A Alfândega do Porto inundou-se de pessoas, este sábado, para assistirem às conversas do TEDxOporto deste ano. No início desta sexta edição foi perguntado a todos os participantes qual era a sua “Main Thing”, ao final da manhã e depois de serem analisadas todas as respostas, pode-se ver que as respostas mais comuns foram “Felicidade”, “Pessoas”, “Família”, “Amor”. A sessão deste sábado quis levar o público a refletir sobre o que verdadeiramente é importante nas suas vidas.

É preciso inspirar e expirar

No início do dia, Norberto Amaral subiu ao palco, logo a seguir a uma performance do músico M-Pex, para receber as pessoas e introduzir o tema sobre o qual se iriam incidir as conversas dos oradores presentes nos painéis. Um dos responsáveis pela organização da edição do TEDxOporto referiu vários acontecimentos mediáticos que se passaram ao longo do último ano, tais como a guerra na Ucrânia, queda de aviões ou as manifestações de estudantes em Hong Kong. Segundo Norberto Amaral, o tema desta sessão quis fazer com que as pessoas refletissem sobre as suas vidas, para que possam “voltar às raízes e, consequentemente, ver o que é importante”. Para ele, esta edição quis “mudar o mundo e mudar mentalidades”.

O primeiro orador a subir ao palco do TEDxOporto foi Daniel Brandão. O designer falou do projeto Museu de Resgate e de como é possível não perder a identidade cultural. Para Daniel, o importante é resgatar, pessoas ou histórias. Segundo o designer é importante entra em ação e assim conseguir recuperar coisas que, talvez, já estivessem perdidas.

José Peixoto conseguiu chamar de imediato a atenção do público quando levantou a questão sobre qual o animal mais mortífero do mundo. Poucas pessoas mostraram que sabiam que é o mosquito. De modo a combater este problema e outros do mesmo tipo, o empreendedor, deu a conhecer alguns produtos que podem salvar centenas de pessoas pelo mundo, com altas taxas de eficácia. O fundador da Smart Inovation disse que tudo o que é necessário é “muita persistência e depois acreditar”.

“Eu fiz diferente e enfrentei, façam diferente também”

Maria Nunes Pereira levou ao palco do TEDxOporto paixão. A investigadora disse que era isto que a movia. Depois de estudar no estrangeiro, a jovem percebeu o que queria fazer da sua vida. Além, “de a incerteza ser algo que assusta”, Maria percebeu que tinha de definir a sua carreira e que queria algo relacionado com a tecnologia para a saúde, de modo “a gerar algo com valor e de que o mundo precisa”. Com a apresentação de uma tecnologia para o tratamento de problemas no coração de bebés, a investigadora diz que pode fazer a mudança na vida dos outros e que todos devem “olhar para o mundo com um espírito crítico e fazer algo melhor.”

O bullying é uma realidade que cada vez mais está presente nas escolas e na vida das crianças. Catarina Alves, foi a oradora mais jovem que o TEDxOporto recebeu desde da sua existência, e subiu ao palco para ter impacto no público. Com apenas 14 anos a estudante afirma que ela “fez diferente”. Dirigiu-se aos participantes com uma atitude de revolta ao contar situações de bullying a que assistiu na sua escola. A todos aqueles que praticam o crime, Catarina diz-lhes que “as suas palavras podem tornar-se sangue”. A jovem apelou à consciência dos presentes e pediu ajuda para combater este crime, porque não pode vencer a batalha sem ajuda. “Eu sei que nós conseguimos juntos, eu fiz diferente e enfrentei, façam diferente também”, sublinhou Catarina.

Ao palco, no primeiro painel, subiu também Miguel Neiva que afirmou que não há ninguém que se goste de sentir diferente e rejeitado. O inventor do ColorADD diz que “A cor é para todos”, Miguel quer que os daltónicos tenham a perceção da cor como todos os outros ditos “normais”. E é isto que o move.

Descobrir ou Redescobrir

Durante um minuto os participantes foram convidados a ter uma conversa com a pessoa desconhecida do lado, esta experiência deu aso a um barulho quase infindável na sala de congressos da Alfândega. Pelo palco, passaram vários oradores, entre eles Luís Certo. Com apenas dois mil euros iniciais o empreendedor conseguiu criar uma aplicação para evitar e localizar as perda de objetos, um problema que afeta quase todas as pessoas diariamente.

As palavras não são apenas palavras, possuem sempre uma história e um enorme poder. Para a consultora linguística Sandra Duarte Tavares, com a carga afetiva que as palavras têm facilmente se “chega ao coração” do outro. Sandra apresentou várias situações na língua portuguesa que podem ter resultados ambíguos e, também, que existem erros que os portugueses dão no seu dia a dia mas que ninguém percebe o quão de errado nisso. No palco, a especialista referiu que “as palavras necessitam de ser como rios e não como montanhas”: têm de percorrer um caminho para que haja um sentido delineado. A consultora pediu aos participantes para lerem muito “literatura de qualidade”, pois dessa mania conseguiriam atingir uma riqueza linguística imensurável.

A plataforma Maria Capaz anda na boca das mulheres deste país. Rita Ferro Rodrigues e Iva Domingues subiram ao palco e de imediato captaram a atenção do oúblico ao perguntarem quem dali seria feminista. Com a apresentação de números chocantes sobre a violação em todas as formas que as mulheres sofrem, todos os dias, pelo mundo fora. As duas amigas afirmaram que só querem deveres, direitos e oportunidades iguais entre homens e mulheres. E contaram que já se sentiram descriminadas e penalizadas pelo facto de serem mulheres e de querer ter filhos ou por mostrarem uma opinião diferente da dos outros.

As fundadoras da plataforma Maria Capaz fizeram questão de dizer que as mulheres são muitas vezes vítimas de guerras que não são as dela e que “o feminismo nunca mata, já o machismo mata muito”. As jornalistas esperam que um dia, no futuro, a parte da diferença de tratamento entre os dois géneros e, todas as atrocidades cometidas a meninas e mulheres sejam parte de uma secção triste dos livros de história. No fim, apelaram à ação imediata dos participantes para combater esta injustiça.

Do sentir ao agir

A tarde do TedXOporto começou com a atuação dos Prana. O terceiro painel do evento arrancou com a palestra de Joe Santos, fundador da associação Vencer Autismo. Partido da experiência pessoal com crianças autistas, Joe desmistificou alguns mitos relativamente aos seus comportamentos: “Muitos médicos dizem aos pais das crianças que elas nunca vão ser autónomas, mas se essa esperança é inicialmente espezinhada, depois é superada.” De acordo com Joe, o autismo não é um beco sem saída: “Há que canalizar a destruição para a construção, uma vez que estas crianças têm capacidades que podem ser trabalhadas”, afirma.

Seguiu-se Sandra Vilarinho, terapeuta sexual, que descreveu como uma aventura o seu trabalho com o acompanhamento de casais.  A oradora proporcionou um momento interativo ao público, com a exploração do conceito de prazer através de chocolate embrulhado, distribuído pela audiência: “As expectativas, as preocupações, os julgamentos relativamente ao que vai acontecer é o que está mais presente nas problemáticas sexuais”, reconheceu.

O neurocientista Hugo Carvalho apresentou, neste painel, uma base de dados de filmes que pretendem estudar a forma como se processam os estímulos emocionais. Hugo explicou que “através da sincronização de diferentes tecnologias, queremos perceber os nossos comportamentos emocionais, por exemplo na tomada de decisões.”

Paulo Ferreira dos Santos, empreendedor, começou a sua palestra com a noção da importância das conquistas coletivas na “ The Main Thing”. É autor de uma tecnologia que lida com o movimento, para poder informar e melhorar a qualidade de vida das pessoas: “Com esta tecnologia, o alzheimer poderia ser detetado com mais antecedência, devido à informação sobre os movimentos dos pés”, esclarece.

Jonathan MacDonald, fundador da Thought Expansion Network, marcou presença no TedXOporto pela segunda vez, dando o mote para o evento (“The Main Thing”). Jonathan contou o episódio da sua vida em que investiu num negócio e perdeu tudo. Poderia ser o fim de um sonho, mas o orador descobriu a sua vocação: ajudar os outros a encontrar o seu propósito. “Relacionar a crença com a produção através do investimento”, “relacionar o comportamento com o propósito através do design” e “relacionar a visão à mudança através da persistência”, foram as máximas apresentadas pelo orador.

O painel terminou com a homenagem a Manuel Forjaz, fundador do TedxOporto, pelo filho António Forjaz, que salientou a curiosidade que servia de guia na vida de Manuel, descrito como “uma pessoa de pessoas”. António criou ainda pretexto entre os membros desconhecidos da plateia e, ao jeito do pai, afirmou a riqueza das histórias: “Cada pessoa tem uma história incrível. Qualquer um de vocês poderia ser Ted Speaker”, disse.

(Fazer) pensar através das artes

Pedro Lamares, ator e encenador, foi o primeiro orador do último painel do dia e falou ao público sobre a poesia e o sonho. Apaixonado pela recitação de poesia, Pedro abordou a sua desvalorização devido à competitividade e quantificação feita no seu ensino: “Os seres humanos têm a capacidade de pegar em algo que os desmultiplica e transformá-lo em algo que os limita”. Na sua opinião, a poesia devia ser apreciada como algo maior que o desdobramento em que a tornam: “Luís de Camões, de certo, não sabia o que eram as figuras de estilo nem as rimas pobres e ricas”, afirmou. Pedro Lamares incluiu, na sua palestra, a recitação de poemas como “O Guardador de Rebanhos”, de Alberto Caeiro e “Portugal”, de Jorge Sousa Braga.

Seguiu-se o artista de rua Miguel Januário, autor do projeto “maismenos”, que pretende impulsionar a intervenção social um pouco por todo o país. Surgiu de uma crise de identidade de Miguel enquanto estava no curso de Design e deu origem a um movimento que tem crescido progressivamente: “A ideia é pôr as pessoas a discutir Portugal, fazê-las pensar e a intervir”, contou.

O terceiro orador deste painel foi João Medeiros, editor de ciência da revista Wired, que declarou logo no início da palestra gostar de falar de ciência a quem não gosta do tema. João revelou, ao público, um facto improvável: Um voluntário num projeto científico consegue descobrir coisas mais rapidamente e facilmente que um cientista. Segundo João, isto decorre porque “o cientista está tão ocupado que não tem tempo para ser surpreendido”.

Omar Al Abdallat, cartoonista jordano, encerrou o painel com a apresentação de alguns dos seus trabalhos, a par de um discurso sobre os problemas relacionados com a liberdade de expressão e religiosa, recorrentes no Médio Oriente. Omar abordou a proliferação dos ditadores nessa parte do mundo, contou algumas histórias relacionadas com a repressão dos seus desenhos, mas terminou a sua Talk com uma nota positiva: “Ser um verdadeiro cartoonista é ter uma mensagem”.

O evento terminou com a atuação de Artur Carvalho e com a certeza de trazer mais conhecimento ao público na próxima edição. Para quem perdeu esta edição, o  próximo TedxOporto já está agendado e vai acontecer no dia 17 de abril de 2016 com o tema “Enigma”.