Partimos na viagem a reboque da pergunta que Pedro Portela colocou a si próprio e que orientou a sua tese de doutoramento: “De que forma é que a presença online das rádios em Portugal corresponde aos desejos dos seus ouvintes?”.

Para o saber, nada melhor do que abrir a via ao ouvinte, ao bom estilo da rádio, dando voz à audiência. “Foi um estudo aprofundado, que tentou perceber o que, da oferta interativa online, os utilizadores fazem uso, ao que é que não ligam nenhuma e, eventualmente, o que é que gostariam que as rádios oferecessem online que não estão a encontrar”, explica ao JPN o professor da Universidade do Minho e autor da tese.

Concluiu que “estamos numa fase embrionária da utilização da rádio online”. A boa notícia é que a internet não matou a estrela da rádio: “Há interesse, quem gosta de rádio ‘on air’, gosta e utiliza a rádio online, e esta serve de um modo complementar. Ou seja, quem gosta de rádio ouve mais rádio por via da internet, e complementa normalmente o que ouve nas ondas hertzianas com a informação que a sua estação preferida oferece online”, completa o investigador.

Mas nesta relação, as potenciaidades dos dois lados estão ainda muito por explorar. A rádio e o ouvinte “andam à procura um do outro”.

“É necessário ensinar a escuta”

A tese de Pedro Portela surge associada a um projeto mais vasto, desenvolvido por investigadores do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, financiado entre 2012 e 2015 pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, o Estação NET.

No seu âmbito foram desenvolvidos “outros estudos e experiências tendo sempre o meio sonoro como palco principal”, explica Portela. Por exemplo, a rádio foi à escola, primária, e saiu de lá com uma lição: “Concluímos que é necessário cada vez mais ensinar a escuta como uma competência fundamental”. Além do conhecimento, que não é pequeno legado, o Estação NET mantém-se vivo, em linha com o presente, num site que é um laboratório.

Chama-se Soundscopelab e reúne várias propostas, como a partilha de “sons em vias de extinção”. “O som do disco do telefone, da máquina de escrever, o som de uma desfolhada de milho… há coisas que nos trazem memórias e também por isso devem ser preservadas”, defende Pedro Portela.

O segredo da RUM

“Que dia é hoje? Dia 11? No dia 9, fez trinta anos que me estreei no meu primeiro programa de rádio”. Pedro Portela está “no ar” há muitos anos. Chegou à Rádio Universitária do Minho quando o projeto era ainda experimental, em 1988. Não mais saiu do “éter”.

A RUM é uma rádio adulta – com 25 anos feitos – e com público. Para o autor d’”O Domínio dos Deuses” o segredo do projeto são “as pessoas”. “São sempre as pessoas, que se deixaram apaixonar por uma forma diferente de fazer rádio, sem ser em piloto-automático. Creio que é isso. E há um corpo de pessoas que têm sabido reanimar o espírito de fazer uma rádio que não se conforma com formatos, com modos automáticos de fazer rádio”.

A rádio, não o esconde, é uma paixão. “Gosto da individualidade da rádio. Gosto dessa liberdade que a rádio me dá de projetar o que eu entendo, a partir do que ouço”, descreve ao JPN. Mesmo numa altura em que “a rádio é um bocado maltratada por quem a faz”, desabafa.

“A rádio deixou de investir naquilo que é a sua principal matéria-prima, que é o som. E como preferiu, na generalidade, caminhos de enlatados, de pronto-a-servir, perdeu aquilo que é a sua força maior, que é a capacidade de chegar às pessoas, de ser íntima com as pessoas”, conclui Pedro Portela.