O espaço exterior do Pólo de Indústrias Criativas (PINC) do UPTEC está transformado. Os olhares curiosos começaram no dia anterior, quando a instalação já começava a ser montada. Mas só esta quinta-feira é que tudo ficou pronto.

“Uma fonte. Um futuro. Mil vozes. Milhões de sons. Gravados no presente, ouvidos no futuro” é o mote da instalação que o conhecido Miguel Januário trouxe à 8.ª edição do medialab Future Places. ±REC(LAIM) THE FUTURE± invadiu a fonte do espaço do PINC num contexto completamente inesperado. Através da utilização de simples materiais como tubos e cones de sinalização, Miguel Januário criou um “amplificador de vozes” com o objetivo de criar um lugar onde todos se pudessem fazer ouvir e fazer ouvir as suas ideias. “Mais do que até reclamar foi mais uma reunião de libertação, o que é muito interessante porque vai ter um pouco ao mesmo”, explica Miguel Januário ao JPN.

Convidado pelo medialab a aproveitar o espaço com uma intervenção, o artista portuense lembrou-se da mascote do Future Places, o Antifluffy e criou uma imagem dispersa de dezenas de tubos, quase a lembrar os tentáculos de um polvo. Os tubos – alguns suspensos nas janelas do edifício do PINC e os restantes espalhados pelo chão – encontram-se ligados a cones de sinalização e permitem a todas as vozes participarem. “Adicionei uma vontade de criar uma instalação participativa, ou seja, onde as pessoas pudessem utilizar e colaborar. No fundo, também com a procura dessa união, criar uma certa representatividade e que se ouvisse essa representatividade”, conta o artista.

Asssim, através dos cones e dos tubos, as pessoas puderam exprimir ideias e emoções. Uma intervenção muito simples “quase que também evocando ao ‘do it yourself” que se baseia na amplificação de todas as vozes. Reclamar pensamentos e levar a que todos participem tornou, na opinião de Miguel Januário, o projeto muito interessante. “Torna-se quase um elemento de cartase, onde as pessoas quase que têm um momento zen de deitar cá para fora um bocadinho toda esta pressão que envolve o dia a dia”, elucida.

Pensar fora da caixa

Reclamar, questionar, opinar e sair da caixa. Para Miguel Januário, o objetivo do Future Places em misturar a cultura com a sociedade é fundamental. “Há sempre uma grande massa que tem a tendência de seguir um bocadinho o que é a linha comum e central de pensamento, mais institucional, mais imposta. Os festiviais como o Future Places acho que trazem um bocadinho esse outro lado, tentam contrariar um bocadinho essa norma”, nota.

O artista, conhecido pelo “Quem és Porto?”, o maior painel de azulejos comunitário da cidade explica que a ideia desse mesmo projeto foi a de contrariar a norma e levar as pessoas a refletirem. “Quando as coisas estão fechadas em caixas e terminam num ponto final eu acho que é necessário questionar. Criar um ponto de interogação e abrir um bocadinho essa caixa para as coisas não serem formatadas, vetorizadas, compoterorizadas, mas serem gestuais, manuais, dar a voz às pessoas, não ser imposto, não ser institucionalizado”, argumenta o artista.

Ainda que a política cultural da cidade do Porto tenha sofrido algumas alterações nos últimos anos, Miguel Januário continua a defender uma “contra cultura” e a necessidade de descobrir caminhos que não os “óbvios, os habituais, os institucionais”.  E foi essa necessidade que levou a criar o painel. “O projeto ‘Quem és Porto?’ foi dar o espaço às pessoas reais do Porto falarem. Não ser um Porto que sai de um gabinete, ser um Porto que sai das ruas, que sai das pessoas, que sai dentro delas. Então para elas, para todas elas”, descreve.

Miguel Januário defende que é necessário “quebrar as normas” e desenvolver um pensamento crítico “não tomando as coisas como garantidas” e o Future Places permitiu essa vontade.

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