O Clube de Judo do Porto (CJP) festejou, este mês, o 50.º aniversário. Tudo começou quando Manuel Reis, fundador, descobriu o ju-jutsu (latim para judo), nos anos 40. Inicialmente, treinou de forma independente, pois ninguém conhecia a modalidade. Um dia, encontrou um turista francês que sabia judo. O estrangeiro comprometeu-se a enviar o irmão, também judoca, para ensinar a arte marcial em Portugal. Assim nasceu o Clube de Judo do Porto.

Um clube com história

Numa primeira fase sob o nome Círculo de Judo do Porto, foi transformado em Clube de Judo do Porto por Manuel Reis e Paulo Pinto. Desde então, tem sido vanguardista no ensino do judo em Portugal, trazendo a Portugal figuras como os mestres de judo Yōsuke Yamamoto e Frigyes Torok, nos anos 60 e 70. “Foi um feito conseguir trazer o Yamamoto e o Torok numa altura em que não havia Internet e a tecnologia e os aviões não eram o que são hoje”, afirma Albino Costa, presidente do Clube de Judo do Porto.

A história do Clube de Judo do Porto estava apenas a começar. Anton Geesink, o primeiro europeu a ganhar a um japonês na final dos Jogos Olímpicos de 1964, ano em que o judo se tornou uma modalidade olímpica, foi também convidado do Clube. Em 2000, uma delegação de 12 judocas do CJP, cintos negros, esteve na sede mundial de judo, o Kodokan, no Japão. Foram recebidos por Tsuneo Sengoku, na altura instrutor da polícia japonesa. “Foram dos pouquíssimos ocidentais autorizados a treinar na academia da polícia de Tóquio”, esclarece Albino Costa.

Paulo Pinto, de 80 anos, é um dos membros fundadores do Clube de Judo do Porto e, atualmente, o mais velho praticante do desporto. Começou por ter aulas particulares, no tempo em que a modalidade era desconhecida, mas o ensino do judo era ainda rudimentar: “Só nos ensinavam a fazer os movimentos, mas o judo faz-se da troca entre adversários, para que nos possamos adaptar ao corpo deles, porque todos têm diferentes características”, esclarece.

Paulo Pinto descreve o judo como “a arte de cair”, uma vez que assenta neste princípio, em que as pessoas são projetadas e batem no chão com uma força razoável, absorvendo a maior parte do choque. Segundo Paulo, “é raro alguém magoar-se”.

Um desporto para todos

O ensino do judo vai desde os 4 aos 80 anos e pode ser levado a cabo como um desporto de combate, exercício físico, auto-defesa, ou apenas para relaxar ao fim do dia. Albino Costa assegura que o judo é “um projeto pedagógico de desenvolvimento físico e intelectual”, tendo sido nomeado pela UNESCO como o desporto ideal para crianças e jovens dos 4 aos 21 anos.

O judo no Japão

No Japão, o judo é obrigatório desde o ensino primário até à universidade. É dado durante os cinco anos de universidade, prova da importância que assume na sociedade e cultura japonesas.

Jigoro Kano, criador do judo, disse, uma vez: “Nada debaixo do sol é maior do que a educação”. O Clube de Judo do Porto aplica esta máxima ao ensino do judo, uma vez que tenta que os alunos levem os ensinamentos do desporto para a vida em sociedade. João Fernandes, diretor, afirma que “as crianças que praticam judo, de uma forma geral, são mais controladas e serenas”.

Albino Costa, presidente, acrescenta que “muitos jovens com percursos escolares erróneos ganham esse empurrão para os estudos”. Além disso, reconhece que “são crianças que não se metem em confusões, precisamente por saberem que têm essa força que pode deixar os outros magoados”.

O CJP também dá formação de judo a alunos invisuais. João Fernandes esclarece que esta é a modalidade “adequada para cegos”. Isto deve-se à utilização eficaz dos sentidos, que leva mais longe a sensibilidade deste tipo de alunos. “Normalmente, as pessoas não usam a visão de forma correta, porque distraem-se com os movimentos do adversário e acabam por perder tempo”, clarifica João.

Ao longo dos anos, o clube tem vindo a fomentar iniciativas que levem o judo até todos. Albino Costa exemplifica com a existência de judo nas Instituições Particulares da Segurança Social (IPSS) da Sé do Porto, as aulas promovidas nas diversas freguesias do Porto e em bairros como o Aleixo e São João de Deus.

Nem a crise impede a formação

No Clube de Judo do Porto, todos os alunos têm percursos diferentes. A vertente da competição não é impingida, mas quem quer competir tem o dojo à disposição todos os dias. O presidente do CJP, Albino Costa, participou no Europeu de 1990 e refere ter havido vários atletas do clube em competições mundiais e europeias.

O facto é que nem a crise põe em causa a formação de judo, seja com fins competitivos ou desportivos. As famílias com dois ou três filhos inscritos fazem, segundo João Fernandes, “um grande esforço para não cortar o vínculo com o judo”. O fato é uma das vantagens do desporto, uma vez que “dura uma vida” e “torna o judo um desporto barato”.

O judo é um desporto que, se por um lado se faz com a existência de adversários, por outro, permite fazer amigos e deixa marca: “Temos antigos alunos que estão fora por causa da vida profissional e, quando voltam, a primeira coisa que fazem é vir dar um beijinho à D. Fernanda [rececionista do CJP], que os conheceu quando tinham 5 anos e hoje têm 25”, conta, ao JPN, Albino Costa.

As aulas de judo decorrem duas a três vezes por semana no complexo do Clube de Judo do Porto. É, ainda, possível aprender aikido, uma modalidade de defesa que se baseia no desequilíbrio do adversário.