A empresa criativa Jump Willy, fundada em 2007 na cidade do Porto, foi galardoada com um Remi de Ouro na categoria de “Filme de Turismo”. O prémio foi atribuído durante o WorldFest – Houston International Film Festival, um conceituado evento que já premiou nomes relevantes como Steven Spielberg, George Lucas, Francis Ford Coppola, David Lynch, Randal Kleiser, Spike Lee, Oliver Stone, John Lee Hancock, Ridley Scott, os irmãos Coen e Ang Lee.

A viver atualmente em Hong Kong, onde abriu um escritório da Jump Willy, o cofundador João Seabra garante que esta vitória é uma “grande honra” que irá ficar para sempre na história da empresa. “Num evento com mais de 60 anos nos Estados Unidos e, sabendo que este ano tiveram mais de 4500 candidaturas, só a nomeação foi logo motivo de vitória”, afirma.

A História

João Seabra foi convidado a lecionar assim que terminou o curso na Universidade Católica Portuguesa, no Porto. Durante o primeiro ano, fez parte da equipa que viria a criar o primeiro mestrado do país em Cinema de Animação por Computador. Foi também responsável pelo Centro de Criatividade Digital, um centro de cursos certificados internacionalmente pela Apple, Autodesk e Avid.

Pedro Marques frequentou a mesma universidade. Estagiou na Riviera, uma prestigiada empresa sueca de composição musical para publicidade e cinema, onde lhe foi oferecido o cargo de compositor musical e no qual trabalhou durante alguns anos.

Em 2007, fruto de um reencontro e de uma vontade comum que os fundadores não sabiam que partilhavam, nasce a Jump Willy. “O Pedro e eu trabalhávamos em projetos pontuais, na verdade tínhamos outros empregos: eu dava aulas na Universidade Católica e o Pedro trabalhava para a Riviera. Nos poucos projetos que fazia como freelancer, queria sempre trabalhar com o Pedro. Não eramos amigos próximos mas sim fãs do trabalho um do outro, ainda hoje o somos”, conta.

Um dia, por mero acaso, encontram-se num aeroporto europeu e falam do que, um dia mais tarde, viria a ser a Jump Willy. “Confesso que fraquejei após essa conversa, pois gostava muito de dar aulas de Animação 3D na Católica e, mesmo sendo a Jump Willy um sonho a concretizar, foi difícil deixar a segurança e o prazer que a UCP me dava naquela fase inicial da vida. Abrir a Jump Willy implicava deixar de ter a segurança de um salário e investir grande parte das poupanças que tinha naquela idade”. Ainda assim, o sócio fundador Pedro Marques não desistiu: “Ele enviou-me um email por dia, durante um ano, até eu aceitar o desafio de avançarmos com a Jump Willy”, recorda.

E, tal como o nascimento da empresa, o nome surgiu de forma peculiar: “O nome vem de dois princípios, um mais sério que o outro. O menos sério é em homenagem aos Simpsons, já que ambos somos fãs, em particular a um antigo episódio em que o Homer vê o filme ‘Free Willy’. Nesse episódio, o Homer grita para a televisão “Jump Willy, jump!” mas a orca, ao contrário do filme, não salta o suficiente e o miúdo não sobrevive ao impacto. O princípio mais sério vem de uma lista de nomes (muito pouco sérios) que tínhamos criado, e este era o termo com menos resultados no Google na altura. Tendo em conta o nosso baixo orçamento para projetar uma imagem internacional isto deu-nos uma vantagem: sermos o primeiro resultado caso pesquisassem pelo nosso nome. Hoje em dia, uma pesquisa por ‘Jump Willy’ em qualquer país apresenta, não só o nosso site, como dezenas de artigos, notícias e vídeos relacionados connosco”.

A Filosofia

Desde o primeiro minuto que os fundadores decidiram inverter os princípios pelos quais se regem a maioria das empresas e é provável que o seu êxito se deva, em grande parte, a esta decisão. Perceberam que, numa empresa criativa, o sucesso só poderia ser alcançado através de um ambiente positivo e focado no bem estar da equipa: “Nos bons e maus momentos tentamos sempre por a equipa em primeiro lugar, pois sem uma boa equipa não poderemos fazer trabalho premiado para os nossos clientes. Por isso, sempre disse que primeiro está a equipa e em segundo lugar estão os clientes…apesar da constante inversão destes elementos por todo o mundo. Não acredito noutra filosofia dentro de uma empresa criativa”.

A Jump Willy pelo Mundo

A Jump Willy espalhou-se pelo mundo, com escritórios em Los Angeles, Londres (entretanto encerrado) e Hong Kong. E é com este conhecimento do mercado internacional que João Seabra afirma que “Portugal tem uma massa criativa de grande valor”: “Vivo há ano e meio em Hong Kong, um dos maiores pólos financeiros e empresariais do mundo, e não encontro, na média, qualidade superior à que vejo em Portugal. O que vejo de diferente é a ligação e dependência ao governo, o sistema de impostos, a burocracia, e outros pontos externos às empresas que em Portugal cortam o sucesso e o crescimento das pequenas e médias empresas”.

Acredita, também, no potencial nacional e numa solução para a atual situação financeira do país: “São zonas do mundo bastante diferentes e mercados com escalas totalmente distintas, mas não consigo deixar de comparar duas abordagens tão diferentes. Acredito que, tomando decisões críticas em prol das pequenas e médias empresas, Portugal irá conseguir sair da crise e florescer economicamente nas áreas das tecnologias e turismo”.

A Ásia é sempre associada aos avanços tecnológicos e digitais, mas isto não veio afetar a entrada da Jump Willy neste mercado. “Nós posicionamo-nos em Hong Kong pela criatividade. Não queremos competir pela tecnologia, mas sim trazer para Hong Kong a reconhecida criatividade europeia. No entanto, Hong Kong, como qualquer outra grande cidade do mundo, tem um mercado difícil de penetrar, competitivo e duro. Alia-se a isto o facto de ser um dos locais mais caros do mundo para viver ou montar empresa, em particular pelo grande peso das rendas devido à escassez de espaço na cidade. Quando tenho dias menos bons na Jump Willy, lembro-me da vitória que é termos conseguido estar cá, saudáveis, a caminho dos dois anos, sem recurso a quaisquer investimentos externos, empréstimos ou apoios financeiros”, afirma.

A Jump Willy por casa

Para João Seabra, o apoio daqueles que os rodeiam tem sido fundamental no crescimento da Jump Willy: “Não acredito no sucesso de uma pequena empresa, que nasceu e cresceu sem apoios financeiros externos, sem a grande dedicação de quem a gere, da sua equipa, das nossas famílias e amigos. Não imagino navegarmos a Jump Willy nestes últimos anos sem total dedicação profissional. Teríamos certamente desistido nas alturas em que tivemos momentos difíceis.”

Para além de todo este sucesso, há também espaço para uma vida pessoal plena: “Não imagino, também, tal dedicação sem o equilíbrio de uma vida para além do trabalho. No meu caso, dedico muito do meu tempo à Jump Willy, é uma fase necessária, mas uso o tempo livre que tenho de modo intenso. Viajo sempre que posso, em especial para lugares que contrastem com o sítio onde vivo e trabalho. Tenho também sorte no equilíbrio e apoio incríveis que recebo da minha mulher, da minha família e dos meus amigos em Portugal e em Hong Kong. Criar uma empresa é, na maioria dos casos, uma maratona ao calor, com pouca água e o suor em forma de stress e preocupações. Mas os apoiantes pelo caminho e as variadas metas no percurso, fazem-me não querer trocar isto por nada”.

O Reconhecimento

Para além do Remi Award, a empresa já havia sido distinguida com os prémios de Best Digital Entertainment Startup (Hong Kong ICT Awards), Cannes Corporate Media & TV (na área de vídeos e filmes institucionais), Best Young European Creative Talent (atribuído a João Seabra), Best Young Filmmaker (Vila do Conde International Film Festival) e Best Animation (NOS). Para o fundador, este reconhecimento é sempre bem vindo: “Os prémios trazem-nos sempre reputação e respeito, pois são eleitos entre muitos milhares de candidatos, por um grande painel de júris regionais ou internacionais, da área. Por exemplo, este prémio de Best Digital Entertainment Startup Award nos Hong Kong ICT Awards vem numa fase muito importante para nós, em que estamos a reforçar a nossa imagem num mercado tão duro e difícil como Hong Kong. Um prémio como este, que é um dos prémios mais prestigiados de Hong Kong por ser atribuído pelo próprio governo, traz-nos bastante reconhecimento local, junto dos nossos clientes e, espero eu, cativará muitos mais”, remata.