Depois de na semana passada alguns estudantes da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e a associação de estudantes da Escola Superior de Educação do Porto (AEESEP) terem manifestado o seu desagrado face às condições das suas cantinas, esta semana a associação de estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (AEFLUP) está a organizar uma ação de protesto contra a falta de recursos da Biblioteca Central da faculdade de Letras.

A decisão, tomada em Assembleia Geral, foi anunciada na página do facebook da AEFLUP, no passado domingo dia 1 de novembro. Para reivindicar o que os estudantes consideram a falta de recursos e diminuição de financiamento da biblioteca, a associação de estudantes organizou duas ações a decorrer durante esta semana. A primeira ação está marcada já para esta segunda-feira, dia 2 de novembro, com a pintura, durante a tarde, “de uma faixa na zona da Anfiteatro Exterior” da faculdade. A segunda iniciativa prende-se com a entrega, na quarta-feira dia 4 de novembro, de um abaixo assinado, “que tem circulado nos últimos dias”, no balcão Biblioteca Central.

Para melhor perceber esta ação, o JPN esteve à conversa com André Silva, presidente da AEFLUP que considera a “falta de recursos humanos” como a grande questão de descontentamento. Essa falta de recursos humanos é manifestada, segundo os estudantes, com o horário de funcionamento da biblioteca. Ainda que, de acordo com André Silva, a biblioteca inicie a atividade logo pela 8h15, o facto de terminar por volta das 20h, acaba por não conseguir dar resposta a todos os alunos.”Há imensa gente como os trabalhadores estudantes ou pessoas deslocadas, que têm dias bastante preenchidos de aulas e muitas vezes só no final do dia de aulas, quando têm indicações bibliográficas ou quando têm algum tempo, é que podem ir à biblioteca, já não digo trabalhar, mas procurar as coisas de que necessitam e eventualmente requisitar”, indica o presidente da associação de estudantes.

Além disso, André Silva adianta que, ainda que o horário termine às oito da noite, “muitas vezes já está em modo de encerramento quinze minutos antes” ou até mesmo “com a porta para fechar”. O presidente da AEFLUP assegura que não é por falta de vontade das pessoas que trabalham na biblioteca, uma vez que “não podem fazer mais do que aquilo que lhes compete”, mas sim pela falta de recursos que a mesma apresenta. O estudante informa até que, aquando da sua entrada em Letras, há cinco anos, a biblioteca funcionava até às 21h e já teve informações que, numa altura anterior, teria funcionado até às 23h.

“Há dois anos a biblioteca fechou durante quase 3 semanas, precisamente antes de abrir a época de exames do primeiro semestre. E isso afeta diretamente o rendimento escolar de alguém que não tem outro sítio para estudar, de quem não tem outra forma de aceder às obras”, completa.

Esta questão e o facto de, de acordo com os estudantes, não serem disponibilizados exemplares das obras base das unidades curriculares principais, acabou por preocupar a AEFLUP e fazer com que fosse organizada esta ação de protesto. “Mais do que qualquer outra faculdade, a biblioteca é o nosso laboratório e se nos é restringido o acesso àquilo que é a nossa matéria prima, acabamos por sair prejudicados”, aponta André Silva.

Segundo o presidente da associação, a grande preocupação passa pela falta de exemplares bibliográficos essenciais. Numa unidade curricular com mais de 80 estudantes, apenas são disponibilizados, no máximo, três exemplares. Além disso, as questões legais da impressão das obras, bem como o facto de algumas serem já de edições antigas, acabam por agravar a situação. Ainda assim, André Silva sublinha a atitude da biblioteca que tem feitos os possíveis para assegurar as melhores condições. “A verdade é que é muito bom e é incrível que eles ainda se vão conseguindo atualizar, no geral, mas a parte básica da oferta deveria ser um pouco mais numerosa”, afirma.

O presidente da associação de estudantes de Letras indica que, a falta de recursos bibliográficos, acaba por afetar não só o rendimento escolar, bem como as relações de cooperação entre os estudantes, que chegam até a ver qual deles chega primeiro à biblioteca. “Há até uma competitividade até na forma como nós conseguimos arranjar a bibliografia, quase como se fosse um pequeno luxo que não deveria ser”, conta André Silva.

Para ver esta situação resolvida o mais depressa possível, a AEFLUP organizou uma ação de protesto para esta segunda-feira à tarde, bem como um abaixo assinado que conta já com cerca de 200 assinaturas, mas que André espera que se possam transformar em algumas centenas de forma a que “sejam consequentes”.

Contactada pelo JPN, a diretora da Faculdade de Letras mostrou desconhecer a ação de protesto e optou por não prestar declarações até à chegada do abaixo assinado à direção.