É cada vez mais comum assistir-se ao reaproveitamento ou reestruturação de estações ferroviárias, para fins comerciais, seja habitação, comércio, hotelaria, serviços, espaços museológicos ou até estruturas de apoio às próprias ecopistas.

Na Linha do Douro, mais concretamente no Peso da Régua fica situado o restaurante que é também wine bar, lounge, gourmet e wine shop, que outrora foi um armazém abandonado da REFER. Criado por vontade de dois empreendedores, naturais da zona vinhateira, o Castas e Pratos, resultado do acrónimo CP, existe há já sete anos e enquadra-se numa zona que hoje se apresenta renovada.

O JPN falou com um dos sócios, Manuel Osório, que afirma que este “é um espaço sui generis, onde as pessoas podem degustar a comida e os sabores do Douro”. Atualmente emprega 12 pessoas e, desta forma, contribui “para a economia local, devido à utilização de produtos regionais, ajudando os pequenos produtores da região”.

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Estações e traçados férreos transformados em ecopistas
Para além do património imobiliário, a Refer está também a reconverter algumas das suas linhas e canais ferroviários desativados, em ecopistas, reservadas às deslocações não motorizadas. Existem atualmente no nosso país 10 destas ecopistas, sendo que a maior, com cerca de 49km, é a Ecopista do Dão. Tratam-se de infraestruturas praticamente ininterruptas, fáceis e seguras de percorrer, com um traçado facilmente reconhecido pelas suas qualidades físicas e pelo modo como se enquadram na paisagem, valorizando o meio ambiente.

Processo de aquisição do património
O JPN tentou perceber de que forma são feitas aquisições de património aos novos proprietários, com potencial de valorização e atratividade no sítio onde se insere. Segundo fonte da Refer, “trata-se de um património cultural, natural e também paisagístico que atendendo ao seu valor urge reabilitar e reativar, devendo ser encarado como oportunidade de investimento em iniciativas na área do lazer, e mais particularmente, na área da restauração e hotelaria, existindo já uma carteira visível de projetos implementados, com expressão, de norte a sul do país, decorrentes de um reposicionamento do Grupo Refer perante o mercado”.

Quanto às condições de concessão dos espaços, estas dependem de uma avaliação criteriosa, bem como do investimento a ser efetuado pelo potencial concessionário, sendo cada caso analisado e avaliado de forma individual.
No quadro da análise técnica e comercial “pode seguir-se o procedimento de alienação por venda que implica a desafetação do domínio público ferroviário, ou a simples concessão”.

O JPN procurou também saber quais vão ser as próximas estações a serem requalificadas. Segundo a mesma fonte da REFER, ainda decorrem processos de negociação relativamente à Linha do Douro “que a curto/médio prazo poderão viabilizar acordos com parceiros tendentes à revitalização e rentabilização do património existente”.

Já a nível nacional, destaca um projeto que já se encontra em curso que “visa a reabilitação de dois cais cobertos na Estação de Vilar Formoso tendo em vista a instalação de pólo museológico “Vilar Formosos Fronteira da Paz – Memorial aos Refugiados e ao cônsul Aristides de Sousa Mendes”.

No que concerne às vantagens que este processo de requalificação representa, além de uma componente económica e financeira “esta estratégia de valorização e reafectação de património ferroviário a novos usos, permite por termo à degradação dos espaços e ao vandalismo, a que tantas vezes estão sujeitos, colocando-os de novo ao serviço das populações complementando e valorizando as economias e comunidades locais onde se inserem”.

Estes são apenas dois exemplos que corporizam “a expressão de uma memória e história coletivas, enquanto local com história e histórias”.