Inaugurada a 1 de dezembro, a Galeria Cruzes Canhoto veio trazer novidades à cidade do Porto. Situada na Rua Miguel Bombarda, esta nova galeria dedica-se à promoção das artes bruta, primitiva e popular. José Carlos Soares, do coletivo que abriu a galeria, revela ao JPN que este é um “projeto antigo, com uma dezena de anos que agora foi tornado possível”. O espaço “é simultaneamente uma galeria, uma loja e é quase um museu”. 

Um dos objetivos da galeria é dar a conhecer ao público estas artes. “Nenhuma delas é explorada. Não conheço nenhuma galeria dedicada a esta área”, declara José Carlos Soares.

As artes primitiva, bruta e popular têm três características em comum: “são feitas por autodidatas, criadas de forma espontânea e sem pressupostos comerciais à partida”, explica José Carlos Soares.

Na arte bruta, as peças são criadas, por vezes, devido a “necessidades terapêuticas ou por processos catárticos”. Na arte primitiva, as peças “fazem parte de rituais religiosos de cada tribo”. Quanto à arte popular, a sua variante mais conhecida é o artesanato, mas José Carlos Soares revela que as primeiras peças dos mestres desta arte não eram para ser comercializadas. “A arte popular surgiu por necessidade de expressão pessoal: sonhos, pesadelos, visões”.

Cada peça exposta na Cruzes Canhoto tem uma ficha técnica rigorosa. “Fazemos nós próprios a investigação e tentamos ser o mais corretos possível”, aponta José Carlos Soares.

A galeria é dirigida por um coletivo de pessoas. “Não é um projeto personalizado, é um projeto coletivo, trabalhamos em conjunto, uns fazem umas coisas, outros fazem outras“, conta José Carlos Soares. São estas pessoas que decidem sobre tudo o que diz respeito à galeria, desde a arquitetura do espaço à escolha das peças em exposição.  

Até 31 de janeiro está patente a exposição de arte bruta “O Senhor Cerqueira & The Artbreakers” que apresenta uma seleção de trabalhos produzidos nos ateliers de expressão plástica da Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Cascais (Cercica). José Carlos Soares afirma que “estes artistas têm competências incríveis”. 

A arte primitiva não está organizada em exposição, “são peças soltas e podem ser apreciadas individualmente”, explica José Carlos Soares. Na arte popular, há destaque para o figurado de Barcelos. A partir de março, a galeria quer ter uma exposição dedicada a cada arte.

A adesão do público “está a ser ótima e excede as expetativas em absoluto. Acompanhamos sempre as pessoas na sua visita pela galeria, damos a conhecer a exposição e contamos as histórias de cada peça”, assegura José Carlos Soares.

Projetos futuros

Na Galeria Cruzes Canhoto estão previstas para fevereiro duas exposições de máscaras. Uma vai ser dedicada ao cruzamento de máscaras primitivas africanas com máscaras do Norte de Portugal. A outra vai contar com máscaras criadas por 13 artistas convidados de arte contemporânea.

Outro dos objetivos do coletivo é a criação de um centro de estudos dedicado às artes bruta, popular e primitiva. A ideia é produzir documentos e estudos para publicação no site da galeria e possivelmente para posterior edição em texto com incidência fotográfica ou teórica. “É uma coisa que queremos criar para o futuro, porque há muito pouca informação, sobretudo em Português, relativa a estas artes”, conta José Carlos Soares. Por agora, são publicados no site textos de outros autores sobre a matéria.