Expeão é Rui Pina. Nascido em 1978, o rapper é uma das caras da banda Dealema, mas também é DJ e produtor. Expeão descreve-se como “alguém que relata a realidade e tenta ver as coisas de fora da sociedade. É aquele que saiu um bocado do paradigma, para ver as coisas um bocado de fora e pensar «O que há para além disto?»”.

Nunca pensou em escolher outra vertente da cultura hip hop. “Para dançar nunca tive jeito. Para pintar ainda pior. Só se fosse pinturas abstratas”, conta ao JPN, entre risos.

Foi nos anos 90 que tudo começou. Juntava-se com um grupo de amigos e “brincavam” a fazer música. “Tínhamos para aí 15 anos, não me lembro bem. Ligávamos para números da lista telefónica e depois dizíamos «olha, estamos aqui a ligar de uma rádio não sei quê e ganhou o prémio de ouvir uma música» e começávamos a tocar”, relata. Mas foi Fuse, outro membro do quinteto Dealema, que o levou para o mundo do hip hop. Mundo esse que Expeão insiste ligar às influências originais do rap metal e do punk.

O rapper cresceu no bairro da Providência e viu na música uma possível saída da realidade dura e de “caminhos mais obscuros”. Rui acrescenta, até, que foi a música que lhe trouxe “outro tipo de educação”. “Trouxe-me uma outra visão da vida e ajudou-me a seguir um caminho diferente, sem dúvida”, menciona.

Ainda assim, o bairro esteve sempre presente e marcou a sua entrada no mundo música. “É algo que está sempre dentro de ti porque no fundo é o sítio donde tu vieste e tem muita influência no que tu és. É o sítio onde tu nasceste”, explica.

A liberdade temática e a preocupação em fazer algo que realmente gostasse, independentemente de ser o que mais vende, sempre foi algo que o acompanhou, em parte por nunca ter “vivido” da música. “Eu nunca vivi da música, por isso sempre fiz aquilo que gosto. Por isso é que eu não quero saber aquilo que os outros pensam. Se depois as pessoas gostarem também, epá altamente. Também se toda a gente gostar, há qualquer coisa aí que não está a bater certo”, refere, soltando uma gargalhada.

A indústria musical

Expeão acredita que, hoje em dia, o marketing é a maior preocupação e que, na indústria musical, “o dinheiro fala mais alto”. A causa? Tal como afirma na música Real e Verdadeiro, os mecanismos adjacentes à cultura musical, como os promotores, “criam barreiras entre os artistas”. “Um artista até pode querer trabalhar com outro, mas depois há entraves, interesses económicos, que não permitem as coisas acontecerem de forma natural”, indica.

E é por causa do marketing que Rui pensa que tantas bandas surgem e acabam passado um ou dois anos. Ainda assim, e no caso do hip hop, acredita e espera que existam rappers que mantenham a “cena” real, “como um movimento rebelde, anti sistema”. No que diz respeito à aceitação por parte do público, o rapper acredita que o hip hop já começa a estar mais entranhado, ainda que alguns estigmas pressistam.

A palavra

Com o vento a aumentar e a tentar impedir a conversa, troca algumas impressões sobre a importância da palavra, que se imagina grande quando se é músico. Rui para pensar e, pouco a jeito, diz: “A importância da palavra…”. Volta a fazer uma pausa. O tema é complicado e profundo. “É algo mesmo muito forte porque consegues chegar às pessoas de uma forma bastante direta e é uma das formas de expressão mais fortes que realmente existe. Eu acho que é uma arte transformadora”, reflete.

Mas será que ele consegue imaginar o peso que tem nos seus ouvintes? “Eu não sei se tenho assim tanto peso na cultura. Nunca pensei realmente conseguirmos, neste caso com Dealema, influenciar assim tanta gente, claro que não. Na altura, pensava-se que era fazer música porque se gostava. Agora as pessoas ouvirem e se identificarem, nunca pensei. Nunca pensei que fosse assim, não, não imaginava”, confessa o rapper.

Depois de falar em marketing e em manter a cultura real, a conversa termina com uma afirmação obrigatória. O sucesso, para ele, não se mede em prémios. Expeão brinca desde o início. “Eu acho que se quiseres ter medalhas e prémios, isso é mais nos Jogos Olímpicos”, refere. “O meu prémio é quando alguém chega à minha beira e diz que a minha música influenciou a vida dele de forma positiva”. E essa sim, será sem dúvida a maior recompensa de todas.