A ideia de uma rádio feita por engenheiros cedo começou a germinar. As instalações da Faculdade de Engenharia eram ainda na Rua dos Bragas quando, em 1997, se começa a falar da Engenharia Rádio, um “projeto novo que começou por ser uma forma de passar música na sala de convívio da antiga faculdade”.

Esta passagem pelo tempo é feita por Gonçalo Ferreira, estudante do 4.º ano de Engenharia Civil que é atualmente o coordenador deste projeto renovado. Gonçalo conta ao JPN que passados 10 anos da primeira experiência, Miguel Heleno e Filipe Teixeira, dois antigos alunos, decidiram aproveitar o projeto e recriá-lo. “Na altura havia o jornal de engenharia e por isso eles lembraram-se de fazer a rádio. Pelo que sei o nome inicial nem era para ser este, mas descobriram que já tinha existido há 10 anos este projeto e resolveram reformulá-lo”, explica Gonçalo Ferreira.

Assim, desde 2007 a rádio funciona num formato novo e diferente do anterior, com emissão online e podcast. Uma vez que a Engenharia Rádio está concebida como um núcleo da Associação de Estudantes da FEUP e é uma rádio dessa mesma faculdade, os conteúdos noticiosos produzidos são essencialmente sobre a mesma. Apesar disso, a abertura à comunidade académica é um dos objetivos que se tem vindo a  reforçar ao longo dos anos. “Temos um papel importante, tentamos fazer conteúdos direcionados a toda a comunidade académica. Aliás, nós costumamos apresentar-nos assim, como única rádio universitária do Porto, dirigida para toda a comunidade”, nota o coordenador da Engenharia Rádio.

Ainda que a grande maioria dos conteúdos produzidos na rádio online sejam sobre música, a Engenharia Rádio tem apostado cada vez mais na informação. Os diretos são uma aposta e mais valia que capta a atenção dos ouvintes. “Começamos os diretos agora dia 24 por exemplo, com o festival de tunas organizado pela TEUP, o Portuscalle, na primeira semana de novembro vamos cobrir o Arraial de Engenharia. Os nossos diretos têm mais a ver com atividades desenvolvidas pela faculdade”, explica Gonçalo.

Mas a Engenharia Rádio é maleável e vai, sobretudo, adaptando-se ao tempo e às pessoas. A linha editorial vai mudando, ou não, consoante os colaboradores e os programas realizados e propostos. Há emissões sobre Fórmula 1 e até um talk show com estudantes de Erasmus. No entanto a música vai-se mantendo sempre como tema predominante e os programas – disponíveis no website como podcast – variam entre géneros: rock, hip-hop, jazz, entre outros. “Temos tido alguma facilidade em desenvolver boas relações com editoras, promotores de concertos, agentes de bandas e tentamos integrar-nos um bocado nesse círculo. Uns dos conteúdos que tentamos fazer todos os anos passa pela cobertura de festivais”, conta Gonçalo Ferreira.

A música como janela de oportunidades

E é a música que, de acordo com o estudante de Engenharia Civil, vai ajudando a continuar vivo o espírito. “Toda a gente na rádio tem um grande gosto por música, nós estamos sempre aqui a falar e a trocar ideias, mas para mim foi assim que começou o interesse em fazer alguma coisa mais que programas”, esclarece.

Gonçalo faz parte do projeto há dois anos e ainda que tenha tido, desde cedo, formação em música, os primeiros programas eram bastante complicados de gravar. Depois o “bichinho da rádio” foi crescendo. Surgiu a oportunidade de entrevistar o The Lengenday Tigerman e ainda o guitarrista dos Ornatos Violeta, o Peixe, de quem é fã incondicional. “A partir daí percebi: isto pode ser algo mais. Tenho aqui uma ferramenta para me cultivar”, realça.

O programa do qual faz parte, o 402 São Rock, foi crescendo e o interesse também. Se inicialmente, a ideia era apenas colocar uma playlist de músicas e dar opinião sobre as mesmas, hoje o programa tornou-se em algo mais. “Quando comecei a fazer programas, não tinha pensado em fazer entrevistas, quando comecei a fazer entrevistas, não tinha pensado em entrevistar bandas estrangeiras e cada vez mais vamos pensando nisto”, explica Gonçalo.

É a liberdade para criar e a oportunidade de falar com artistas que admiram que desenvolve a vontade de fazer mais. “As pessoas da engenharia, lá por estarem nesses cursos, não quer dizer que não tenham outros interesses, outras áreas de conhecimento que gostem de pensar. E acho que é muito isso que traz as pessoas para Engenharia Rádio e depois vai aguçando a curiosidade”, refere.

Uma rádio feita por todos

Mas não é só por engenheiros que é feito este projeto. A Engenharia Rádio é um lugar que permite a que todos se aventurem e descubram um pouco mais sobre este mundo. Há programas variados e um deles é até feito por alunos de Ciências da Nutrição. “Temos colaboradores da área do design, da ESAD e da ESEIG que estão connosco, não fazem programas, mas estão sempre disponíveis sempre que há necessidade de fazer cartazes para eventos que organizemos”, menciona Gonçalo. Para além disso há também quem trate apenas da comunicação, da gestão dos equipamentos informáticos e dos eventos.

Uma vez que é um meio inteiramente protagonizado por estudantes, o projeto tem por base a entreajuda e, para o coordenador da Engenharia Rádio, isso é uma das grandes vantagens. “A coisa que nós andamos a descobrir é que não há uma fórmula para fazer rádio e nós somos uma rádio experimental. Essa componente da formação entre pares, sem uma disposição hierárquica de espécie alguma, pessoalmente é das melhores experiências que eu retiro da rádio e é das coisas que mais recomendo”.

E assim a “coisa” vai funcionando. Os mais velhos auxiliam os mais novos, uma aprendizagem entre pares que é defendida dentro do espaço. Gonçalo Ferreira explica que quando começou tinha alguma dificuldade, mas o processo foi fluindo. “É mesmo esse ‘bichinho’ da rádio que se apodera de nós por uma razão que não sabemos. Temos sempre novas ideias e vamos puxando uns pelos outros, nunca deixamos que o espírito morra”, indica.

Ainda que a rádio conte já com alguns anos de existência, a ideia é sempre inovar e procurar novos pontos de interesse. Para o coordenador geral do projeto “não há uma estagnação daquilo que se faz”. Este ano a Engenharia começou, até, a utilizar o vídeo como ferramenta para ilustrar as entrevistas que faz. Para além disso, o responsável garante que se estão a preparar outras novidades.

A Engenharia Rádio já “morou” em vários espaços e hoje é nas “catacumbas” da FEUP, como refere Gonçalo em tom de brincadeira, que é produzida. O espaço, no piso -1 da faculdade, foi cedido e equipado pela direção da FEUP, que sempre se mostrou recetiva ao projeto. Atualmente são cerca de 20 os colaboradores ativos, ainda que a grande maioria dos antigos alunos continue a colaborar. O estudante do 4.º de Engenharia Civil ainda tem um percurso académico a preencher, mas quando sair da FEUP não pretende abandonar a radio. “É algo que dá bastante fé ao projeto. Não vejo porque não continua na rádio. É claro que deixarei de ter funções de direção e não terei tantos programas, mas nada de faz prever neste momento que algum dia deixe de ter este interesse”, confessa Gonçalo.