As portas do Queimódromo abriram-se, nesta quinta-feira, acompanhadas pela incerteza relativamente ao tempo. Eram poucas as pessoas que estavam no recinto, ao início, e concentravam-se, na maioria, em frente ao palco principal, com o propósito de aproveitar os concertos que o sexto dia da edição 2015 da Queima das Fitas do Porto tinha para oferecer. Inicialmente, verificou-se uma baixa afluência do público, que viria a crescer com o passar das horas e com a paragem da chuva.

The Walks

Os portugueses The Walks abriram os hostilidades no palco principal do Queimódromo e tinham a difícil tarefa de conquistar o público, na altura, maioritariamente, composto por pessoas mais adultas que esperavam com muita expectativa o concerto dos Xutos e Pontapés. Subiram ao palco por volta das 23h, começando aquela que seria uma performance marcada pela explosão sonora e pelo movimento, embora o Queimódromo se mostrasse ainda algo tímido durante  o concerto da banda de Coimbra.

Aos poucos, o público ia-se compondo e começavam a ver-se algumas camisolas de curso e cartolas no ar. O som dos The Walks chamou os estudantes para o palco, com guitarras distorcidas, um forte acompanhamento rítmico e uma parte vocal que os faz assemelharem-se muito ao som produzido pelos suecos The Hives. Devagar, o Queimódromo foi sendo conquistado, embora a banda tivesse consciência de que abrir o concerto para Xutos não fosse, à partida, tarefa fácil: “Vocês estão ansiosos para ver os Xutos e Pontapés, mas vão ter de levar connosco mais um bocadinho”, confessou o vocalista, em tom de brincadeira, ao público.

A banda de Coimbra tocou pela primeira vez ao vivo o tema “Holdin’ on”, na Queima das Fitas do Porto, e dedicaram o tema “Clockwork” aos estudantes universitários, criando uma ligação com o público. O vocalista John Silva chegou mesmo a afirmar: “Nós somos de Coimbra, que é a cidade dos estudantes, mas hoje a festa é aqui no Porto”. Dessa forma justificou a escolha do local para estrear a faixa, até porque gravaram o novo álbum no Porto “para preservar a qualidade”, demonstrando assim o seu apreço pela cidade.

O tema “Redefine”, do primeiro EP gravado pela banda, animou o ambiente, talvez por ser uma música com presença habitual na tracklist de várias rádios. Este foi o primeiro concerto da banda com a nova baterista, Paula, que conquistou o público com batidas no tempo certo e uma presença vincada de poder sonoro. Com a duração de cerca de uma hora, o concerto acabou com um solo de guitarra acompanhado de perto pela percussão e com a última interação da banda com o Queimódromo, agradecendo o apoio do público portuense àquele que foi um concerto competente e cativante dos The Walks: “Apesar de o tempo não ter estado do nosso lado, obrigado por tudo”.

Xutos e Pontapés

Depois do concerto dos The Walks, o Queimódromo começou a ficar mais lotado e era notória a adesão do público ao palco principal da Queima das Fitas do Porto, enquanto se viam os primeiros preparativos para o concerto dos Xutos e Pontapés. O palco ia sendo moldado, os instrumentos repostos e procedeu-se à colocação da habitual bandeira em tons de vermelho com um “X” no centro, onde se podia ler “Circo de Feras”, bem como de uma bandeira portuguesa junto à bateria de Kalú.

Passavam 15 minutos da meia noite quando as luzes baixaram e o público percebeu o que aí vinha. O primeiro membro a pisar o palco foi João Cabeleira, seguido pelos restantes elementos da banda, dando assim início ao concerto. Notou-se que a Queima do Porto está habituada aos Xutos, tanto como a banda parece estar habituada ao local: performance sólida, competente, capaz de mexer tanto com os mais novos, como com os mais velhos. Na passada quinta-feira havia famílias inteiras a verem um concerto, algo que não é habitual numa celebração académica deste género.

Depois de tocarem quatro músicas, Tim despediu-se do público, que rapidamente percebeu que aquilo não seria uma despedida, mas sim uma preparação para os habituais clássicos que aí vinham: “Circo de Feras”, “À minha maneira”, “Chuva Dissolvente” e “Homem do Leme” foram alguns dos habituais hinos que ecoaram no Queimódromo na noite passada, provocando braços no ar e abraços de grupo contínuos de várias porções do público.

Este concerto marcou a celebração dos 36 anos de carreira dos Xutos e Pontapés. A meio do concerto, Tim dirigiu-se ao público para introduzir a canção “Lisboa”, ao qual o público respondeu em uníssono com um forte cântico pelo nome da cidade do Porto. Os elementos dos The Walks misturavam-se com o restante público e também eles quiseram assistir à banda comandada por Tim. O público gritava muito pelo guitarrista Zé Pedro, que acabaria por dirigir algumas palavras ao público, afirmando: “Todos estes anos de carreira seriam impossíveis sem vocês (público). Foi um gosto estar aqui, obrigado”.

O concerto ficou também marcado por uma interação entre Kalú e a audiência, onde o baterista contou um episódio relacionado com um quadro que lhe tinha sido oferecido nesta quinta-feira por Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do Futebol Clube do Porto, felicitando a banda pela longevidade da carreira. Depois de vestir uma camisola do clube, que lhe havia sido atirada para o palco, Kalú regressou à bateria e o concerto prosseguiu com “Dia de S. Receber”. A última a ouvir-se foi “Maria”, que marcou a despedida entre a banda e o público. Viam-se braços cruzados em forma de “X” e muitos aplausos para aquela que é já uma banda habitual na Queima das Fitas do Porto.