Os estudantes da academia do Porto prestaram, esta segunda-feira, uma última homenagem ao professor, médico, cientista e antigo orfeonista Aureliano da Fonseca.

Junto à Igreja do Foco, onde decorreram as cerimónias fúnebres, algumas dezenas de jovens, convocados pelo Órfeão Universitário do Porto (OUP), juntaram-se para interpretar “Amores de Estudante”, o tango que se fez hino da academia e que foi composto por Aureliano da Fonseca em 1937.

O antigo estudante e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) faleceu na madrugada de sábado, aos 100 anos.

Entre os que o conheceram, deixa uma marca de vitalidade invulgar. Exerceu dermatologia até aos 97 anos. Era, à altura, o médico mais velho a exercer em Portugal. Aquele “quero, ser para sempre estudante”, verso do refrão da canção que compôs com Paulo Pombo, encontrou na sua visão da vida a melhor interpretação.

“Para mim, a velhice começa quando o indivíduo perdeu o interesse por saber”, declarou numa entrevista à Rádio Renascença. Para ele, não começou.

“Num dos últimos encontros que tive com ele e com familiares [de Aureliano da Fonseca], contavam-me que ele era o elemento da casa que tinha a tecnologia mais avançada. Isto é absolutamente notável”, nota Maria Amélia Ferreira, diretora da FMUP ao JPN.

Aureliano da Fonseca licenciou-se (1940) e doutorou-se (1964) na FMUP e foi lá professor entre 1955 e 1977. A relação com a instituição “intensificou-se” nos últimos anos. Uma aproximação que passou pela doação do espólio de fotografia do médico à faculdade onde foi responsável pela criação do serviço de Dermatologia.

“É uma perda, do ponto de vista físico, mas é alguém cujo espírito fica”, declara a responsável que recorda “a justa homenagem” que a FMUP prestou a Aureliano da Fonseca a 25 de fevereiro de 2015, data do seu aniversário e dia da FMUP.

A relação do médico com o OUP foi também de grande proximidade. Ainda em outubro, Aureliano da Fonseca marcou presença no Festival Internacional de Tunas Universitárias (FITU).

“Sempre teve uma relação muito próxima com o Orfeão. Foi com enorme tristeza que recebemos a notícia”, regista Tiago Vasconcelos, presidente do OUP, ao JPN. Logo na noite de sábado, o Grupo de Fado Académico do Orfeão e o Grupo de Fados de Medicina juntaram-se para uma serenata de homenagem junto à Sé do Porto. No velório participou o Coro Clássico do OUP.

“Vai ficar conhecido como um eterno estudante, um eterno jovem e é isso que vamos tentar passar aos atuais e futuros orfeonistas”, concluiu o orfeonista.