Três dias, quatro palcos, dezenas de concertos e 55 mil pessoas distribuídas por 11 hectares. É essa, muito resumidamente, a estatística da edição 2015 do NOS Alive, festival da Everything is New que começou em 2007 e que tem vindo a fazer o seu caminho na afirmação dentro e fora de portas, sempre com a mesma vista para o Tejo.

Este ano, entre 9 e 11 de julho, nos palcos NOS, Heineken, Clubbing ou Raw Coreto, passam pelo Passeio Marítimo de Algés mais de 70 bandas. Dos cabeças de cartaz Muse, Prodigy e Disclosure aos portugueses Capicua, Dead Combo e Moullinex. De resto, só nós últimos anos, o NOS Alive trouxe a Lisboa artistas como Interpol, Arctic Monkeys, The Black Keys, Diplo (2014), Green Day, Tame Impala, Vampire Weekend (2013), Stone Roses, Radiohead ou The Cure (2012).

No meio de tantas confirmações, um cancelamento importante: Stromae cancelou todas as atuações agendadas para este mês por motivos de saúde, o que incluía o concerto em Oeiras a 11 de julho. Para suprir a ausência do rapper belga, a organização chamou Chet Faker, que já tinha atuado na edição 2014 e que, diga-se de passagem, goza de um pequeno culto em Portugal.

E embora o cartaz contemple vários regressos deste tipo, também tem lugar para estreias interessantes. É o caso dos Sleaford Mods, por exemplo. A dupla, praticante da “shouted word” e um caso sério na sua Inglaterra natal, editou já este ano o sucessor de “Chubbed Up+” e com temas como “Jobseeker” e “The Wage Don’t Fit” podem ter nos portugueses um público atento. De Nottingham para Edimburgo, os também estreantes Young Fathers devem conquistar novos fãs com o provocador “White Men Are Black Men Too”. Noutra latitude musical que não a do hip-hop (auto-descreve-se como “doom soul”), a canadiana Cold Specks visita Portugal pela primeira vez com o álbum “Neuroplasticity” ainda fresco do ano passado.

“Firestarter” e a apoteose distópica
Claro que é impossível não destacar os maiores cabeças de cartaz do NOS Alive 2015: os Muse (Palco NOS, 01h10). É por eles que o dia 9 está esgotado há algum tempo. O trio britânico continua a sua demanda pela respeitabilidade rock (perdoem-nos o oxímoro) — aquele patamar reservado a U2 e Foo Fighters, por exemplo — e acabou de editar “Drones”, um álbum (o nono) conceptual sobre um futuro distópico em que a tecnologia põe e dispõe da humanidade. Embora o conceito peque por alguma falta de originalidade (Matt Bellamy terá andado a ler Orwell e Bradbury), o tipo de rock “maior do que a vida” que os Muse praticam atualmente terá sempre uma fiel legião de fãs.

A fazer companhia aos Muse no dia 9 estarão os compatriotas Metronomy (Palco Heineken, 21h25), Alt-J (NOS, 22h25) e Django Django (Heineken, 01h40). Os primeiros estão ainda a colher os frutos do álbum do ano passado, “Love Letters”, um disco muito bem recebido por crítica e público que alterna, estilisticamente, entre o vintage aveludado do tema homónimo e a George Harrison-esca “Monstrous” (curiosamente, no alinhamento, a uma segue-se a outra). Os Alt-J, embora roubem o nome a um frio atalho de teclado no computador, fazem música de forte apelo emocional e, depois do Mercury Prize em 2012, têm enfeitado o cartaz dos melhores festivais do continente. Com álbum novo editado já em 2015, os Django Django mantêm a receita da estreia, ou seja, pop em alta rotação a piscar o olho ao psicadelismo.

No dia seguinte, a 10, sobem ao palco Future Islands, James Blake, Róisín Murphy (todos no Heineken) e os cabeças-de-cartaz Prodigy (NOS). Há coisa de um mês celebraram o seu concerto 1000 e, apesar de ainda não terem sucessor a “Singles”, os Future Islands (23h30) já gravaram canções novas como comprova o recente single “The Chase”. Presença habitual nos festivais portugueses e dono de uma pop eletrónica mais introspetiva do que dançável, James Blake (01h00) regressa quando está prestes a lançar o seu terceiro álbum, “Radio Silence”. Também de regresso a Portugal está Róisín Murphy (02h45), a eterna vocalista dos Moloko, que traz o fresquíssimo “Hairless Toys”. Igualmente veteranos, mas só para indefectíveis, é provável que os Prodigy (00h30) arrastem a maior multidão da noite para a sua discoteca a céu aberto, embora se adivinhe que apenas uma porção estará interessada nas canções de guerra do novo “The Day Is My Enemy”.

Finalmente, no dia 11, o NOS Alive fecha com Disclosure, Chromeo, Azealia Banks ou The Jesus and Mary Chain. Estreados em 1985, separados em 1999 e reunidos em 2007: assim se resume a carreira dos seminais The Jesus and Mary Chain (Heineken, 22h35), banda de culto que protagonizará a lição de história obrigatória em qualquer cartaz com “pedigree”. No espetro oposto, Azealia Banks (Heineken, 00h05), que nasceu já o grupo escocês gravava álbuns, e que era, ela própria, uma estrela ainda antes de lançar “Broke With Expensive Taste”, promete uma elevada dose de energia rítmica e vocal. Mais tarde, os Disclosure (NOS, 01h00) tentarão sobreviver ao epíteto de serem os tipos que tocam “Latch”, mas há mais ouro para extrair em “Settle”. Noutra pista de dança, e depois do cancelamento em 2014, estarão os Chromeo (Heineken, 03h00), e a missão só estará cumprida quando ninguém estiver parado.

Não esquecer que o bilhete para dia 9 está esgotado há algumas semanas, bem como a entrada para os três dias. O passe para os dias 10 e 11 custa 89 euros e o bilhete diário para os mesmos dias, ambos à venda nos locais habituais, fica-se pelos 55. O campismo é pago separadamente e custa 17 euros para os três dias.