A União Europeia tem dificuldades em criar consensos em relação à forma de gerir a situação dos refugiados e em estruturar um plano de ação para o seu acolhimento. Ângelo Merayo, do Conselho Português para os Refugiados (CPR), sustenta que as autoridades europeias têm recebido “estas pessoas de forma catastrófica, como mercadoria”.

Num debate, organizado pela Acesso Cultura, esta segunda-feira, o membro do CPR sublinhou as dificuldades da integração dos refugiados nos distritos para onde são encaminhados, após serem sinalizados pela Segurança Social. Segundo Ângelo Merayo, não existem estruturas de apoio suficientes, uma vez que o CPR só existe em Lisboa. Fora deste centro, as opções são limitadas, por exemplo, na aprendizagem da língua portuguesa, um elemento “fundamental para a integração cultural”.

O debate “‘Nós’ e os ‘Outros’: A cultura na crise dos refugiados”, que teve lugar no Museu Soares dos Reis, fez-se em torno do papel da cultura para esta população. Na visão de Luís Monteiro, que está a desenvolver uma tese sobre o papel dos museus nos conflitos armados, os espaços museológicos e os projetos artísticos podem ser uma ajuda à integração cultural dos refugiados, uma vez que representam uma “porta aberta ou escola não formal para integrar as pessoas nas cidades”.

Luís Monteiro, que é também deputado à Assembleia da República, acredita que, apesar de existir uma dificuldade em relacionar culturas, é importante perceber que “as pessoas que chegam não têm que assimilar totalmente a cultura [do país de acolhimento]”.

Em Portugal “não há uma invasão síria”

Na atual crise de refugiados, é de sírios, sobretudo, que se fala. Mas, segundo Ângelo Merayo, em Portugal “não há uma invasão síria”. O número de refugiados desta nacionalidade recebidos em Portugal é nulo, de acordo com o membro CPR. A maior parte dos refugiados é africana ou ucraniana. “A Ucrânia tem laços com Portugal devido às comunidades ucranianas de imigrantes, que se foram instalando [no país]”, explica.

Além de Ângelo Merayo e de Luís Monteiro, o debate contou também com a presença de Jorge Oliveira, do Espaço T, Margarida Correia, do Museu Nacional de Soares dos Reis e de Joana Macedo, professora e coordenadora de projetos de mediação e programação cultural.

A Acesso Cultura volta a organizar um novo encontro em abril sobre um tema ainda a divulgar.

Artigo editado por Filipa Silva