Na passada sexta-feira, dia 19 de novembro, debateu-se na biblioteca Almeida Garrett a igualdade de género. O frio encaminhou rapidamente os participantes à sala de leitura da biblioteca. O debate começou, por isso, às 18h30 em ponto. O calor e a conversa atraiu e fixou-os ávidos e interessados à cadeira até ao final.

A vice-presidente da Acesso Cultura – instituição organizadora dos debates como este “Igualdade de género: um (não) assunto no sector cultural?” – abriu as hostes da casa. Além de um balanço geral das discussões ocorridas até então, Inês Rodrigues anunciou orgulhosa a chegada dos mesmo a Évora. Foi feita, ainda, uma apresentação genérica de cada convidado, bem como das motivações do mote da conversa do dia.

Vânia Rodrigues, atual gestora cultural e assessora do projeto de teatro Mala-Voadora, assumiu a posição de moderadora do debate. Consciente das desigualdades geográficas e de acesso à cultura, Vânia, desde logo se demonstrou interessada em conhecer os dados relativamente à igualdade de género no meio em que trabalha. Pediu por isso, que os seus “colegas de cadeira” se apresentassem.

Ao seu lado direito estava José Rosinhas. Além de artista plástico, diretor artístico e mentor de um projeto em nome próprio, referiu ser voluntário na CERCIVAR e da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Deste modo, José defendeu o seu conhecimento e relação com as questões da desigualdade. Natália Rosmaninho seguiu-se. Designer de formação, encontra na educação, sobretudo, o seu espaço de trabalho. Alia as formações que obteve na Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) à sua profissão e revelou os preconceitos e estereótipos que há na produção de conteúdos para jovens.

Do lado esquerdo da moderadora, encontrava-se Rosa Oliveira. Rosa é técnica do CIG e trabalha metodologias para igualdade de género junto das autarquias nacionais. Por fim, Aida Suarez surge em representação do seu projeto – Livraria de Mulheres, no Porto. Justifica a sua presença, uma vez que o mundo editorial é, a seu ver, um mundo de homens. Assim, com o seu espaço, pertende dar visibilidade às autoras que surgem ou que não são tão conhecidas.

“Na produção não entram homens, na técnica não entram mulheres”

Passadas as apresentações, Vânia lançou a discussão. Guiados pela frase proferida pela moderadora sobre o teatro – “Na produção não entram homens, na técnica não entram mulheres” – os convidados debateram o ponto de situação da desigualdade entre os dois sexos no mundo da arte.

Desde logo, a palavra de Rosa Oliveira é muito solicitada, por estar tão perto do poder político. A técnica do CIG assegurou que há muita vontade de mudar, mas que existem ainda muitos obstáculos. “Nós temos a legislação mais avançada da Europa, mas a legislação não muda as mentalidades”, acrescentou.

Questionada pelos colegas sobre o que podem fazer os municípios nesta questão, Rosa referiu que o diagnóstico é a fase mais importante, uma vez que a cultura não é vista como uma prioridade. Mas, assim que este seja feito, devem-se definir estratégias de atuação. Entre elas, projetos como a Medida 21 que se propõe a dar visibilidade às mulheres que se evidenciam na área em discussão.

Aida Suarez, ainda sobre o “estado da arte”, disse que apesar de notar algumas melhorias, há ainda muito pela frente. A livreira opõe-se à frase geralmente proferida que distingue escritores em género. “Ao homem perguntam o que pensa, à mulher perguntam o que sente”, rematou. “Porquê? As mulheres não pensam?”, questionou aos presentes.

Natália Rosmaninho defendeu, que na sua área, o estereótipo é muito visível ainda. Aludiu ao uso de batas de cores diferentes para cada género – azul para os rapazes, rosa para as raparigas. Chamou, também, à atenção para a ínfima quantidade de homens a trabalhar junto de crianças. “99,999% são mulheres”, indicou. É notório que Natália enfatiza o papel que a educação tem no combate aos equívocos na luta pela igualdade. “Até mesmo inconscientemente marcamos as crianças que serão os adultos de amanhã”, finalizou.

José Rosinhas, assim que assume a palavra, considerou a quantidade de mulheres que conhece à frente de cargos na cultura. Explicou, no entanto, que os seus trabalhos são os de relações públicas, de produção e que na arte “a mulher ainda é o modelo e não a artista”, assumindo, contudo que, esta realidade está a ser alterada em diversos museus e galerias. Ainda assim, Rosinhas mostrou a sua desilusão no que respeita à evolução de direitos e tratamentos social. “Lamento dizer que desde os anos 70 até agora a única coisa que mudou foram as roupas e o penteado”, disse.

Vânia Rodrigues estendeu a discussão ao “menos tímido” da audiência e o público começou a participar no debate. Os participantes partilharam histórias de familiares e situações do quotidiano em que a desigualdade de género está ainda, nas suas opiniões, excessivamente latente no século XXI. A Acesso Cultura promete que os debates são para continuar, porém, com outra periodicidade. Inês Rodrigues anunciou que no próximo ano serão realizados quatro debates com data e local a anunciar.

Fotografia: Tatiana Carvalho

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