“O Herberto, para mim, era o maior poeta do mundo, de sempre, de todos os tempos. Por isso, era até um absurdo que estivesse vivo, embora seja um absurdo pensar que ele agora está morto”. Quem o diz é Valter Hugo Mãe, reconhecido escritor português, em conversa com o JPN.

O escritor, que em 2007 recebeu o Prémio Literário José Saramago, falou ainda da personalidade de Herberto, das repercussões da sua morte para a poesia nacional e ainda da sua ligação ao poeta.

Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira nasceu a 23 de novembro de 1930 no Funchal, no seio de uma família de origem judaica. Em 1954 publicou o seu primeiro poema em Coimbra e, no ano seguinte, regressou a Lisboa onde já tinha trabalhado e estudado.

Nesse regresso frequentou o grupo do café gelo, conjunto que reunia vários artistas, desde escritores a pintores, como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, João Vieira e Hélder Macedo. Morreu nesta segunda-feira, aos 84 anos, em Cascais. As causas do óbito não foram reveladas.

José Luís Peixoto, poeta e dramaturgo português, soube através do JPN da morte de Herberto Helder. O escritor recebeu a notícia com tristeza, já que se assume como grande admirador da obra do poeta, tendo inclusive declamado um dos seus poemas, neste caso, a “súmula“.

“É um autor que, inclusivamente, pode-se dizer que marcou a própria poesia, marcou o próprio género poético. Para um autor da minha idade, não faz sentido escrever poesia ou qualquer género literário em Portugal, ignorando a obra de Herberto Helder, porque é realmente uma obra incontornável, pela sua originalidade e universalidade”.

No entanto, ao contrário de Valter Hugo Mãe, José Luís Peixoto manteve alguma proximidade com Herberto e, por isso, guarda esses momentos.

As palavras de Manuel Gusmão

O poeta Manuel Gusmão faz parte da mesma geração literária de Herberto Hélder (meados do século XX) e, em declarações ao JPN, não tem dúvidas em afirmar: “É o grande poeta português do século XX”.

“Nunca pensei que um homem daquela grandeza fosse uma pessoa tão simples”

Herberto publicou o seu primeiro livro em 1958, intitulado “O Amor em Visita”. Durante toda a sua vida manteve uma postura reservada e evitava a exposição mediática. Em 1994 foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa, um dos mais importantes em Portugal. No entanto, recusou a distinção e pediu ao júri que não o anunciassem como vencedor e dessem o prémio a outra personalidade.

Decorrente deste fecho à sociedade, deu-se uma enorme valorização dos seus últimos livros, sendo as edições em número de cinco mil exemplares, mas para uma procura substancialmente superior.

Apesar de tudo, o fotógrafo Alfredo Cunha conseguiu fotografar Herberto Helder. “Para mim foi muito importante, porque fiquei muito surpreendido. Nunca pensei que um homem daquela grandeza fosse uma pessoa tão simples, tão fácil de fotografar. Havia uma certa tranquilidade, senti-me bem a fotografar. Há pessoas que não sentimos sequer que fotografámos. Tirei perto de 200 fotografias”, recorda Cunha ao JPN.

A poesia de Herberto não escolhe idades, abrange e toca todos. Diogo da Costa Leal é um exemplo disso mesmo. Com 25 anos faz parte da Poemó’Copo, um projeto de performance, e já integrou o projeto Vadiação Poética – que teve uma emissão dedicada ao poeta. No dia em que morreu Herberto Helder, fez questão de escrever e recitar um poema que o JPN registou. Esta segunda-feira, desapareceu um vulto da literatura portuguesa. A sua obra, não.