No início do mês de outubro, o Porto abriu portas ao Festival Feminista. O objetivo: debater a questão da desigualdade de género e sociedade. Sara Leão, ativista da Marcha Mundial das Mulheres conta que a ideia da iniciativa surgiu após uma reunião aberta realizada no final de Julho, quando o movimento preparava a vinda da Caravana Feminista à cidade. Artistas e associações apresentaram propostas e o festival foi nascendo. “Nós não partimos de um conjunto de atividades que queríamos fazer, mas era mais oferecer às pessoas da cidade o espaço para fazer essas propostas e propunhamo-nos a organizar o festival”, diz Sara Leão ao JPN.

Os eventos espalhados pelas associações e espaços culturais são muito diversificados. Desde exposições a apresentações de livros, passando pela projeção de filmes e documentários, exposições, jantares ou tertúlias, o objetivo é alimentar o debate sobre o feminismo. “Não se trata de um festival artístico ou cultural por si só. A ideia é que todas as atividades sejam o mote para a conversa, espaço para uma auto-formação que vamos fazendo ao entrar em contacto com perspetivas diferentes das artistas. Vamos aprendendo, vamos conhecendo novas pessoas, vamos discutindo e é esse o propósito do festival, pretende ter esse momento de discussão, de debate, de aprendizagem”, explica a ativista.

Pela primeira vez um terço do parlamento é feminino

Após as eleições legislativas do passado dia 4 de outubro, verificou-se que um terço dos deputados que vão compor o parlamento, são mulheres. São 76 mulheres num total de 226 lugares. Na opinião pessoal de Sara Leão, ainda que seja importante no sentido simbólico de representatividade, é mais importante apurar “que tipo de mulheres, com que tipos de posturas” vão estar na Assembleia da República. Sara acha que em Portugal, ainda há “um caminho infelizmente muito longo que tem de ser travado a vários níveis” e espera que as deputadas representem “uma luta contra o conservadorismo que está a acontecer em Portugal”.

Passada uma semana do festival, ainda é cedo para avaliar os resultados do projeto. Ainda assim, Sara esclarece que o propósito passa também por chegar a públicos diferentes, o que tem sido possível, pela variedade de espaços a oferecerem atividades. E se para os envolvidos o tema não é novo, é preciso sensibilizar a comunidade para a luta que é feita contra desigualdade de género e esclarecer os desentendidos no que diz respeito ao feminismo. “Há pessoas que pensam que o feminismo é o machismo invertido, daí o debate. A ideia é que as pessoas se sintam à vontade para virem, para pensarem, aprenderem e comunicarem com as outras a nível informal. Criar essa relação entre as pessoas, criar espaços em que as pessoas possam conversar é muito importante”, realça Sara.

A Caravana Feminista vai passar por cá 

O ponto central do festival é a passagem pelo Porto da Caravana Feminista. Esta 4.ª ação internacional Marcha Mundial das Mulheres viaja, há mais de meio ano, pela Europa. Iniciou a travessia no dia 6 de março na Turquia e termina no dia 17 de outubro em Lisboa. Por isso, o Porto vai ser local de passagem, nos próximos dias 12 e 13 de outubro. O que a Caravana pretende, de acordo com Sara Leão, é “reforçar os movimentos feministas nos sítios onde passa”. A apresentação da Caravana será feita na próxima segunda-feira às 17h no espaço associativo ContraBANDO e no dia seguinte parte do Jardim da Cordoaria uma marcha contra a violência machista.

Sara Leão é ativista da Marcha Mundial das Mulheres desde 2013 e explica que a Caravana é uma ação que permite dar a conhecer, às mulheres de cada país, as questões e problemas de cada local e criar eventos nos diferentes pontos por onde passa. “A Caravana tem esse papel de mapear todas estas lutas que estão a ser travadas na Europa e apresentar essas lutas e apresentar as alternativas que estas mulheres propõe para fazer face aos problemas com que se debatem”, explica a ativista. A dimensão e adesão dos eventos varia de país para país, dependendo da quantidade de ativistas envolvidas. Ainda assim, de acordo com Sara, “apesar das realidades culturais e políticas variarem há muitas coisas que são travadas por todas” e a caravana pretende criar uma rede de solidariedade entre mulheres que lutam e que se identificam com outras lutas.