O Instituto Politécnico do Porto (IPP) aprovou, no dia 10 de fevereiro, uma proposta de reestruturação. Desde essa data que as associações de estudantes no Politécnico se têm manifestado quanto às mudanças que as suas escolas vão sofrer.

A escola a sofrer mais alterações é a Escola Superior de Estudos Industriais e Gestão (ESEIG). Para além de ser transformada em dois novos pólos, vê alguns dos seus cursos a serem transferidos para o Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) e para o Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto (ISCAP).

Apesar de considerar a reestruturação “vantajosa”, o presidente da Associação de ESEIG (AEESEIG) teme, acima de tudo, que “a marca ESEIG se perca”. Diogo Peixoto não compreende o porquê da escola ser a única a “perder a sua identidade”. “A marca ESEIG levou 26 anos a construir e irá desaparecer com a reestruturação. Estávamos a ganhar mérito no mercado de trabalho, nomeadamente em empresas na zona de Vila do Conde, e vemos esse trabalho ir por água abaixo”, descreve.

Contactado pelo JPN, o Politécnico assegura que “a Câmara de Vila do Conde e da Póvoa estiveram presentes em todo o processo e concordaram com ele”, pelo que “esta reforma permitirá uma melhor adaptação ao novo mercado de trabalho e à realidade dos dias de hoje”.

Mas esta não é a única contrapartida apontada pela AEESEIG. Diogo salienta a preocupação dos antigos alunos, que “temem que as suas licenciaturas percam validade” na hora de concorrer a um emprego, uma vez que “a instituição ESEIG deixará de existir”. “O IPP quer fazer chegar às empresas que a reestruturação foi feita, no entanto é complicado informar toda a gente do que aconteceu à EISEG e os alunos estão indignados”, defende Diogo.

A indignação dos antigos alunos gerou até uma petição que apela à presidente do Politécnico, Rosário Gambôa, repense a decisão tomada. Esta é uma questão que o IPP não compreende, uma vez que “mais do que uma licenciatura do ESEIG, os alunos apresentam uma licenciatura do IPP, que será sempre reconhecida”.

A questão dos transportes é outro problema apresentado pela AEESEIG. Os alunos que serão transferidos para o ISCAP, por exemplo, passam a percorrer uma distância de 30 quilómetros para lá chegar. Uma contrapartida que “pode acarretar custos extra” que Diogo Peixoto espera ver cobertos pelo IPP com bolsas de apoio.

“Não podemos querer organizar o Ensino Superior sem organizar o IPP”

Tiago Oliveira, presidente da Associação de Estudantes do ISCAP (AEISCAP), compreende a preocupação dos colegas da ESEIG, mas considera fundamental que se pense “nos estudantes e não na instituição”. O presidente vê a reestruturação como algo “favorável”, uma vez que vai “permitir um ensino de excelência” e “acabar com algumas duplicações de cursos”.

A concentração dos cursos numa só instituição consoante o conteúdo dos mesmos é algo que “faz todo o sentido” para o presidente da Associação de Estudantes do ISEP (AEISEP). José Diogo Pimentel considera “extremamente positivo” para o ISEP poder “agregar todos os cursos de engenharia”, passando a haver “maior oferta” e “melhor aproveitamento dos recursos”. Tal como a AEISCAP, José Diogo mostra-se solidário com as preocupações da ESEIG, no entanto considera “essencial” que “depositem confiança no IPP”.

A presidente da Associação de Estudantes da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto (ESTSP), Bianca Silva, está de acordo com o colega. “Não podemos querer organizar o Ensino Superior sem organizar o IPP. Compreendo que os alunos da ESEIG sejam os mais afetados e estamos solidários com as suas preocupações, mas esta reestruturação era necessária e se for bem implementada será vantajosa para o Instituto”, explica a estudante.

A posição da FAP

Também Daniel Freitas, presidente da Federação Académica do Porto (FAP), considera que “a reestruturação vai permitir ao IPP arrumar a casa”. “Em termos de organização, a reestruturação é positiva e faz sentido, uma vez que os cursos de engenharia passarão a estar todos no ISEP, os de contabilidade todos no ISCAP, e assim sucessivamente. É também uma reforma corajosa porque envolve muita gente e questões muito sensíveis”, considera.

Ainda assim, a Federação reuniu com as associações de estudantes para perceber as suas reivindicações e de que forma a transição dos alunos deve ser feita. O pedido é que pelo menos três estudantes integrem as comissões de acompanhamento criadas pelo Politécnico para o efeito, sendo que os restantes membros ficam à responsabilidade do instituto.

Devem ainda “iniciar as suas reuniões de trabalho até ao dia 1 de março”, sendo que “o trabalho de análise, estruturação e definição da mudança dos cursos” deve estar pronto até ao dia 30 de abril. As propostas foram enviadas a Rosário Gambôa e Daniel espera que “o IPP respeite os estudantes” e cumpra estas propostas.

Segundo o que o JPN apurou, o IPP pretende incluir nas comissões um representante dos Estudantes do Ciclo de Estudos em transição e representante das Associações de Estudantes. Algo que de momento não vai ao encontro do pedido dos estudantes, mas que poderá sofrer alterações consoante as reuniões previstas com as AE’s, a realizar na próxima semana.

 

Artigo editado por Sara Gerivaz