo da vice-presidência da Junior Achievement Alumni (JAA), mandato que terminou no final do ano passado e durou quatro anos, revela que tudo foi “um desafio fantástico”. A organização, de âmbito europeu, reúne jovens de mais de vinte países europeus, num total de mais de quatro mil participantes. Responsável pelo departamento “Network & Events”, entrou na implementação do prémio europeu Alumni Leadership Award – que reconhece todos os anos os melhores alunos da Junior Achievement Europe – na reestruturação da organização e na criação e inúmeros eventos internacionais onde Portugal teve assento.

Ricardo acredita que a Universidade do Porto cresceu imenso nos últimos anos e foi líder na “promoção do empreendedorismo em Portugal” através de diversas iniciativas próprias e em parceria com associações de estudantes. Salienta ainda os Parques de Ciência e Tecnologia (UPTEC) enquanto parte de um leque das melhores incubadoras de empresas do país. Neste sentido, crê que todo o alento dado ao empreendedorismo pela instituição foi crucial para que os estudantes “começassem a perceber a importância das atividades extra-curriculares ligadas ao incremento das suas competências profissionais”.

O apoio da Universidade do Porto ao empreendedorismo 

José Nuno Leitão, antigo aluno da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), era um dos integrantes da equipa do projeto N2Fix, o vencedor nacional do Startup Programme no ano de 2012.

N2Fix

O projeto vencedor dos estudantes de Bioengenharia consistia numa tecnologia que aumentava a produtividade das plantas, reduzia o tempo de maturação e fazia com que a utilização de fertilizantes de azoto não fosse necessária.

O interesse pelo empreendedorismo despertou em si devido a diversas influências, nomeadamente de professores e de projetos onde esteve envolvido, como o AEICBAS e a AEGEE-Porto. “Nestas organizações avancei com pequenos projetos, e tive que procurar financiamento ou patrocínios”. Perante o contato com estas realidades, não tardou a que José “desenvolvesse um interesse pelo empreendedorismo.”

O seu principal apoio académico durante este percurso acabou por ser uma unidade curricular, mas não só. O “apoio que a universidade presta ao programa Startup, da Junior Achievement” também foi essencial. O antigo estudante defende que a universidade oferece diversas plataformas que promovem o empreendedorismo e que também apoiam os estudantes que se graduaram recentemente e querem construir um novo projeto nessa área.

Contudo, deixa de igual modo uma pequena dica: “Seria interessante incutir na maioria dos cursos uma pequena unidade curricular ou um ciclo de palestras que mostrasse à generalidade dos estudantes da UP, independentemente do curso que estão a frequentar, o que é o empreendedorismo, como podem inovar e que infraestruturas estão disponíveis dentro da UP neste âmbito”.