Reflector é o tema desta 36.ª edição de Portugal Fashion, que se apresenta como uma homenagem à moda portuguesa. Os estilistas portugueses têm percorrido os últimos 20 anos espelhando um país cada vez mais moderno, cada vez mais empreendedor e cada vez mais criativo; mas, não só da imagem de um país se fala: as coleções de moda apresentam-se sempre como um espelho dos próprios criadores, das emoções que estes experienciam e passam para as suas criações. O primeiro dia do evento, no Porto, foi nesta quita-feira e passou-se no Palácio dos CTT, exceto o desfile de Luís Buchinho.

Luís Buchinho

A comemorar 25 anos de carreira, foi Luís Buchinho quem estreou a passerelle no Porto, com a coleção “Comics”. Há 20 anos atrás, em julho de 1995, foi também ele um dos criadores a participar na primeira edição do Portugal Fashion: abrir, na Invicta, a 36.ª edição do evento foi um momento simbólico bastante esperado e, no final, muito aplaudido.

A coleção de Buchinho para o próximo outono/inverno é, segundo o próprio, uma viagem pelos “motivos que o conduziram ao design de moda”: o gosto particular pela banda desenhada, pela ilustração e pelo design gráfico materializaram-se no uso de linhas geométricas, blocos de cor – preto e branco, azul marinho, roxo e castanho – e na mistura de materiais – mohair, cabedal, seda, jacquards e lãs. Além disso, o próprio local do desfile – o ginásio da Escola b/s Rodrigues de Freitas – já anunciava o espírito da coleção: um trabalho muito sporty que contrastou com silhuetas fluídas e algo românticas.

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Daniela Barros

Sob o título “NKA_002”, o Portugal Fashion prosseguiu com Daniela Barros, a “Melhor Jovem Designer de 2014”, segundo os Prémios Novos. Através da memória, recordação e reinterpretação de factos, Daniela leva-nos, com as suas criações, numa viagem até ao inconsciente. A viagem fica marcada pelas silhuetas desestruturadas – não fosse o inconsciente um lugar tão desconhecido – e oversized, pelos tons terra, o preto e o branco e pelo contraste entre as roupas fluídas e as malas estruturadas. A música escolhida, quase incomodativa, foi o fio condutor de toda esta jornada.

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Hugo Costa

Hugo Costa apresentou uma coleção inspirada na indumentária dos nómadas tibetanos: um povo que se viu forçado a reinventar o uso do vestuário devido à exposição a climas agressivos (ventos fortes e quedas abruptas de temperatura depois do pôr-do-sol). Intitulada “Nomad Coat”, o estilista constrói esse conceito de reinvenção ao apresentar uma série de casacos, camisolas e vestidos em que apenas uma das mangas é vestida. As criações de Hugo ficam ainda marcadas pelas estruturas clássicas e volumes exagerados e pelos tons terra e o preto.

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Bloom: Mafalda Fonseca

No espaço Bloom – reservado a novos talentos – foi Mafalda Fonseca quem estreou a passerelle com a coleção “K – Keep Moving Boys”. Com um trabalho inspirado no seu grupo de amigos, que, segundo Mafalda, vivem de forma vazia e fria, pois movem-se rodeados de tecnologias, a criadora quer trazer algum calor aos “seus rapazes”. O desfile apresenta-se, por isso, como uma viagem até ao Sol, através do uso do amarelo-torrado e do preto, que representa a vida vazia, sem expressão de sentimentos.

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Katty Xiomara

A participar no Portugal Fashion desde a segunda edição, Katty Xiomara trouxe ao Porto a sua “Re-evolution”: uma coleção que nos quer fazer compreender a natureza, repensar o modo como estamos a evoluir e revindicar o direito à feminilidade. Tudo isto é conseguido, sobretudo, através de uso de cores naturalistas, padrões camuflados e a imagem do macaco, que nos quer remeter para a Teoria da Evolução.

Criações muito femininas – muitas rendas e voilles de algodão e seda –, mas com um toque de poder associado ao homem, traduzido no uso de chapéus militares. Em jeito de despedida, as modelos desfilaram uma última vez ao som de “Do the Evolution”, dos Pearl Jam. Com os telemóveis na mão, fotografaram o público e o espaço num gesto que gritou: Isto é Evolução!

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Júlio Torcato

“Two (2) Collection” é o nome da coleção apresentada por Júlio Torcato, que, segundo o próprio, “é um trabalho sobre dualidade e duplicidade, sobre nós e o outro, sobre diferenças que aproximam”. Mistura tradição e modernidade, pelo uso de correntes em fatos, e materializa o conceito de dualidade através das calças curtas combinadas com casacos muito compridos. O desfile inteiramente masculino ficou marcado pelos tons ricos, como o bordeaux e o verde-esmeralda, em contraste com a ausência de cor (o preto), e pelo uso de veludos e pêlo nas lapelas, que transmitiram a imagem de um homem seguro de si próprio.

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João Melo Costa

O segundo nome do espaço Bloom – e último – foi João Melo Costa, com uma coleção que dispensa título, pois, para o próprio, “a imagem ultrapassa as palavras”. Padrão em rede, cores ricas e silhuetas muito estruturadas marcaram o desfile. No final, o estilista deu a volta à passerelle em corrida e foi recebido com assobios e aplausos de pé naquela que foi uma das coleções à qual o público reagiu de forma mais evidente.

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Pedro Pedro

Depois da sua última participação em 2007, Pedro Pedro regressou ao Portugal Fashion e fechou o primeiro dia desta 36.ª edição com um trabalho inspirado na exigência física que o ballet implica, mas que só se vê atrás dos palcos. A inspiração do estilista materializou-se através do uso de tons pálidos e materiais muito femininos – característicos da dança –, em contraste com apontamentos mais vivos – que nos remetem para o esforço das bailarinas – e com cortes e acabamentos brutos e peças desestruturadas. As transparências e os comprimentos midi também marcaram todo o desfile.

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O segundo dia de Portugal Fashion decorre nesta sexta-feira, no Palácio da Bolsa, e contará com Ricardo Preto, Susana Bettencourt, Estelita Mendonça, KLAR, Anabela Baldaque, Carlos Gil, Diogo Miranda, Pedro Neto e Miguel Vieira.