Pedro Vieira, antigo aluno da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e investigador do Instituto Perimeter de Física Teórica, sediado no Canadá, é o vencedor da edição 2015 da prestigiada medalha Gribov. 

De dois em dois anos, a Sociedade Europeia de Física (European Physical Society) atribui este galardão a um jovem investigador que se destaque nos campos da Física Teórica de Partículas e/ou Teoria Quântica de Campos. O prémio consiste numa medalha e num prémio monetário.

Licenciado em Física pela FCUP (2004) e doutorado pela mesma instituição (Centro de Física do Porto) e pela Ecole Normale Supérieure (2008), Pedro Vieira está no Instituto Perimeter desde 2009 e é o primeiro português a receber a medalha Gribov. Segundo a European Physical Society, o físico de 32 anos contribuiu de forma “revolucionária para a determinação do espetro exato de dimensões anómalas da teoria supersimétrica N=4 de Yang Mills”.

Vladimir Gribov

Vladimir Naumovich Gribov foi um físico teórico que trabalhou em Física de altas energias, a teoria quântica de campos e a teoria Regge das interações fortes. Gribov fundou e liderou uma influente escola de Física de partículas elementares teóricas em Leninegrado, atual São Petersburgo, na Rússia.

Em declarações ao site do Instituto Perimeter, Robert Meyers afirma que o trabalho desenvolvido por Pedro Vieira contribuiu “para uma melhor compreensão conceptual e prática da teoria quântica de campos, linguagem na qual se baseia a Física de partículas, a Física da matéria condensada e grande parte da cosmologia”.

Por isso mesmo, “estamos deliciados por ver o trabalho do Pedro reconhecido desta forma. Ele tem uma rara combinação de talento matemático e intuição Física e tem feito um trabalho notável. (…) É um jovem cientista verdadeiramente extraordinário”, concluiu o diretor da instituição.

Teoria N=4

Pedro Vieira confessa ao JPN que receber este galardão é uma grande honra. No entanto, partilha o mérito com os seus colaboradores, sem os quais “nunca teria conseguido” alcançar este reconhecimento.

Sobre a teoria N=4, que lhe valeu o prémio, Pedro Vieira explica que é uma teoria muito parecida com as teorias de partículas que descrevem a Física a altas energias, como as energias testadas na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN). “É uma teoria que é rica e difícil suficiente para nos permitir desenvolver novas técnicas físicas, matemáticas e computacionais que, depois, podemos aplicar em muitas outras teorias, tais como as que descrevem o universo em que vivemos”.

Pedro Vieira e a sua equipa conseguiram “dominar esta teoria” e retirar dela várias previsões físicas. Isso só foi possível graças ao desenvolvimento de novas técnicas e formas de pensamento complementares às técnicas usuais. “O que fizemos é, num certo sentido, apenas o início. A resolução completa desta teoria e o transporte dos métodos desenvolvidos para teorias mais realistas é o próximo passo”, termina o físico português.

Desafios do futuro

A ciência está em constante evolução e a Física não é exceção. São várias as questões que geram discussão no mundo da disciplina e Pedro Vieira deixa no ar algumas delas.

“Qual a natureza do espaço-tempo? Será que o espaço e o tempo são quantidades secundárias, emergentes a partir de conceitos ainda mais simples? Existe uma descrição holográfica do nosso mundo? Isto é, estaremos nós dentro de um holograma?”. Algumas destas questões parecem saídas de um filme de ficção científica, mas todas elas estão relacionadas com ideias muito concretas e cálculos muito precisos que podem ser elucidados quando for encontrada a solução completa da teoria de N=4 de Yang Mills.