É muito simples. A vida torna-se difícil, por vezes, certo? Por mil razões, toda a gente tem “bagagem”. De mão, de porão, ou que, por vezes, precisa de ficar retida na alfândega. Desde o namorado/a que não é aquilo que parecia ao emprego mal pago. As discussões que não se podem ganhar com os pais, a sensação de enfrentar tudo sozinho, ou apenas mais um dia cinzento. E se, mesmo que só por alguns instantes, alguém pudesse carregar essa “bagagem” por nós?

O Emotional Baggage Check é um website sequela do Emotional Bag Check, criado em 2011 por Roby Overstreet, um professor e programador informático americano, cujo objetivo é ser o “ombro” onde se deixa a “bagagem” que se pretender e com uma possibilidade de resposta, no mínimo, original – a música como o melhor remédio.

“Check it” ou “Carry it”

A página divide-se em dois conceitos que andam lado a lado. Não é só para quem precisa de ajuda, mas também para quem gosta de ajudar. Uma pessoa que visite o site pode experienciar dois momentos: o check it ou o carry it. O check it é direcionado a quem procura um desabafo, a quem vê no Emotional Baggage Check um lugar seguro, sem nomes – o site gere-se segundo a política de anonimato, apenas requer um endereço de e-mail que não é tornado público – e onde os dias cinzentos de uma pessoa não passam despercebidos e merecem a atenção de outra.

Heavy Bag

Quando tudo falhar, o site também tem algo novo: o tópico “Heavy bag”. Com links para outros sites para quem, como o próprio nome indica, carregue “bagagem” mais pesada e procure ajuda profissional.

Por vezes, a maior dificuldade surge mesmo em admitirmos que não somos invencíveis, que somos vulneráveis, perante aqueles que conhecemos. É aí que surge a importância do carry it. Esta é a parte da página dedicada a quem quer ajudar. Não é preciso ser-se psicólogo, médico, ou um qualquer tipo de mediador emocional. É preciso, sim, disponibilidade emocional na hora de “carregar a bagagem”. São tantas as histórias, as vidas, que, por vezes, quem “ouve”, até se identifica e ganha especial interesse em cuidar desse alguém.

Catarina, ou Oh Kori – nome do blogue onde descreve os seus assuntos preferidos numa espécie de diário -, tem 23 anos, é psicóloga e entende melhor que ninguém a necessidade de ter alguém a quem “despejar” sentimentos. “Às vezes não podemos/conseguimos fazer muito mais do que validar os sentimentos expressos pela pessoa que escreveu a mensagem e, embora muitas vezes isso não pareça muito, é um pressuposto essencial a qualquer pedido de ajuda. Saber que alguém aceita a nossa preocupação e que esta tem sentido. Isto pode ajudar mais do que imaginamos”. E, depois de ouvir, o que fazer?

A música é o melhor remédio

O “carrier” podia simplesmente escrever de volta, mas existe aqui uma ideia diferente. As palavras podem faltar na hora H ou não fazer jus àquilo que o “checker” partilhou, ou, simplesmente, não serem o melhor conforto. A resposta pode então muito bem ser uma música qualquer. O “carrier” pode escolher uma música ao seu gosto para chegar a outra pessoa, mas o que interessa é que contenha a mensagem que quer transmitir.

O conceito é original. Foi no Tumblr que Catarina ficou curiosa com a descrição do site – “um lugar onde temos a oportunidade de ‘deixar as nossas preocupações’, como se de bagagem se tratasse, e vermos que alguém, sem nome ou cara, escolhe conscientemente ajudar-nos a lidar com o peso dessa mesma bagagem”. Apesar de já não visitar o site tanto quanto gostaria, sempre que pode tenta “carregar algumas bagagens”.

Na hora de falar sobre as histórias que já conheceu, a psicóloga apenas diz que as melhores foram aquelas que lhe relembraram a inocência e a simplicidade da alma humana. Histórias em que a solução pareceu tão clara para o leitor, mas tão codificada para quem a escreveu.

Emotional Baggage Check não é um site de psicologia, é sim uma plataforma que dá um certo tipo de esperança a quem por vezes não sabe, não tem onde procurar. Por outro lado, pode-se fazer a diferença na vida de alguém simplesmente por escutar, ou “dando música”. Hoje, alguém precisa, amanhã pode ser cada um de nós a precisar.