O CrossFit surgiu em Santa Cruz, na Califórnia, no ano de 2000, através de Greg Glassman. Chegou a Portugal mais tarde ainda moldado pela cultura americana e com a imagem do “strength coach”, o treinador multifacetado que acompanha os atletas nas várias partes do treino desde ginástica, endurance, halterofilismo e cardio. Os pilares fundamentais associados à modalidade são os movimentos funcionais, constantemente variados e de alta intensidade integrados no WOD (Workout of the day) para atingir resultados.

Sílvio Silva, coach – como é conhecido o treinador da modalidade e proprietário do espaço Durius, no Porto, teve o primeiro contacto com o CrossFit há seis anos e sentiu a necessidade de levar a modalidade “mais a sério”. De modo a aplicar metodologias, exercícios e tipos de treino específicos num contexto diferente do ginásio tradicional, abriu a sua própria “Box” de CrossFit, que é cada vez mais frequentada por atletas e curiosos do cross training.

Para o treinador, o CrossFit “não é tanto um desporto, mas uma forma de estar na vida”. Sem qualquer tipo de limitação e acessível a todos, a modalidade é uma fonte de “bem-estar e realização pessoal” com inúmeros benefícios.

Uma aula “não é minimamente estruturada” e os atletas nunca sabem que tipo de treino vão fazer até entrarem na Box. Desenganem-se aqueles que, ao procurar na Internet exemplos de treino de CrossFit, se deparam com movimentos difíceis e repetições que parecem impossíveis: o CrossFit adapta-se às necessidades e limitações de cada atleta e ajuda-o a atingir os objetivos a que se propõem. “Eu conheço todos os meus clientes pelo nome e pelo feitio”, afirma Sílvio Silva ao garantir que o acompanhamento ao longo do treino é constante e flexível.

A filosofia do CrossFit está mais associada às modalidades de combate e artes marciais do que ao conceito comum de ginásio, “as pessoas conhecem-se, puxam umas pelas outras e ficam contentes com os resultados de cada um, o que não é muito comum no ginásio, é o maior choque cultural que eu vejo”, declara Sílvio. Mesmo quem nunca frequentou ginásios ou alcançou grandes resultados com a prática desportiva, “encontrou no CrossFit algo que o motiva a treinar”.

Até mesmo as crianças podem praticar CrossFit, uma vez que o coach adapta o volume de treino e a intensidade às especificidades do aluno, tendo um cuidado extra. Com o objetivo de integrá-los no ambiente de grupo, Sílvio assegura que é possível “fazer o mesmo tipo de exercícios com os miúdos, de forma motivacional e com um encaixe diferente, misturando jogos e dinâmicas de grupo ao treino funcional.”

Mulheres de ombros largos e costas em “V”? Nem por isso!

Quem está a coordenar e gerir o treino tem um papel fundamental na evolução do praticante de CrossFit, tentando transmitir informação especializada e motivação para que o atleta tenha sempre metas a atingir. No entanto, Sílvio admite a dificuldade que tem em remover alguns dos estigmas que envolvem a modalidade, principalmente em relação às mulheres: “Eu treino raparigas que continuam a ter o mesmo tipo de corpo que tinham quando começaram a praticar. Algumas não encaram o treino de força como uma necessidade para ficar maior, mas sim como uma parte necessária do treino para suportar a musculatura e aguentar o resto”. Contrariando a ideia de que as mulheres que fazem CrossFit são muito musculadas, o coach remata: “Há quem encare isto como um desporto ou como uma forma de estar na vida, tudo depende daquilo que pretendemos fazer com o corpo”.

Mafalda Rocha é praticante frequente de CrossFit desde 2011, no entanto, no dia em que experimentou uma aula aberta no ginásio que frequentava, achou que “era de gente doida”. O clique deu-se quando percebeu que apesar de praticar exercício regularmente, “não tinha resistência para qualquer tipo de desafio, não tinha equilíbrio ou agilidade, nem sequer fôlego para correr atrás do autocarro”, garante a atleta.

Quando questionada acerca das mudanças que sentiu a nível físico e psicológico, Mafalda não hesita: “Acima de tudo senti, pela primeira vez, o que é ter autoconfiança. Saber que sou capaz de superar um determinado desafio, quer nos treinos, no trabalho e no dia-a-dia”. Admite que ganhou auto-estima e acredita muito mais em si e no que consegue alcançar, até porque o aspeto físico que adquiriu com o CrossFit é do seu agrado: “O corpo vai ficando bem torneado e durinho, quem não gosta?”, brinca.

Também Susana Henriques, ex-concorrente do programa “Peso Pesado” confirma os benefícios da modalidade: “É o CrossFit que me tem mantido motivada a lutar pela minha saúde e pela minha felicidade. Se o ‘Peso Pesado’ mudou a minha vida, o CrossFit mantém-me viva”, afirma. Elogiando a metodologia de treino e o espírito de grupo que se vive na Box CrossFit Alvalade, em Lisboa, Susana sente “diferenças brutais” no seu corpo desde que experimentou estas aulas e enfrenta agora, “os desafios da vida com outra força”. No único desporto em que o último a terminar os exercícios é o mais aplaudido, a atleta até já participa em várias competições, porque acima de tudo “é o meu refúgio, onde descarrego e lavo a alma”, conclui.

Onde praticar CrossFit no Porto?

CrossFit Durius – Rua de Justino Teixeira, 601, Porto

CrossFit OPO – Rua de Silva Porto, 630, Porto

CrossFit N14 – Rua do Tronco, 375, S. Mamede Infesta

CrossFit Matosinhos – Avenida Comendador Ferreira de Matos, 801, Matosinhos

Dietas associadas

Muitas são as dietas associadas à prática desportiva e o CrossFit não é exceção. Como nesta modalidade, normalmente não existe acesso a nutricionistas que implementem planos individualizados para cada atleta, os Coaches recomendam dietas práticas e fáceis de entender como a Zone e a Paleo. Sendo a última a mais utilizada, esta baseia-se na alimentação dos nossos antepassados paleolíticos, ou seja, no corte de leguminosas, lacticínios, cereais e qualquer tipo de alimentos processados.

Para Márcia Rebelo, nutricionista e praticante de CrossFit, nunca existiu a necessidade de recomendar a Paleo, pois “é uma dieta com um enorme condicionamento alimentar”, nem de proibir alimentos “que não só podem, como devem estar presentes numa dieta equilibrada”, principalmente na dos desportistas. No entanto, reconhece que a nível científico tem demonstrado resultados positivos devido à restrição calórica, sendo acessível a todos.

Devido à sua profissão e enquanto praticante de CrossFit, assume que adapta as calorias e os alimentos que ingere às necessidades diárias, em termos de atividade física, não impondo qualquer privação na sua alimentação. Além disso, Márcia revela que a dieta Paleo assenta em pressupostos incoerentes ao rejeitar “todo e qualquer benefício da alimentação moderna”, aliado ao facto de estarmos a falar de uma “população desportista que raramente abdica dos suplementos alimentares, como a proteína processada”, remata.

Como os resultados do treino surgem apenas após a fase de adaptação e com exercícios de alta intensidade e insistência de movimentos, as Box’s tentam promover os contratos mensais. A chamada fidelização com mensalidades livres de acesso total variam entre os 50 e os 90 euros.

Mas porque será que alguns atletas praticam CrossFit de forma tão regular? Na opinião do treinador Sílvio Silva “é o bem-estar, a companhia, o espírito competitivo que cada um de nós tem escondido cá dentro, de querer fazer mais e melhor do que o colega do lado, que motiva as pessoas”.