Um “podcast” é feito de pessoas e de vontades. E “O Corpo é que Paga” não é exceção. Afonso Ré Lau e Isadora Faustino são as vozes do “Corpo” e convidam, todas as semanas, os seus ouvintes a “abanar o capacete ao som da música portuguesa”.

E fazem-no de uma maneira peculiar, imprimindo no programa um cunho muito próprio. O humor e a descontração são os pontos-chave do “podcast”, que leva artistas e bandas nacionais à conversa, intercalada com uma “playlist” escolhida conforme o gosto dos autores.

“Às vezes explicar isto não é muito fácil, mas o nosso critério é mesmo o nosso gosto pessoal. Isto não é falta de critério, o nosso critério é mesmo este”, esclarece Afonso. “O Corpo é que Paga” é um programa de rádio pensado para a Internet e, por isso, é alimentado com conteúdos diversos.

Desde a atualização permanente das redes sociais ao vídeo e à fotografia, o “podcast” pretende ser diversificado para atingir o público que navega “online”. “É um ‘podcast’, tudo bem, mas estando na internet quisemos que fosse mais do que só o ‘podcast’”, explica Afonso ao JPN.

Um ano de “Corpo” a sério

Há um ano que “O Corpo é que Paga” dá a conhecer bandas, artistas, editoras, músicas e eventos de forma regular. Já a ideia surgiu em 2012, em contexto académico. Na altura, Afonso e Diogo de Oliveira frequentavam a licenciatura em Ciências da Comunicação (CC) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e decidiram que a música portuguesa deveria ter lugar na “web-rádio” do curso.

Após um tempo “esquecido”, em fevereiro do ano passado uma colega de curso propôs à dupla reativar o “podcast” para que fosse transmitido em Cabo Verde. Ana Isabel Carvalho era programadora da rádio comunitária Voz de Bubista e lançou o desafio de passar em FM “O Corpo é que Paga”, noutro continente.

E foi aí que Isadora, também colega de CC, começou a dar voz ao programa. O “Corpo” voltou ao ativo com uma edição renovada, de uma hora e periodicidade quinzenal. A equipa ficou completa apenas em outubro de 2015 com a entrada de Daniel Cerejo, o principal responsável por uma das marcas fortes do “podcast”: a imagem, característica e personalizada.

Com um ano de programa a sério, foi preciso limar arestas. O programa foi reduzido a meia-hora e passou a ser semanal. A justificação é a adaptação ao meio onde vivem, a Internet. “Achámos que era muito tempo para a Internet, as pessoas não têm paciência para estar uma hora a ouvir um programa”, refere Isadora.

Outra das mudanças foi a plataforma que utilizam para divulgar o trabalho. “O Corpo” passou para o iTunes e tem estado no topo dos “rankings” dos “podcast” mais ouvidos. Por todo o lado chegam reações positivas ao programa.

A mais surpreendente foi o convite para apresentarem o “podcast” nas FNAC de Coimbra e Leiria, no dia 13 de fevereiro, Dia Mundial da Rádio. “Eu acho que eles devem ter um leque gigante de pessoas ligadas à rádio que podiam ter na FNAC e convidarem-nos foi realmente um reconhecimento grande do nosso trabalho e ficamos realmente contentes com isso”, nota Isadora.

Um olhar sobre as dificuldades e o futuro

“O Corpo é que Paga” é um “podcast” e, por isso, é na Internet que ganha os ouvintes e se adapta ao meio. O único ganho é o pessoal e, por isso, nem sempre é fácil lidar com a falta de apoio monetário.

“Apesar do último ano, 2015, ter sido um ‘boom’ dos ‘podcasts’ independentes, ainda há muito para fazer. E os eventuais patrocinadores só se chegarão à frente quando tiverem garantias de retorno e nós, ‘podcasters’, só podemos dar essas garantias se mais pessoas ouvirem ‘podcasts’, se tiverem uma fidelidade acentuada nas subscrições e nas audições”, indica Afonso.

A gestão semanal também nem sempre é fácil, uma vez que há contactos para fazer, entrevistas e textos para preparar. O “Corpo” é gravado no Porto, mas os autores são de diferentes cidades. O que os move é o carinho pelo projeto.

“É uma coisa que nos tem saído muito do corpo. Literalmente. O programa não ganhou este nome por estas razões, mas realmente faz muito jus ao nome”, confessa Afonso. O caráter do programa é algo que não dispensam e garantem: só poderia mesmo ser feito pelas pessoas que o compõem.

Para o futuro é preciso que o “Corpo” não acabe. Esta é a maior vontade dos autores que não colocam de parte a ideia de ir para a rádio. A condição é que a essência se mantenha porque é realmente isso que faz a diferença. Afinal é isso que confere ao “podcast” a sua identidade.