O evento é apresentado numa panóplia de projetos, que vão desde a música às artes performativas como teatro ou a dança, e de lugares, como por exemplo, o Bairro da Pasteleira ou a Rua do Heroísmo. O sentido de comunidade será sentido um pouco por todo o evento, como o foi em 2014, o primeiro ano do “Cultura em Expansão” e que garantiu o sucesso de uma próxima edição. Em 2015, a cultura vai voltar a locais do Porto, nem sempre conotados com vida artística da cidade, mas que pela diversidade e riqueza das histórias e pessoas, revelam-se inspiração para a criação das mais variadas obras.

A Mala Voadora aterrou no Porto em 2013 e agora além de fazer parte da família cultural da Invicta, é também uma contribuidora importante no “Cultura em Expansão”. Em junho terá oportunidade de apresentar “Título e escritura”, em estreita parceria com a Associação de Moradores do Bairro Social da Pasteleira.

Tudo parte de um monólogo. Na verdade, é a história de um homem que chega a um lugar desconhecido e que sozinho, conta o seu passado a uma audiência, na tentativa de “estabelecer uma relação com as pessoas do lugar onde acabou de chegar”, explica Jorge Andrade, o intérprete e diretor artístico da Mala Voadora. A dicotomia ator/público será uma constante no momento da atuação, de forma a igualar a realidade de um viajante que chega a um país que não é o seu.

A participação dos moradores do Bairro da Pasteleira é estabelecida através do diálogo com a personagem de Jorge Andrade, tendo as histórias de vida de ambos como pano de fundo. “A ruptura do quotidiano” é um dos objetivos primordiais da Mala Voadora, tanto no espaço que detêm no Porto, como especialmente neste tipo de espetáculos. O transporte do objeto artístico “a um local que por excelência não é de teatro” poderá levar os moradores a “reequacionar o que são perante a vida”.

Pelas zonas desconhecidas da Invicta

O projeto Circolando é um dos intervenientes na programação e em setembro terá palco assente na Rua do Heroísmo. Presa Velha, Formiga e Lomba podem ser nomes pouco familiares à maioria das pessoas, no entanto têm sido o epicentro do trabalho da Circolando durante estes dias. Nestas zonas traseiras do Heroísmo está a ocorrer um processo de descoberta de pessoas e espaços, em que a arquitetura dos lugares é conhecida pela primeira vez, assim como “a parte humana de quem lá vive”.

André Braga, membro da direção artística, afirma que a sugestão de “Espírito do Lugar”, nome da atividade, passa por “propor ao público uma viagem pedonal pela zona”. Uma viagem interrompida por pequenos momentos performativos em determinados pontos do percurso, onde a poesia, a dança e o teatro vão ser os anfitriões.

O “compromisso” de envolver diretamente a comunidade na performance pode ser incerto, uma vez que implicaria mais tempo de contacto e preparação. Porém, a inspiração partirá dos locais e das sensações provocadas nos artistas, pelas histórias que ouviram e pelo próprio território. “Viver com as pessoas” será a base da atividade num “Porto que existe e que é muito pouco conhecido”.

Um “pézinho de dança” no Bairro da Pasteleira

O trabalho da coreógrafa Aldara Bizarro já não é estranho nestas andanças. A ligação entre a comunidade e a arte do espetáculo já constituiu uma experiência para a coreógrafa em 2012, quando o “Serralves em Festa” e “Manobras no Porto”, a convidaram a ensaiar a população de Miragaia para uma performance de música e dança. Em 2015, o convite vem do “Cultura em Expansão” e com novos participantes, os moradores do Bairro da Pasteleira.

“O Baile” é o nome da atividade a acontecer a 28 de novembro e que conta com três níveis de desenvolvimento: profissionais das áreas da dança, do teatro e da música; pessoas da comunidade que integram a banda musical e participam na interpretação do espetáculo; e o público que é convidado a dançar no próprio dia.

Aldara afirma retirar “um enorme prazer” dos projetos que envereda na comunidade, pelo simples facto de considerar que estes têm uma influência positiva sobre as pessoas. O convívio e o contacto entre profissionais e amadores do mundo do espetáculo são o que demais precioso se pode retirar das experiências, a par do enriquecimento mútuo de ambas as partes.

A sétima arte em “expansão”

Para o cineclube nómada “NOVE e MEIA”, o projeto de programação de cinema em três bairros do Porto, nomeadamente Bouça, Pasteleira e S. Victor, é o resultado de “uma negociação entre a equipa e a comunidade”, em que é a sétima arte é mais um motivo para conviver e aproximar as pessoas umas das outras e conectá-las com o meio cultural e artístico. “O objetivo primeiro é fomentar a aproximação entre as comunidades e uma equipa de profissionais das artes, torná-los pares, criar laços e um espaço de intimidade.”, explica Sérgio Marques, coordenador do “NOVE e MEIA”.

Sendo o cinema uma temática aprazível à reflexão e à crítica, os moradores são estimulados a discutir o que viram e ouviram durante as sessões de cinema, tendo como meta final, não deixar que este tipo de iniciativas desapareçam nestas zonas, mesmo depois, de o “Cultura em Expansão” terminar. Nesse ponto, o “NOVE e MEIA propõe-se a desenhar um programa e uma ação com as pessoas”, quem sabe no futuro.

Até dezembro deste ano, o “Cultura em Expansão” andará pelas ruas do Porto, talvez não pelas mais conhecidas, mas por aquelas que poucos conhecem. A Mala Voadora, o Circolando, “O Baile” de Aldara Bizarro e o “NOVE e MEIA” são alguns dos projetos a participar no evento. A programação completa, incluindo todas as atividades, podem ser consultados aqui.