“Todos os anos surgem em Portugal cerca de 500 casos novos de doentes com cancro do pâncreas.Os dados são da CUF e, ainda que a prevalência tenha “estabilizado nas últimas décadas”, esta é “a terceira neoplasia maligna mais frequente do tubo digestivo em Portugal e a segunda no mundo ocidental, após o cancro do cólon, e a quinta mais frequente causa de morte por cancro”.

Não existem propriamente estratégias de prevenção deste tipo de cancro, assim como não existem métodos de diagnóstico precoce além de uma atenção redobrada a possíveis sintomas (que nem sempre surgem). É por essa razão que a maioria dos casos deste tipo de cancro acaba por ser fatal: quando são detectados, já se encontram geralmente num estado muito avançado, podendo até ter afetado outros orgãos e impossibilitando o tratamento.

Um novo método

“A deteção de exossomas positivos para a proteína GPC1, que circulam no sangue de pacientes com cancro do pâncreas, pode ser utlizada como uma ferramenta de diagnóstico não invasiva (uma vez que os exossomas com estas características são detetados numa análise ao sangue) e como uma ferramenta para detetar fases iniciais de cancro do pâncreas”, explica o Ipatimup, em comunicado.

estudo publicado esta quarta-feira na revista Nature representa uma nova esperança neste campo e surge com assinatura principal de uma cientista portuguesa: Sónia Melo, do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup) é a líder da equipa.

Os resultados são ainda muito iniciais mas este estudo chega à conclusão de que o cancro do pâncreas produz, no sangue dos doentes, uma espécie de “assinatura biológica” da sua presença. Esse conhecimento permite que uma análise ao sangue possa passar a ser o suficiente para detetar essa assinatura e detectar lesões malignas no pâncreas num estado inicial, que não são detetáveis por ressonância magnética ou outros métodos mais tradicionais de diagnóstico.

Cientificamente falando, esta assinatura é composta por uma proteína específica – aglypican-1 (GPC1) -, presente à superfície de diminutas vesículas – chamadas exossomas – que normalmente circulam no sangue.

“Esta proteína também se encontra nos exossomas associados a outros cancros”, contou em entrevista à Nature Raghu Kalluri, da Universidade do Texas, líder do estudo e ex-diretor do Centro do Cancro da Fundação Champalimaud, em Lisboa. No entanto, “no caso do pâncreas, a correlação é de 100%”, explicou.

Monitorização

Esta descoberta tem ainda outras utilidades: quando o cancro é detetado e retirado cirurgicamente, existem grandes hipótese de voltar a aparecer. Assim, poderia existir uma monitorização dos valores desta proteína, permitindo perceber se se está a desenvolver um novo cancro. 

Esta conclusão foi obtida através de um ensaio clínico que envolveu uma centena de doentes com cancro do pâncreas em estado avançado e um grupo de pessoas sãs: os doentes com cancro do pâncreas testados apresentaram níveis muito elevados de GPC1 enquanto que os indivíduos sem doença ou com doença benigna do pâncreas não tinham presente esta proteína.

Apesar de algumas questões ainda por responder, alguns problemas levantados entretanto e a necessidade de cautela em temas como este – além da óbvia longa caminhada que este descoberta ainda tem de percorrer para se tornar numa solução -, esta é claramente uma importante evolução neste campo.