No ano em que completa 104 anos, a Universidade do Porto (UP) é a casa de 32 mil estudantes e segura o título de uma das 150 melhores universidades da Europa. A propósito do Dia do Estudante, o JPN falou com alguns finalistas, de forma a perceber os objetivos que têm após terminarem a licenciatura, as expectativas que têm do mercado de trabalho e as oportunidades que Portugal poderá ou não ter para lhes oferecer.

“Gostava de ficar, mas vejo-me a sair”

Elma Pereira, estudante de Línguas e Relações Internacionais da Faculdade de Letras da UP (FLUP), sonha em trabalhar na área de negócios externos, de forma a aplicar as línguas na comunicação com pessoas de outros países nas diferentes filiais das empresas. Para já, com o curso a chegar ao fim, Elma quer fazer estágio pelo programa Erasmus+ e, seguidamente, mestrado.

Apesar de ter o futuro próximo delineado, a estudante refere a dificuldade crescente de frequentar o Ensino Superior em Portugal: “É cada vez mais difícil ser estudante, sobretudo pelas bolsas, que já não são para quem precisa, mas para quem consegue ter um nível médio de vida até elas chegarem”.

Segundo Elma, Portugal não é um país para recém-licenciados. Isto porque, de acordo com a estudante, “não é um país que invista minimamente no desenvolvimento na economia e, assim, as coisas não mexem, não há capital para mexer as coisas de um lado para o outro. Não há novos postos de trabalho, não há novas empresas, não há emprego”.

Quanto às possíbilidades de emprego, a estudante reconhece a necessidade de emigrar, apesar da vontade de ficar no país: “Talvez um dia, no futuro, depois de trabalhar lá fora, consiga arranjar cá um trabalho mais estável. Não sinto muita pressa em deixar de ser estudante”.

“Com o curso de Direito é muito mais difícil emigrar”

Ana Catarina Barbosa, estudante do curso de Direito da Faculdade de Direito da UP (FDUP), tem o objetivo, a longo prazo, de enveredar pelo Direito Fiscal. Por enquanto, pensa apenas em “estagiar para entrar na Ordem dos Advogados”. Ana sabe que é algo que irá demorar algum tempo, mas mantém-se firme em relação à ideia, não pensando fazer mestrado sem estagiar primeiro, visto que é necessário um estágio de 18 meses para pertencer à Ordem.

Contudo, o principal problema com que se depara atualmente é encontrar um estágio que preencha os requisitos, não tendo “nenhuma empresa em mente”.

Ana Catarina também refere as dificuldades que o estudante comum vive nos dias de hoje, especialmente no seu curso, onde os alunos não têm mestrado integrado, algo com que a mesma não concorda: “Eu acho que, como existe noutros cursos de Direito noutras faculdades, fazia todo o sentido também termos mestrado integrado”. Seguir mestrado após a licenciatura não é uma tarefa fácil para os estudantes de Direito, principalmente devido a médias.

“Eu, daqui a uns anos, vejo-me num escritório de advogados, quem sabe no meu, e com uma carreira estável”. Esta é a resposta da estudante quando lhe perguntamos onde se vê futuramente.

É de igual modo pragmática relativamente à questão de emigrar: não teria qualquer problema, contudo, o seu sonho é exercer advocacia em Portugal. Ana afirma que “com o curso de Direito é muito mais difícil para emigrar, visto que a advocacia varia de país para país”. Contudo, como milhares de universitários portugueses, não põe de lado essa hipótese.

“O emprego é o que garante mais liberdade na nossa sociedade”

José Santos, finalista do curso de Biologia da Faculdade de Ciências da UP (FCUP), quer fazer mestrado após acabar o curso e especializar-se em Microbiologia. No entanto, o estudante concorda que o país vive uma altura difícil e não é recetivo a recém-licenciados: “Numa altura em que se precisa de investimento e de crescimento, é um erro a mão-de-obra não ser qualificada”.

O estudante refere que o Ensino Superior ajuda a aguçar o espírito crítico e a perceber melhor a gravidade da situação económica, política e social atual: “Com uma educação, mesmo não sendo na área económico-social, estamos sempre mais alertas aos problemas do país, desde a corrupção à necessidade de ajuda social”.

José Santos refere que, apesar dos planos de ser estudante por algum tempo, arranjar um emprego é “a necessidade humana de sentir liberdade”, pois, a seu ver, é o emprego que, na sociedade em que vivemos, garante essa liberdade.

Os estudantes acabam a licenciatura este ano, mas, se por um lado se encontram à mercê da falta de oportunidades que predomina em Portugal, por outro pretendem apostar ainda mais na educação e continuar a lutar por um futuro menos incerto.