Semanticamente, “debandar” significa sair da ordem, confusão, fugir desordenadamente, desarranjo, ir cada qual para seu lado — ou seja, tudo aquilo que o NOS em D’Bandada é. O festival, que desde 2010 proporciona uma espécie de réplica joanina em formato música de rua, é um sucesso retumbante de público. Só no ano passado pôs 250 mil pessoas em desarranjo organizado por várias ruas, algumas mais óbvias do que outras, para ver 62 concertos (B Fachada, Capicua, Ricardo Ribeiro) em 19 entupidos palcos.

Não é à toa que o D’Bandada se orgulha de ser o “São João da música”. Este ano, a 12 de setembro, são 78 bandas em 21 palcos, durante 14 horas. E se, em anos anteriores, se fazia silêncio para ouvir o fado no Jardim das Virtudes, em 2015 é no Coliseu Porto que veremos Aldina Duarte e Carminho.

Não muito longe da principal sala de espetáculos da cidade, na Praça dos Poveiros, será o hip-hop português quem mais ordena, cortesia de Mike El Nite, Valete ou Sam The Kid. Na Avenida dos Aliados, habituada a banhos de multidão, atua Miguel Araújo, que a organização considera “um dos maiores embaixadores do evento”.

Subindo, a Praça Gomes Teixeira, vulgo “dos Leões”, voltará a ser transformada numa enorme pista de dança a céu aberto com Moullinex e Thunder & Co. Noutro dos espaços mais emblemáticos do D’Bandada, o elétrico da STCP, encontraremos Jorge Palma, enquanto que o Jardim de Lisboa receberá de braços abertos os mais novos durante a tarde.

De volta ao Coliseu, Mirror People primeiro e Branko depois encarregar-se-ão de conduzir a after-party até às quatro da manhã. E tudo isto não chega a compor um terço da oferta. Há ainda Pega Monstro nos Maus Hábitos, Coelho Radioactivo no Café au Lait, Nuno Prata no Passos Manuel, Modernos no Plano B, Tó Trips no Café Ceuta, Peixe no Vitória e Éme na igreja de Santo Ildefonso.

Na apresentação oficial da edição 2015 do NOS em D’Bandada, realizada esta quarta-feira, 2, precisamente no Coliseu Porto, o presidente da autarquia, Rui Moreira, salientou que “a D’Bandada surpreende-nos sempre” e que o festival vai descobrindo novos territórios, descoberta que é acompanhada pela própria cidade.

“É um testemunho e um desafio”, resume. Em relação a expectativas de público para 2015, Rui Moreira quer apenas “que as ruas estejam cheias”. Henrique Amaro, diretor artístico do festival, assegura que o objetivo do D’Bandada este ano é “não hipotecar o que já foi conquistado, tentar ser maior sem perder o ADN”. E sublinha a importância do Coliseu: “A D’Bandada é o evento da cidade que passava à porta e não entrava”.

Não é propriamente novidade assistir a um concerto ou a um DJ set no Café Au Lait ou nos Maus Hábitos, por exemplo, mas quantas vezes se entra sequer no Ateneu Comercial do Porto, na Reitoria da Universidade ou nos Estúdios Sá da Bandeira? E estes são todos exemplos estáticos: em 2014, meia dúzia de pessoas pôde ver Miguel Araújo a atuar no eléctrico 22, entre o Carmo e a Batalha. É esse um dos apelos do D’Bandada, o inusitado de alguns locais, mas há outros.

O cartaz composto na íntegra por artistas portugueses, entre o consagrado e o fervilhante; atuações de todos os géneros e a todos os horários — do meio da tarde às primeiras horas do dia seguinte, fado ou hip-hop (e tudo o que estiver no meio) —; o caráter itinerante que a organização propõe, misturando passeio e música num roteiro que cada um constrói para si; e a gratuitidade de toda a festa, claro. Resumidamente, uma interação entre cidade, público e artistas que a organização tem conseguido sublimar desde o primeiro ano.

Desde 2010 que o D’Bandada, uma das grandes montras da música feita em Portugal, só sabe crescer. Estamos todos a ficar mal habituados, estamos todos em debandada.