A rua de José Falcão, no centro do Porto, acordou hoje com novas cores, formas e uma forte mensagem. Ainda que o frio tenha chegado em força neste primeiro de dezembro, este não foi impedimento para os artistas continuarem o trabalho dos últimos dias. A manhã desta terça-feira foi a preparar o mural “Atitude”, afinando, aqui e ali, os últimos retoques.

O dia 1 de dezembro assinala o Dia Mundial da Luta Contra a Sida e a arte urbana foi o veículo escolhido para a intervenção. “Há dois ou três anos seria completamente impossível pensarmos que estaríamos aqui hoje”, nota GODMESS. Munido de luvas para suportar o frio da manhã, o artista vai pincelando o mural, já em construção há três dias. A mensagem é clara e é esse o propósito. Aos olhos de quem passa pela rua de José Falcão, perto da rua de Ceuta, as cores e as letras não deixam ninguém indiferente. Com o fundo em tons de vermelho e rosa, com as letras em amarelo, lê-se SUISIDA. “Quando me propuseram fazer este mural deram-me uma temática e alguns elementos que eram obrigatórios estarem integrados, como a palavra SIDA ou HIV, ou o uso do preservativo”, explica o autor do mural.

Mais uma vez, a Câmara Municipal do Porto (CMP) através da Porto Lazer e a Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra A Sida”, escolheram a arte para fazer passar a mensagem. Já no ano passado, Third tinha inaugurado, no mesmo espaço, uma mensagem que pretendiam alertar para o mesmo tema. E a verdade é que, as pessoas que por ali passam, param para ver, falar e perguntar. “Não acredito que vamos mudar o mundo todo, a própria Fundação tem feito muitas campanhas, mas sim, se conseguirmos mudar uma pessoa, já é trabalho conseguido”, indica GODMESS.

A ideia do mural é essa mesma: alertar e chamar a atenção. As cores escolhidas, apesar de propositadas, estão também muito relacionadas com o universo gráfico do artista. GODMESS utilizou uma palete de vermelhos para o fundo e de amarelos para as letras, “para dar a dualidade do que se passa atrás, do que está à frente e também enquadrar as formas mais gráficas e o texto”. Do lado esquerdo, as letras formam “Todos juntos podemos parar a SIDA”, frase de um mural do norte-americano Keith Haring, pintado em Barcelona, ao qual GODMESS teve acesso por um amigo.

Ainda que a frase tenha sido o condutor de toda a obra, a inspiração partiu também após uma pesquisa pelo artista. “Vi os relatórios dos anos anteriores e ainda existem cerca de 1000 novos casos por ano. Para mim foi assustador tentar perceber como é que nós continuamos a pôr em risco a nossa vida e a nossa saúde e a dos outros”, aponta.

Quem estiver atento ao fundo, percebe que há alguns mãos que surgem, bem como o laço característico da campanha contra o HIV. A inauguração da intervenção ocorre durante a tarde desta terça-feira e, por isso, os artistas vão terminando os pormenores, trocando de pincéis e de cores, conforme a área a ser finalizada. Os custos inerentes à pintura são da responsabilidade do município que, nas palavras do artista, tem estabelecido “uma colaboração muito estreita” com os artistas da arte urbana.

Certo é que este tipo de cultura tem aparecido, cada vez mais, nas paredes da cidade. De acordo com GODMESS o Porto está no bom caminho, mas “devagarinho as coisas chegam lá”. “Agora estamos a fazer isto, mas espero que para o próximo ano estejamos a pintar fachadas e edifícios. Mas tem sempre de se começar por algum lado”, indica. Na opinião do artista, a cidade está disposta a dar a conhecer o trabalho desenvolvido e já começa a investir nas obras realizadas, ao realizar iniciativas como o UP Street, o mercado urbano que aconteceu no fim de semana passado.

Além da Câmara do Porto e da Porto Lazer, que têm permitido não só a existência e realização de murais e exposições, como também de diversas atividades, já são alguns os espaços e projetos que dão lugar à arte urbana, como é o caso de algumas galerias como a Metamorfose ou o Circus Network. “Nós temos artistas com muita qualidade e aconteceu o que aconteceu no passado, mas acho que agora não precisamos de dar um passo maior do que a perna. Step by step vamos chegar lá”, afirma.

 

Fotografia: Sara Gerivaz

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