Torre dos Clérigos. Um lugar antigo e histórico de acessos complicados. Inicialmente a ideia até pode parecer difícil de realizar, mas sim, é possível levar a Torre dos Clérigos a todos.

Este desafio é o ACESSO.04, o quarto ponto do percurso desenvolvido pela Provedoria Municipal dos Cidadãos com Deficiência ao longo do último ano, que depois de ter dado a conhecer a ligação entre o desenho e o design com a inclusão social, propõe a este icónico lugar da cidade, a realização de mais um “acesso”.

O ACESSO.04 acontece numa data especial, dia 3 de dezembro, como forma de assinalar o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. Ainda assim, a próxima quinta-feira marca também um ano do início do projeto, iniciado a 3 de dezembro de 2014, com o ACESSO.01. Depois de ter abordado temáticas como a tecnologia, a educação ou o desenho, agora é a vez de aliar a cultura à inclusão social. 

O próprio palco desta iniciativa é peculiar. A Torre dos Clérigos, local de forte carga cultural e patrimonial para a cidade do Porto e para o país, recebe então este “acesso diferente”, nas palavras da arquiteta Lia Ferreira, Provedora Municipal dos Cidadãos com Deficiência. “A mensagem é muito simples. Nós podemos estender os limites da inclusão, ou seja, podemos esbater os limites daquilo que se considera ser impossível. Eu pretendo devolver a cidade ao cidadão, devolver a cidade às pessoas, e não apenas à pessoa com deficiência, porque todos somos potenciais pessoas com deficiência ou incapacidade, porque as mesmas surgem com o avanço da idade”, explica a arquiteta.

Na opinião da provedora, as cidades em geral são “pouco humanas”, muito viradas para os transportes, sendo que o cidadão ficou um pouco esquecido. “O património e a cultura são parte da cidade, parte do legado histórico e imaterial e tem de ser vivido e experimentado por todos”, aponta. Como forma de mostrar que tudo é possível – independentemente dos condicionalismo que possam surgir – o ACESSO 0.4 vai tornar a Torre dos Clérigos acessível a todos, sem exceção. Como?

Torre dos Clérigos para todos

“No ACESSO 0.4 nós vamos oferecer à cidade a Torre dos Clérigos. Nem todos podem subir à torre, mas vamos trazer a Torre às pessoas”, desvenda a arquiteta Lia Ferreira. Através de um projeto desenvolvido por um conjunto de entidades e arquitetos foi concebida uma estrutura de cortiça, com sete ecrãs onde vai ser possível “ver e ouvir, em tempo real, os 360.º graus à volta da torre”.

Esta novidade acontece no dia de quinta-feira, que promete debater, uma vez mais, a questão da acessibilidade, logo pela manhã, com um seminário no Salão Nobre às 9h30. Quem vai conduzir o momento é o jornalista Júlio Magalhães, que vai moderar uma conversa com os arquitetos responsáveis pelo projeto de acessibilidade do espaço. Entre os quais, Audemaro Rocha, do Instituto Politécnico do Porto (IPP), Edgar Nadais, da Amorim Isolamentos responsável pela construção da estrutura, João Pestana, da Câmara do Porto (CMP) responsável pelo desenho e ainda João Carlos Santos, arquiteto e autor do projeto de reabilitação da Igreja dos Clérigos.

“Esta estrutura foi totalmente oferecida à Câmara, a título gracioso pela Amorim Isolamentos que quis associar-se ao projeto e reveu aqui uma responsabilidade social válida”, dá a conhecer a provedora, indicando que a estrutura é de livre acesso a todos e totalmente gratuita.

Depois de um concerto na igreja, ao meio dia, a iniciativa volta logo às 14h30 com o ponto alto do programa: a inauguração da sala A+, Acessibilidade + e do percurso acessível aos Clérigos, que vai contar com a presença do presidente da autarquia, Rui Moreira.

Às 15h30 dá-se o final do ciclo de “acesso”, que vai reuniras diversas figuras do projeto, como o padre Américo Aguiar, presidente da Irmandade dos Clérigos, Dulce Marques de Almeida, vice presidente da Associação Regional de Proteção do Património Cultural e Natural (ARPPA), Pedro Teixeira, vice reitor da Universidade do Porto (UP), Rosário Gamboa, presidente do IPP e Carlos Manuel Oliveira, CEO da Amorim Isolamentos. Como não poderia deixar de ser, a provedora Lia Ferreira vai estar presente durante a iniciativa.

Ainda assim, as iniciativas da Provedoria Municipal dos Cidadãos com Deficiência não vão ficar por aqui. Fecha-se um ciclo de “acessos”, mas surgirão no futuro iniciativas “com outro nome e outro chapéu”, “áreas mais humanas” necessárias de serem exploradas.

Um ano de acessibilidade

Volvido um ano de “acessos”, Lia Ferreira explica ao JPN que cada um tinha o objetivo “levar à reflexão temáticas diferentes, mas todas sobre o mesmo chapéu, o chapéu da inclusão”, com formas de incluir e integrar a pessoa com deficiência. Estas formas, sempre realizadas a partir de um evento público, poderiam ser, por exemplo um seminário ou até mesmo uma exposição, como foi o caso do ACESSO O.3.

O primeiro “acesso” foi realizado no dia 3 de dezembro de 2014, uma data que a provedora considera “muito importante” e, por isso, “ideal para começar o ciclo”. A tecnologia foi a chave do ACESSO 0.1 que trouxe investigadores, empresas e associações a explorarem aquilo que é feito do ponto de vista académico, tendo em conta “a melhoria das condições de acessibilidade e orientação por parte de pessoas com deficiência”.

Depois deste primeiro momento, que procurou descobrir como é que se pode aumentar a “autonomia e independência de pessoas com fragilidade”, para que as próprias possam ter uma vida mais ativa e integrada, Lia Ferreira nota que já há frutos. “Já há vários protocolos de parcerias que foram assinados, quer por empresas com os investigadores, quer com autarquias com os mesmo investigadores porque desconheciam os projetos e, naquele momento, perceberam que aquilo fazia algum sentido e que poderia ter uma utilidade quando implementados”, indica. “É muito bom ver que serviu para alguma coisa”.

O ACESSO 0.2 foi dedicado à educação e pretendia “explorar a educação como forma de inclusão ou exclusão”, por se considerar que o momento da formação é determinante para avaliar esta característica social. “O que foi verificado é que nas faculdades que existem no sistema educativo atual, o aluno com deficiência que até consegue chegar ao 12.º ano, mas depois há uma grande fatia de desistências para o meio académico universitário. Porquê? Por falta de meios, por falta de adaptação das universidades, por falta de resposta às suas necessidades especiais”, explica.

Lia Ferreira considera que o Porto é já uma cidade bastante inclusiva, mas é importante continuar a batalhar para que isso seja ainda mais notório. “Eu enquanto provedora quero muito mais para a nossa cidade. Estes acessos serviram para envolver muitas entidades e quando envolvemos muitas entidades, conseguem-se algumas mudanças”, indica. Para além disso, lembra que o papel da Provedoria Municipal é esse mesmo, envolver e promover encontros.