A Coreia do Norte é, possivelmente, o país mais enigmático do mundo. Apesar das dezenas de notícias veiculadas diariamente, não se sabe, de forma exata, como é que o país se encontra, tal a clausura preconizada pelos líderes norte-coreanos.

Uma clausura que vem desde os tempos de Kim-Jong-Sung, líder eterno da Coreia do Norte, que implementou, em 1948, o Juche, um sistema político ditatorial baseado no marxismo-leninismo, adaptado à realidade coreana. O seu filho e, agora, o seu neto, propalaram os ideais de extrema-esquerda que exultam, acima de tudo, a segurança do país, nem que para isso a liberdade esteja condicionada e haja, presumidamente, milhões a morrer à fome.

A solução pode passar pela China

Teresa Gomes, docente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, afirma que a solução para haver uma Coreia do Norte aberta a outros países passa pela influência de uma potência mundial: “A China poderia abrir-se à Coreia no sentido de aligeirar a forma como o regime controla a população”, acrescentando que ambos os países têm regimes político-ideológicos “muito próximos”. O problema que se coloca é que a China, na opinião de Teresa Gomes, “não se imiscui politicamente nos países, ao contrário dos Estados Unidos”. “Interessa-lhes, sobretudo, as relações comerciais”, conclui.

“Nós, sul-coreanos, vemos a Coreia do Norte e a Coreia do Sul como uma só”

H. Kim é um sul-coreano de 26 anos que estuda Física na Alemanha. Mudou-se para a Europa em 2013 mas mantém-se a par do que se vai passando no seu país e, por extensão, na Coreia do Norte. Mas, tal como o resto do mundo, tudo o que conhece do país de Kim-Jong-Un é através da comunicação social: “Tudo o que sabemos é pelos media. A impressão que há é a de que se trata de uma nação extremamente pobre e que há muita gente a tentar passar a fronteira para a Coreia do Sul”, acrescentando que não nunca conheceu um norte-coreano “por ser estritamente proibido o contacto, seja de que forma for”.

Para Kim, a proximidade territorial entre as duas Coreias é, por si só, motivo para “haver união”. “Apesar do foco dos líderes da Coreia do Norte no poder militar, em armas nucleares, vemos na Coreia do Norte um país que tem de unir-se à Coreia do Sul, como no caso da Alemanha”, sustenta, lamentando que tal situação seja, por agora, utópica: “Neste momento, a interação económica e cultural entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul parou por completo e vai continuar assim nos próximos tempos”.

A posição de Kim é partilhada por Teresa Gomes, docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e especialista em Relações Internacionais, que vê a Coreia do Norte a “anos luz” da Coreia do Sul. A ditadura de um lado e a democracia do outro é sinónimo da impossibilidade de reaproximação: “Foi tão difícil chegar a diálogo para poderem aproximar famílias que já não se encontravam desde o tempo da guerra civil… agora imaginem a Coreia do Sul ter a capacidade de influenciar ou persuadir os norte-coreanos a adotar determinadas políticas mais flexíveis”.

Teresa Gomes denomina a Coreia do Norte como uma nação “realista”, que, por definição, é um estado cuja segurança militar se sobrepõe aos ideais, à Ética. “Estes ditadores centralizam todo o dinheiro do estado no investimento militar, e a Coreia do Norte, desde 2006, tem armas nucleares”, argumenta. As pessoas, essas, “são apenas peças de manobra na estratégia militar”.

Kim-Jong-un não é o líder ideal

Kim-Jong-un, filho de Kim-Jong-Il, neto de Kim-Jong-Sung, é o atual Líder Supremo da Coreia do Norte. Chegou a Pyongyang em 2011 e, pelo seu discurso inicial inebriante e, sobretudo, pela jovem idade (28), prometia uma maior liberdade ao povo e mais abertura a outros países.

Assim conjeturaram vários especialistas que se aperceberam, rapidamente, que tudo não passava de uma miragem. Kim-Jong-un assumiu uma posição repulsiva em relação ao resto do mundo e a suposta maior abertura deu lugar a inúmeras polémicas. “Ele é muito jovem. Acredita que pode fazer o que bem lhe apetece”, afirma H. Kim, opinião que é sustentada por Teresa Gomes: “O que se vê, até agora, é um retrocesso em relação ao pai. O pai, por exemplo, tinha permitido mobilidade entre pessoas da Coreia do Norte e do Sul e o filho veio pôr isso tudo em cheque”, conclui.