Beatriz Martins sabe desde muito nova o que é exigido a uma jovem atleta num desporto de alta de competição. A ginástica de trampolins é a sua área, o desporto e a paixão, que a fizeram singrar lá fora e cá dentro e a permitiram representar as cores da Seleção Nacional e do Lisboa Ginásio Clube (LGC). Acabada de chegar à “casa” dos 21 anos, a ginasta sempre encarou a “competição como a principal motivação”, a adrenalina que a faz mover.

O corpo nunca foi sobrevalorizado na ginástica de trampolins, uma vez que não existe neste tipo de desporto uma “nota artística” como nas restantes modalidades de ginástica. No entanto, Beatriz tem noção de que a parte física não é totalmente esquecida na hora da avaliação. A importância da manutenção de cuidados corporais vai muito para além da imagem, que embora relevante, não é necessariamente uma meta.

A alimentação equilibrada e a preparação física são os métodos aplicados pela jovem no dia-a-dia, com a intenção de aperfeiçoar as capacidades técnicas. “Nós [atletas] trabalhamos a parte física, mais no intuito de estarmos preparados a nível de força e de velocidade, para o que o desporto nos exige. É importante termos uma alimentação equilibrada, para tiramos o máximo de rendimento dos treinos”, explica.

A intensidade dos treinos e das competições acaba por refletir-se no corpo dos próprios desportistas. As lesões podem ser de anos ou apenas temporárias, um facto que não assusta Beatriz: “É normal para um atleta de alta competição que faça desporto há muito anos, como é o meu caso”, diz. Quando se trata de alinhar o corpo com a mente em dia de competição, não existem hábitos ou regras pré-estabelecidas, a Psicologia dita mais que o físico.

E poderá existir o protótipo de um corpo ideal numa ginasta? Para a jovem, dificilmente haverá um modelo “característico” corporal, uma vez que entre as raparigas não existe padrão, mas particularidades físicas – “Há ginastas que são robustas, têm imenso músculo e são ótimas. Depois também existem ginastas que têm pouco músculo, são muito «fininhas», mas que chegam ao mesmo nível que outras”, garante.

A necessidade de mudar algo no corpo enquanto ginasta sempre adveio do facto de pretender adquirir mais “mobilidade”, de forma a melhorar a “performance ao nível da força”. O facto de se praticar um desporto assente na dimensão da “beleza” e na exposição corporal coloca pressão nas atletas. Beatriz assegura que a confiança no próprio corpo é parte integrante do percurso para o sucesso desportivo.

A imagem faz parte do espetáculo

Carlos Feiteira faz parte do universo de dançarinos de danças de salão. Com 18 anos e aluno da escola Let’s Dance, em Vila Nova de Gaia, o jovem tem na base da competição, a superação dos próprios limites e a motivação de ser o melhor. Nas danças de salão, o brilho e o glamour fazem parte do espetáculo e não podem ser dissociados da própria atividade física. Cada dançarino está na mira do público e do júri nas competições, logo o físico impõe cuidados e regras.

Para Carlos, as restrições de vária ordem passam por controlar o peso com a ajuda de uma alimentação variada e do trabalho fora das aulas, particularmente no ginásio. “Se nós passarmos [dançarinos] um certo limite, acabamos por sentir alguma diferença no nosso corpo”, justifica. A perda de resistência física contraposta com a energia das danças de salão requerem parte destas “obrigações”.

Os pés e as costas são as maiores dores de cabeça dos dançarinos, no que toca a lesões e a pequenos ferimentos. As dores corporais e a pele calejada “fogem” à beleza da dança, mas tornam-se diminutos para quem “corre por gosto”.

“Um padrão para se conseguir resultados e a melhor imagem” é assim que o jovem define a construção de um corpo de dançarino. O show e a exigência física das danças de salão assim o reclamam, e o público e o júri estão em pé de igualdade na apreciação. “A imagem é muito importante porque dá aquilo que o júri procura na competição e o que o público gosta.”, reconhece Carlos.

O ballet da “excelência” em terras de sua Majestade 

Do Porto para Manchester, foi este o salto que o ballet provocou na vida de Daniela Pinto. A bailarina de 21 anos frequenta a Northern Ballet School (NBS), uma instituição britânica que reúne a aprendizagem de ballet clássico e teatro musical, em que a excelência é a principal meta e objetivo. A par do sublime vem a competição, um fator que não é de todo ignorado na escola e entre os colegas de Daniela. Porém, o desafio de superação é travado consigo mesma. A alimentação cuidada é o meio para justificar o esforço físico de todos os dias, caso contrário o trabalho das aulas seria nulo sem a moderação na hora das refeições.

As “oito e as nove horas por dia” de ballet podem causar algumas lesões, principalmente nos joelhos e nos pés, que só se explicam pela intensidade da dança. Para a jovem, o sucesso passa pelo equilíbrio da mente e do corpo e do conhecimento dos próprios limites.

Em comparação com Portugal, Daniela acredita que a exigência da dança é mais notória em Inglaterra. O ballet é encarado de forma díspar nos dois países, o que origina automaticamente um tratamento distinto. “Eles [professores] têm de ser mais exigentes porque em Inglaterra é a nível profissional. Em Portugal, o ballet é mais um hobbie, não se fala muito em fazer da dança uma opção de vida.”, refere.

Cá dentro, a imagem do ballet clássico

Na Academia ArteDança, na Póvoa de Varzim, o ballet clássico é uma das vertentes mais fortes de formação. As aulas estão repletas de jovens raparigas, cujos sonhos passam por singrar na dança a nível profissional. Mariana Torres de 17 anos, é uma das bailarinas da Academia, para quem a motivação vem de mãos dadas com a pressão: “Tem de se querer muito, porque é um grande sacrifício tanto físico como mental.”.

Superar os treinos com distinção implica “comer muita fruta” e de duas em duas horas, para que tudo esteja em harmonia. “Eu tinha um professor que dizia que o ballet é 80% cabeça e 20% corpo” é um lema que Mariana parece querer adotar nos momentos em que a persistência tem de subsistir. Não são percentagens necessariamente equilibradas, mas são as mesmas que importam quando a pressão está ao virar da esquina. Para a jovem, o ballet não assume forma física ou medidas perfeitas, o relevante é a dança.

A Professora Cláudia Domingues sente de perto a motivação das jovens bailarinas e embora não seja “apologista dos concursos”, tem noção de que o método é o que as torna cada vez melhores. Junto da realidade das competições, reza a premissa de que “se não tiver uma estrutura psicológica forte, não aguenta a pressão”.

O ballet pode não estar destinado a todas as pessoas, visto que a capacidade técnica tem de estar normalmente intrínseca nos bailarinos. Não existem protótipos de corpos perfeitos no ballet, mas há uma estrutura física idealizada e que tem de ser trabalhada.

Da ginástica de trampolins até ao “show” das danças de salão, com uma visita à exigência do ballet clássico cá dentro e lá fora, as medidas perfeitas são barreiras derrubadas com o trabalho árduo e o espírito de sacrifício. O protótipo de corpo ideal pode não existir, mas o corpo enquanto “estereótipo físico” dificilmente será dissociado destas atividades.