Há cerca de 15 anos Alexandra veio para o Porto para estudar psicologia. Em 2005, ainda a acabar o curso, conseguiu o primeiro trabalho numa casa abrigo que apoia vítimas de violência doméstica. Começou a trabalhar como coordenadora de lar, uma monitora que tem de estar sempre presente na casa, para acolher quem chega.

Ainda que não trabalhasse diretamente como psicóloga, a associação tentava sempre, de acordo com Alexandra, que “quem estava lá a fazer esse serviço [coordenadoras de lar] fossem pessoas de psicologia, educação social ou serviço social, que têm outra formação e outras competências”.

Na casa abrigo, Xana – como habitualmente é conhecida -, esteve cerca de um ano. Só mais tarde, já depois de outros trabalhos, regressou como psicóloga até maio deste ano. “Fiquei muito contente na altura porque era a minha área de formação”, conta ao JPN.

Enquanto psicóloga, “fazia um pouco de tudo”, desde a integração das mulheres no mercado de trabalho, até às questões nos tribunais. Ainda assim, a rotina acabou por pesar e levou-a a questionar outras alternativas. “Eu já estava cansada porque é o tipo de trabalho que é muito desgastante emocionalmente, apesar de ser muito interessante”, explica.

Linhas, agulhas e uma pitada de criatividade

A verdade é que a costura de criança regressou à vida de Alexandra quando esta começou a trabalhar na associação. “Comecei a fazer como escape. Era terapêutico, acalmava-me, fazia-me relaxar e também para ter uma alternativa a um trabalho que era tão desgastante”, recorda.

Já nos tempos de infância gostava de fazer vários trabalhos manuais e de costura. “Uma lembrança que eu tenho de criança era ir a uma costureira, que havia lá na minha terra, buscar os retalhos. Ela dava-me o que tinha e eu adorava”, refere, acrescentando que poderá ter sido assim que tudo começou. Das pequenas roupas para as bonecas da infância criou um projeto ligado a agulhas e linhas, a XanaLana.

“Desde pequenina já havia alguma coisa que me dizia que eu gostava, com aquela ideia de fazer roupa para as bonecas, mas isso acho que começou a ganhar forma já enquanto estava a trabalhar”, indica. Com a máquina de costura começou a fazer uns bonecos com o que a mãe lhe ensinara em criança e peças em croché.

E o trabalho foi surgindo. A XanaLana tem desde golas, para quando “o frio aperta”, até aos porta chaves úteis a qualquer pessoa. As inspirações vêm um pouco de todo o lado desde a internet e feiras de artesanato, até aos pedidos das clientes. “As coisas que faço, faço sempre à minha maneira. Há coisas que me inspiram, mas gosto sempre de pôr o meu jeito”, aponta. As ideias para novos artigos são “mais do que o tempo” que tem disponível, principalmente agora que regressou à escola.

Há pequenos momentos que mudaram a vida de Alexandra, um deles foi numa retrosaria de Viseu, antes mesmo de ficar desempregada. “Eu lembro-me que fui lá comprar qualquer coisa, sempre comprei muitos tecidos e uma senhora disse-me lá na loja «Também está a fazer o curso de modista?»”.

E foi a partir desse momento que pensou: “isso é que era espetacular”. Lá arriscou e acabou por se inscrever num curso na Modatex. As primeiras peças que fez foram e são “um orgulho muito grande” e até compara a sensação de as criar, ao prazer que “de quando brincava em criança”.

As ideias para a XanaLana não param, principalmente no que toca a tudo que são artigos para crianças, onde pode brincar com as cores e padrões que tanto gosta. A costura e a psicologia unem-se num projeto futuro para a Xanalana, um ateliê. “A ideia mais para a frente será tentar, de alguma forma, juntar as duas áreas. Até trabalhar algumas competências com crianças que acho que a costura também permite”, conclui.