A ideia de trazer a Design Factory para o Porto foi o resultado de uma reflexão, que incluiu docentes e alunos, e que começou em 2013 no Instituto Politécnico do Porto (IPP). Desta forma, no início desta semana deu-se a inauguração do Porto Design Factory (PDF), aquela que é a sétima “fábrica” a abrir em todo o mundo. A primeira nasceu em Helsínquia, na Finlândia.

Educação a partir da paixão e da criação própria

Segundo Rui Coutinho, responsável pela importação da ideia para o Porto, houve a perceção de que seria altura de apoiar e incentivar os alunos ao empreendedorismo, de forma mais profunda. A missão a que o IPP se propõe com a criação deste projeto é de educar pessoas, cidadãos que fiquem preparados para desafios futuros, para um mundo real cada vez mais exigente.

A PDF quer, assim, explorar as competências não tradicionais e obrigar os estudantes a trabalharem de uma forma interdisciplinar, incentivando sempre o trabalho em equipa. “A ideia de interdisciplina é o centro do nosso projeto educativo. O mundo procura pessoas que saibam gerir orçamentos, equipas e ideias. Ao educarmos melhores cidadãos estamos a contribuir para o espírito de empreendedorismo, também”, refere Rui Coutinho.

“Co-pensar. Co-criar. Co-existir”

Para o responsável, o principal objetivo não é que da PDF saiam startups, mas sim conseguir que se derrubem barreiras científicas e profissionais, encontrando um ponto de encontro entre as áreas científicas, a indústria e a sociedade. Desta forma, a necessidade do incentivo à criação de programas que, de facto, criem cidadãos mais preparados para as necessidades e desafios do mundo, foi prioritária para a ideia da PDF.

Com as diferentes áreas das diferentes escolas pertencentes ao Politécnico do Porto foi visível que ainda havia lacunas que poderiam ser preenchidas com novas ideias e programas. A ideia de haver uma criação em conjunto, feita e pensada em equipa, e que junte pessoas de várias áreas, torna as soluções para os problemas da sociedade mais reais.

O projeto inspirado no que já se fazia na Universidade de Aalto, na Finlândia, não quer ser uma cópia do que já existe, uma vez que a origem não é a mesma, nem os objetivos, mas quer ser um local onde a educação interdisciplinar e as soft skills sejam potenciadas. Para Rui Coutinho, a PDF pretende criar um lugar onde o estudante é o reponsável, mas também responsabilizado pela co-criação e pelo desenho da própria educação.

Desta forma, isto pode ser possível havendo a possibilidade de trabalho junto da sociedade com problemas reais, projetando a prototipagem de soluções. Isto é, também, um objetivo da PDF, ou seja, obter produtos que sejam tangíveis. Mas os produtos do virtual e do software não ficam de fora desta “fábrica”.

O edifício

O edifício que acolhe o Porto Design Factory encontra-se ao lado das instalações do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), no pólo da Asprela, e é constituído por três andares, onde as salas e laboratórios são utilizados pelos alunos do IPP. Está aberto 24h por dia a todos os envolvidos, mas não há lugares reservados para sempre. Alguns projetos terminam e outros iniciam-se.

“Eu diria que não há limites. Estamos envolvidos em tipos de coisas distintas, desde a construção de instrumentos de música diferentes à tecnologia na saúde ou ao empreendedorismo social”, acrescenta Rui Coutinho.

A PDF é a sétima num universo de 11 instituições no mundo e as diferentes áreas científicas que as escolas que fazem parte do Politécnico do Porto abrangem têm importância para o projeto. Segundo o responsável, “aqui combina-se inovação tecnológica, engenharia com design e ciências empresariais, e mais, se possível”. “Queremos abordar problemas da nossa sociedade e queremos contribuir para a solução dos mesmos”, refere.

Já no próximo ano, a PDF espera ter cerca de mil estudantes do Politécnico do Porto envolvidos nos seus projetos. Mas, para Rui Coutinho, este número não é vinculativo e não existe uma meta específica, apenas a de melhorar, cada vez mais, a oferta educativa. De forma a atingir este objetivo, o desenvolvimento de programas internacionais é fundamental e, neste sentido, já estão a ser feitos progressos.

Assinados já estão dois acordos com instituições estrangeiras. Um deles com a Universidade de Aalto, que vai permitir aos alunos o trabalho com algumas das maiores empresas mundiais, e um segundo acordo com o CERN, onde os estudantes envolvidos têm a possibilidade de estar ao lado de investigadores do centro de pesquisa.

MUDEI – Música, Design e Engenharia para a inovação e internacionalização

Um projeto onde estão envolvidas várias instituições de ensino estrangeiras. Consiste na projeção e construção de seis novos instrumentos musicais. Os alunos da Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo (ESMAE) estão responsáveis para a composição de uma peça para um instrumento que ainda não é real e os alunos do ISEP e da Escola Superior de Estudos Industriais e de Gestão (ESEIG) estão responsáveis pela sua construção.

A qualificação dos sistema educativo é essencial e a PDF acredita que as colaborações internacionais são fundamentais. No próximo ano letivo vai abrir uma pós-graduação em Product Innovation, em conjunto com a Universidade de Stanford, na Califórnia, onde os alunos e os docentes das duas instituições vão estar envolvidos e trabalhar com quatro multinacionais.

O financiamento comunitário para este projeto foi essencial para o arranque e para este início, mas nos próximos dois anos espera-se que a PDF consiga criar fundos suficientes, nas colaborações com a indústria e com a sociedade, para que se torne sustentável e autónoma financeiramente. O objetivo é que cerca de 75% dos fundos sejam de receitas próprias.

Por agora, o único limite é apenas o tempo. Para o responsável do projeto no Porto, “tudo é possível”. “Queremos ser livres para co-criar aquilo que serão as soluções do futuro para a nossa sociedade”, afirma.

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