Quais foram os motivos que originaram esta manifestação?

Um acumular de situações. O Canil do Porto é um canil com instalações já muito antigas. Tem 80 anos. Eu comecei a aperceber-me das situações que se estavam a passar no canil, de eles abaterem animais ainda jovens. Eu sou contra o abate, sejam jovens, sejam idosos, sejam de que idade forem. Mas, infelizmente, o Canil Municipal do Porto é um canil muito pequeno, tem poucas jaulas e está sempre cheio. A verdade é que há muita gente da cidade que abandona animais. São muitas vezes os próprios donos que vão pôr os animais no canil.

Senti que as coisas estavam mesmo mal quando cheguei ao canil e vi gatos mortos dentro de uma jaula. Disseram-me que foi um vírus. Passados uns dias, chego lá outra vez e está lá um gato morto dentro de uma jaula. Eles [Canil Municipal do Porto] também não têm um sítio para quarentena. Porque, ao entrar lá, um animal devia fazer quarentena, pois já se sabe que, infelizmente, estes animais de rua trazem doenças. E o que acontece? Ao trazer a doença mata os outros todos.

O que eu pedia era para tentar fazer voluntariado, para divulgar os animais, porque eles têm um site que nunca é atualizado com as fotos dos animais. E a divulgação, quer queiram, quer não, é uma maneira de as pessoas verem os animais e de haver mais adoção. Se eles não fazem campanhas de adoções, só indo ao canil é que as pessoas vão ver os animais. Pedi para divulgar e até fazer uma página com os animais, mas negaram-me sempre isso.

Desde quando que fazem manifestações deste género?

A primeira que fizemos foi a 24 de novembro de 2013. Foi aí que começou tudo, com um cordão humano. Na altura fizemos isso em cerca de 14 cidades do país, contra os canis de abate. Eu fiz aqui no Porto, em frente à Câmara Municipal do Porto e esteve lá muita gente. Colocámos um manifesto a circular e recolhemos cerca de duas mil assinaturas. Apesar das várias reuniões que continuo a pedir na Câmara, com o vereador responsável pelo Canil do Porto, ainda estou há espera que digam alguma coisa, de uma resposta.

E as manifestações, até agora, surtiram resultados?

Sim. A partir da manifestação do passado dia 17 de janeiro comecei a ir ao canil. Deixámos lá muita ração para os animais e muitas mantas, porque as jaulas são todas em cimento e no inverno as condições ficam mais rigorosas. Outra das coisas que queríamos era que fossem passear os animais. Então em fevereiro colocaram uma pessoa que está lá só para isso.

Eu nunca era muito bem recebida no canil. Agora, da última vez que lá fui, senti-me muito bem recebida. Acho que está a haver uma maior abertura, mas continuam a não deixar entrar lá voluntários. No entanto, parece que alguma coisa está a começar a evoluir.

O outro lado

O JPN contactou o Canil Municipal do Porto, que não se pronunciou relativamente a este assunto. Já a Câmara Municipal do Porto anunciou que “está a preparar um plano que será oportunamente anunciado”.

Considera que a vinda de Rui Moreira para a presidência tem ajudado de alguma maneira o Canil Municipal do Porto?

Não. Infelizmente, eu pensava que, com o Rui Moreira, que na campanha eleitoral falou dos animais, se fosse fazer alguma coisa. A verdade é que não foi feito absolutamente nada. Aliás, há a questão das esterilizações, que já temos vindo a falar desde o início. Todos os animais que estão no canil devem ser esterilizados. O Canil Municipal do Porto diz que esteriliza os gatos, mas a verdade é que continuam sem o ser.

Eles fizeram as esterilizações durante uns tempos, mas pararam radicalmente. Já sabemos que o canil não tem instalações para fazer aos cães e às cadelas, mas mesmo isso poderiam, porque existem clínicas que ajudavam nesse sentido, através de protocolos. Isto também é outra das coisas na qual estamos a insistir bastante para começarmos a reduzir as ninhadas.