Entramos no Centro de Congressos da Alfândega do Porto e descemos umas escadas. É aí, nas Furnas, ocupando uma área de 2500 metros quadrados, que está patente, pela primeira vez no país, a exposição “TERRACOTTA ARMY, Guerreiros de Xian”. A razão de descermos à parte mais profunda do edifício é dada por Jorge Barbosa, responsável pela exposição: “A primeira perspetiva que as pessoas têm que ter é que estamos a falar de peças de arte funerária”.

Uma das metas da exposição é levar o visitante a “fazer uma espécie de viagem do tempo” e “recuar até ao século III a.C. na China Imperial”, onde a figura central é o primeiro Imperador da China Unificada, Qin Shi Huang e o seu exército. Poder passar “uma perspetiva cultural e histórica” é outros dos grandes objetivos.

Este Imperador, crente no Taoísmo e no Confucionismo, partilhava a ideia de que, no fim da vida mortal, todas as pessoas tinham que estar preparadas para a viagem que se segue, para a outra vida. Por isso tinham que levar tudo o que pudessem para sobreviver na viagem que os esperava. Aliado a um ideal de mortalidade, Qin Shi Huang mandou construir um mausoléu na zona de Xian, onde foi enterrado, com réplicas dos seus palácios e de tudo o que constituía o seu exército, como soldados, armas e ornamentos. “O homem levou todo o seu Império com ele”.

Estas réplicas foram feitas em terracota e Jorge Barbosa explica o uso deste barro cozido em lume brando, ligado à conceção do Homem. “Segundo o livro do Génesis, Deus pega em barro, molda e insufla o seu espírito e daí surge o Homem. O Imperador, que se achava um deus, pensava que tinha essa capacidade de insuflar ele mesmo com seu espírito sobre o barro e fazer ressurgir todos os que o serviam. E assim podiam todos participar na imortalidade do seu Imperador para o servir”.

Nesta exposição podemos encontrar 150 cópias perfeitas do exército de Qin Shi Huang, em tamanho real e “exatamente iguais” às peças que foram descobertas no mausoléu em 1974 e que foi declarado Património Mundial pela UNESCO em 1987 e considerado a “oitava maravilha da Humanidade”. As réplicas patentes na Alfândega foram feitas na China e, tais como a originais, em terracota. O seu processo de realização foi acompanhado de perto pelos responsáveis do local onde estão as peças originais. Jorge Barbosa refere ao JPN que “esta exposição foi feita de propósito na China para vir para Portugal”.

Uma visita pela exposição

Na primeira sala podemos observar algumas réplicas de soldados e cavalos que permitem um primeiro contacto com o exército dos Guerreiros de Xian, bem como (réplicas) de algum armamento que foi encontrado nas escavações e “que o Exército usava”. Aqui também podemos observar uma característica especial das peças: as diferentes partes do corpo foram feitas separadamente. Porquê? Porque cada peça tem a sua própria fisionomia. “Há quem defenda a tese de que o Imperador queria retratar todos aqueles que o serviam”, declara Jorge Barbosa ao JPN.

A sala seguinte tem como destaque a divisão de classes da China Imperial. Essa divisão era notória através do penteado dos soldados. “Quanto mais o cabelo está elaborado, é sinal que estamos perante alguém que pertence a uma classe superior”, revela Jorge Barbosa ao JPN. Também nesta sala podemos encontrar uma simulação perfeita de como foram descobertas algumas das peças do mausoléu, em 1974. Os ornamentos decorativos não são esquecidos, existindo réplicas desses objetos, e onde são realçadas a perfeição e o pormenor de cada peça.

E preços?

A exposição que está pela primeira vez em Portugal abarca “um logística muito grande e uma operação financeira enormíssima”. Contudo, os preços são acessíveis e variam entre os sete e os nove euros. São disponibilizados packs familiares e preços especiais para visitas escolares, além da opção de adquirir guias para visitar a exposição com mais atenção.

Nesta exposição estão também em destaque as oito figuras mais importantes, onde “o visitante pode aproximar-se de cada imagem e perceber as particularidades em relação às pessoas”, como os penteados, as roupas e as armaduras. Numa outra vitrina podemos ver réplicas das moedas usadas no Império Chinês, uma divisa própria criada pelo Imperador.

Numa outra sala os visitantes podem ter uma aproximação do aspeto dos fossos originais que se encontram em Xian. Um lugar que permite às pessoas sentirem “que estão no local e perceber a importância de cada peça”. Aqui pode observar-se com mais detalhe a posição de cada um dos soldados, todos eles “em sistema defensivo”.

O conceito de maquete já existia no século III a.C. A sala seguinte alberga uma maquete de uma carruagem e um diaporama de outra, pois o Imperador tinha de escolher “em qual das carruagens queria configurar”. A escolha recaiu sobre a carruagem do diaporama, pois o Imperador queria passar a mensagem de que “todos os outros estão abaixo dele” e que “somente ele é que governa a China”.

Durante toda a exposição existem diversos textos que explicam os vários assuntos relacionados com o Exército de Terracota e com a cultura chinesa da época, “de forma simples para que todas as pessoas consigam perceber o seu conteúdo”.

Segue-se a parte dos ateliers. Aqui as crianças (e também os adultos) têm várias atividades à escolha. Podem descobrir como se trata um achado arqueológico ou aprender a escrever alguns caracteres em mandarim. “A pessoa viu, ouviu e agora vai tocar e mexer”. Por fim, e para quem quiser saber mais sobre os Guerreiros de Xian, existe uma sala onde é transmitido um documentário sobre o tema. O grande objetivo é que quem visite a exposição saia “com uma conceção total acerca desta civilização”.

Já à saída, foi criado um espaço onde cada visitante poderá tirar uma fotografia com as armaduras próprias dos guerreiros, pois “o visitante é a pessoa central desta exposição”.

Esta exposição revela-nos parte de um achado arqueológico inigualável, com mais de 8000 figuras já identificadas. Mas Jorge Barbosa alerta “que ainda falta muito mais” para ser descoberto, dando hipóteses de encontrar mais peças magníficas e únicas. Até dia 11 de janeiro, os Guerreiros de Xian estão à espera de serem visitados.terracota1 terracota2 terracota3 terracota4 terracota5 terracota6 terracota7 terracota8