Nos últimos dias surgiram vários movimentos de protesto em relação às cantinas das faculdades. Na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) foi criado um abaixo-assinado que reivindica várias queixas diferentes por parte dos estudantes. Em comunicado, a principal queixa pende sobre as “enormes filas de espera fruto da falta de funcionários para dar resposta ao serviço”. Outra das queixas recai sobre o que os estudantes consideram ser uma “degradação da qualidade da comida”, enquanto que, ano após ano, o “aumento de preço impede cada vez mais estudantes de irem à cantina”.

Ricardo Figueiredo, aluno de engenharia informática e membro do grupo de estudantes da faculdade que iniciou o movimento, falou com o JPN sobre as condições da cantina. Falou sobre a génese deste protesto pacífico, ao revelar que na FEUP “há muita gente que não vai à cantina porque demora muito tempo e não dá para ir às aulas”. Segundo o próprio, as esperas variam em média entre os 30 e os 45 minutos e “nem toda a gente tem o mesmo horário e pode estar à espera para poder almoçar”. O caso é tão problemático que leva, inclusive, a que algumas pessoas “faltem às primeiras aulas da tarde porque querem almoçar lá”.

Pedro Costa, colega de curso de Ricardo, também faz parte deste grupo de estudantes contestatários. O próprio queixou-se também da baixa das condições da cantina e admitiu que já foi uma presença mais assídua da mesma. “Entretanto já deixei de a frequentar porque as filas são grandes”, contou. Como ele, estão muitos estudantes da faculdade, com quem o grupo de protesto tem conversado.

Para pouparem tempo, os alunos têm dado preferência ao bar onde se fazem sandes, ou então alternativas fora da faculdade para que possam almoçar mais depressa. Para Ricardo, esta solução não é sustentável pois “fica mais caro” e a alimentação acaba muitas vezes por não ser saudável. “Às vezes a refeição completa acaba por ser deixada de parte para poder agilizar um bocado mais a hora da refeição”, admitiu Pedro.

Para além da espera, também existem queixas em relação à própria qualidade da comida, que segundo os alunos se tem vindo a deteriorar com o passar dos anos. “A qualidade da comida nem sempre é aquilo que estão à espera. É um bocado inferior ao esperado”, criticou Ricardo. Para Pedro, a comida disponibilizada na cantina “já esteve melhor” comparada ao que é atualmente. Este fator foi ainda agravado pela constante subida de preço que as senhas de alimentação têm sofrido nestes últimos anos, encontrando-se agora nos 2,55 euros. Nesse aspeto, o abaixo-assinado é categórico ao apontar a discrepância. “A qualidade da comida não agrada e a quantidade servida não é suficiente e o preço social praticado é demasiado elevado para as condições de vida de grande parte dos estudantes e suas famílias”, lê-se no comunicado.

Este mesmo comunicado divulga também algumas sugestões para tentar melhorar a situação, entre as quais o aumento da verba financeira para a ação social escolar, a diminuição do preço das senhas e o aumento dos efetivos a trabalharem na cantina.

Apesar disto não ser uma iniciativa da associação de estudantes da FEUP (AEFEUP), o grupo tem notado um forte apoio e um número “significativamente maioritário” das pessoas com quem conversaram, acabaram por providenciar a sua assinatura no protesto. O grupo revelou não saber se vão seguir em frente com mais ações de protesto, ficando o assunto pendente aos resultados obtidos através deste abaixo-assinado. Mesmo assim, asseguram que opções estão a ser estudadas. De qualquer forma, a sensibilização para o assunto já foi considerada como bem sucedida. “Acima de tudo isto também serve para fazer ver à comunidade que de facto é sempre possível melhorar coisas que podiam ser melhoradas”, apontou Pedro. Para ele, trata-se de provar aos alunos que às vezes “não é por falta de verbas” que as coisas não acontecem e que se tomarem iniciativa, “com crítica construtiva”, conseguem alcançar mudanças e reformas.

Variedade de refeições e horário alargado

Na Escola Superior de Educação do Porto (ESE), parte integrante do Instituto Politécnico do Porto (IPP), também foi enviado à comunicação social uma ação de protesto desenvolvida pela sua associação de estudantes (AEESEP). Esta mesma ação de protesto exigia um melhor funcionamento da cantina da ESE em regime noturno, para que pudessem ser incluídos os mais de 300 alunos da escola que lá estão em regime pós-laboral.  “Tomamos conta que várias cantinas no Porto têm problemas, sei que a FEUP também está com uma ação” disse Mónica Fonseca, presidente da direção da AEESEP, ao JPN.

No caso da ESE, os estudantes eram obrigados a dirigirem-se ao bar da escola, que se encontra num espaço compartilhado com a cantina, onde apenas existia uma única refeição. A mesma era, de acordo com Mónica Fonseca, “maioritariamente à volta de carne e fritos”. Como seria de esperar, isto levou a uma pior alimentação, por um custo maior, além de complicar a situação dos alunos que se encontram nesse regime. A presidente revelou que os protestos realizados no início da semana portaram os seus frutos.

Segundo a própria, depois desses protestos, os estudantes conseguiram uma reunião com os serviços da ação social do IPP e a presidência do politécnico. Esse encontro culminou num acordo entre ambas as partes. O mesmo resultou na confirmação das horas de fecho da cantina, que ficará então em funcionamento de forma definitiva na parte da noite, até às 20h30/21h, e disponibilizará agora aos alunos uma alternativa de peixe para além da de carne. Para beneficiar de uma refeição em horário noturno, será necessário fazer um pedido por marcação prévia, através da plataforma GiCant. Mais, será também aproveitado um espaço onde será disponibilizado um micro-ondas. “Era uma luta que se andava a arrastar há dois anos. Também resultou da pressão da comunicação social que conseguimos chegar a um acordo”, notou Mónica Fonseca.

Em resposta, Paulo Ferraz, dos órgãos de gestão do IPP defendeu a política do Instituto, afirmando que o espaço já se encontrava aberto no período noturno. Além disso, admitiu sujeitar o espaço comum de cantina e bar, muito apreciado pelos estudantes – e utilizados, segundo a presidente, como “espaço de convívio e até de estudo” – a uma remodelação da área a ser desenvolvida em conjunto com a AEESEP. Para já, essa remodelação irá incluir mais mesas e mais cadeiras.