A semana de receção aos alunos Erasmus arrancou com um churrasco de boas-vindas numa das esplanadas mais singulares do Porto: o Guindalense. O JPN acompanhou o primeiro convívios dos estudantes.

Vista privilegiada sobre o Douro, comida típica portuguesa e convívio ao pôr do sol. Foi este o cenário escolhido para receber os alunos do segundo semestre que acabaram de chegar à Invicta. O ponteiro marcava as 17h, quando os primeiros estudantes Erasmus desciam a escadaria do Guindalense. No amplo terraço, com vista para a ponte D.Luís I, já começavam os preparativos para a festa.

Ao lado, o Funicular dos Guindais fazia a delícia dos turistas que, ocasionalmente, acenavam à crescente multidão. Não foram poucas as vezes em que o JPN ouviu elogios à paisagem em língua inglesa. À medida que o sol se punha, os constrangimentos iniciais, foram dando lugar a conversas espontâneas, a sorrisos e a muita animação.

Retratos da mobilidade

Encantado estava Jaejin Kim, sul-coreano de 25 anos, que se encontrava no topo das escadas a apreciar o lugar com uma cerveja portuguesa. “Quero aprender português, é a minha prioridade” conta, mostrando-se também interessado, em partilhar com os amigos europeus, a cultura do seu país. Ao lado estava Lídia Kim, conterrânea de Jaejin, estudante de Arquitetura e fã incondicional de Álvaro Siza Vieira. “Esta é a cidade do famoso arquitecto, eu gosto muito dele. Foi uma boa oportunidade”, conta a aluna de 22 anos.

No final do programa de mobilidade, Lídia ambiciona encontrar um trabalho, na sua área, em Portugal. Mas porquê a escolha do Porto como cidade de intercâmbio? “Portugal, e em especial o Porto, não é tão famoso como outras cidades europeias como Londres ou Paris, mas eu quis experimentar algo novo, que os outros coreanos normalmente não experienciam”, explica Jaejin, estudante de Economia .

Já para Cassie e Jessica, ambas luxemburguesas, a procura de algo novo não foi o que pesou na decisão de vir para Portugal. “Eu fazia questão de vir para Portugal. Já que tinha de sair do Luxemburgo, ao menos vinha para um país com a minha língua” explica Jessica. Cassie conta com a ajuda da avó, que vive no Porto. Fluentes em português, as jovens de 21 anos do curso de Gestão esperam “passar a todas as cadeiras” e conhecer várias cidades portuguesas, com muita diversão pelo meio.

Também em português, o JPN conversou com Rodrigo de Moura, estudante de Línguas, Literaturas e Culturas. “Amo o Porto já”, conta com entusiasmo o brasileiro. “As expectativas são bem positivas em relação à Universidade, uma vez que é muito organizado e bem estruturado”, elogia. O aluno já frequentou algumas aulas e a primeira impressão é muito positiva. “Os professores são bons e os colegas de turma também são bem interessantes e vêm de várias regiões do mundo”, descreve o jovem de 19 anos.

Uma rede de novidades

A semana de receção, que se iniciou na quinta-feira, conta com várias atividades. Os alunos estrangeiros terão a oportunidade de provar a famosa francesinha, de visitar a Casa da Música e a Fundação de Serralves. Para os mais aventureiros, a ESN convida a surfar na praia de Matosinhos.

A lista é grande, mas há sempre experiências que se destacam, como é o caso da Noite Portuguesa. “É o nosso evento mais conhecido”, explica Rita, dirigente da ESN Porto. Com muita comida típica, desde pastéis de nata a chouriços e bolos, a noite é de abrir o apetite. Mas não só de comida se trata, conta a vice-presidente da ESN: “Temos a parte musical com Tunas Académicas, normalmente a TAFDUP, Pauliteiros de Miranda e Fado. Costumamos ter cerca de 400 pessoas”.

ESN Porto: a organização

Estudante na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), Rita fez um semestre na Bulgária e quando voltou, em fevereiro de 2014, associou-se à ESN. Dois anos volvidos, analisou o trabalho da ESN Porto na integração de alunos de mobilidade. Com uma vasta tradição de receção a Erasmus, a cidade do Porto é já amplamente conhecida por alunos europeus, e não só. “Apesar de se chamar Erasmus Student Network acabamos por receber todos os alunos de mobilidade”, conta Rita.

Quando falamos de Erasmus, as estatísticas são escassas, mas a representante da ESN Porto revela que todos os anos recebem mais alunos. “Em Dezembro já tínhamos feito 1500 cartões da ESN Porto, ainda nem tinha começado o segundo semestre”, garante. As origens são cada vez mais diversas, no entanto, os alunos brasileiros são os líderes destacados da mobilidade no Porto, seguidos de espanhóis, polacos e italianos. Na sua maioria, os alunos vêm um semestre.

Intercâmbio solidário

É natural que se associe Erasmus a viagens, festas e diversão. No entanto, o apoio académico e social é uma prioridade para a ESN Internacional e para o Porto em particular. Prova disso é o projeto SocialErasmus, que pretende juntar os Erasmus e ajudar a cidade. Duas semanas ao longo do ano, uma na primavera e outra no outono, são exclusivamente dedicadas a atividades de cariz social.

Em parceria com o Centro de Apoio ao Sem Abrigo (CASA), os estudantes fazem voluntariado, apoiam os sem-abrigo e promovem questões ambientais. “O semestre passado plantámos árvores com os Erasmus”, reforça Rita. O programa social da ESN Porto ainda se estende para as causas da acessibilidade: o ExchangeAbility que monitoriza e promove a acessibilidade para deficientes físicos e mentais nos programas de mobilidade e a Moving Europe, projeto de divulgação dentro da comunidade portuguesa das oportunidades de intercâmbio existentes.

Em janeiro último, o Jornal de Notícias reportou a detenção de dois jovens que assaltavam alunos de Erasmus com recurso a violência. Confrontada com o caso, Rita desvaloriza o que vê como um incidente isolado. “Sim, aconteceu realmente uma situação delicada o ano passado e aí tivemos algumas queixas dos Erasmus, que tinham medo de andar à noite no Porto. Mas não achamos que a violência seja destinada a eles, é perigoso para eles, como é perigoso para as pessoas do Porto. Mas em geral, o Porto é uma cidade bastante segura”, esclarece a dirigente.

Por fim, Rita revela uma das poucas, mas transversais queixas dos estudantes de mobilidade: as aulas em português. Com a frequência obrigatória de uma grande parte das aulas lecionadas na Universidade do Porto, a língua é muitas vezes um impedimento ao bom aproveitamento:“Por um lado é bom, porque eles acabam por aprender a língua, mais do que noutros países onde há aulas em inglês”. Afinal, que melhor lição retirar de uma estadia em Portugal do que o desenrascanço tão típico dos portugueses?

Artigo editado por Sara Gerivaz